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Sobre Antonio Miranda
 
 


 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 




FLÁVIO OTÁVIO FERREIRA

 

 

Nasceu em 20 de outubro de 1980, belavistense nato, apesar de ter nascido em
João Monlevade, Minas Gerais. É Acadêmico do Curso de Letras pelo Centro
Universitário de Araxá, possui poesias publicadas em vários livros-antologias.

 

Em 2005 lançou seu livro de estréia, “Cata-ventos, o destino de uma Poesia”,
na Bienal do Livro do Rio de Janeiro. Livro publicado pelo selo Kroart/Litteris
Editora do Rio de Janeiro. Em Agosto de 2007, foi contemplado com a segunda
colocação no “I Prêmio Solar de Literatura – João Monlevade 43 Anos”
com o texto: “Poema Insano”.

 

Publica eventualmente no blog: http://flaviooffer.blogspot.com

 

                                                                                                     

Homem industrial

 

Jardins metálicos

estruturas industriais

que se espalham

na verde mata.

Homens que somam,

que se somam

na escuridão da noite

no clarão da aurora.

Corpos que vão

e vêm.

Passos trôpegos

passos cansados

passos apressados.

Homens que são homens

caminhando nas matas

entre máquinas

e flores natimortas.

Os olhares se cruzam,

se reconhecem,

num mesmo mundo,

numa mesma vida

vivida a só,

somente um

entre todos

e, nada além de um.

Os jardins florescem na primavera

e já é outono nestes nossos tempos.

As cinza dos dias nos vêm às mãos!

 

 

Insônia

 

Eu vou levando a vida

até a última gota

até o último gole

dessa cachaça amarga.

Vou a desagrado

aos sonhos de outrem

aos meus próprios

moldando-me nesta amálgama.

Vou transbordando incoerência

fadiga e insônia

em conflitos tão meus!

Não canto nenhum canto

que encante quem ouve,

embora grite bem alto

para que as estruturas metálicas

percam a frialdade

e não mais me envolvam

de poeira e pó e fuligens.

Vou entediado e sem remédio

para elevar o ânimo;

para descobrir caminhos,

para transformar espinhos em sonhos.

Vou pequeno quando grande

sou maior que o mundo

e menor que o coração palpitante

de um recém-nascido;

vou prosseguindo em minhas algemas,

desconstruindo e destransformando.

Sou singular e assim prossigo

numa pluralidade descontente;

só preciso de uma nota musical

para definir minha canção.

E, alguém diz friamente:

- Tenha dó!

 

 

Progresso

 

constelações cintilam

rente ao chão

longe do céu

inferno urbano

imensas estruturas

se erguem

verticalmente

sufocando

o grande batalhão

de gente

caminham

em todas as direções

num ritmo

alucinado

dividindo espaço

com carros

ônibus

out doors

placas luminosas

no meio deles

algum ser solitário

caminha

buscando horizontes

inatingíveis

alcança-o

no verso que escreve

ali sentado

a beira do meio-fio

do outro lado

da cidade

casas se aglomeram

encosta acima

pincelando

uma nova cor

na metrópole

que se desfaz

num tom acinzentado

entorpecido

pela fumaça

industrial

o progresso é obtuso.

 

 

Fragmentos da Revolução

 

Lia os “Últimos Poemas” de Neruda

O quarto ao lado sussurrava revoluções.

 

Deixei minha flâmula atrás da porta;

lavei as mãos sujas de sangue

recolhendo-me à rotina.

 

Hoje a poeira e a fumaça industrial

tomam conta de meus ideais,

não conheço os homens;

me desconstruo.

Minha criatividade se perde

entre as estruturas metálicas

que se ergueram dia-a-dia.

 

Vou comendo o pão envelhecido

acompanhado de uma “Coca” em lata

que comprei mecanicamente;

é como o óleo que lubrifica

as máquinas.

Vou seguindo robotizado

de cabeça baixa.

Vou matando em meu íntimo

os resquícios da poesia existente,

as leituras de poemas

vão ficando cansativas.

Prossigo insatisfeito em padrões

disformes,

metido em uniformes indigestos.

 

Olho para a porta da Fábrica

sonhando descavernar-me,

desalienar-me.

Lá fora homens murmuram

frases prontas

que definem este meu olhar

como insano;

vou me perdendo

me prendendo

à certeza de me perder.

Volto aos Poemas de Neruda

desavisado

não o creio comunista.

O quarto ao lado se cala,

acostumou-se ao sistema! 

 

Página publicada em janeiro de 2008. Preparada por Cássio (Marcos) Amaral.



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