FLÁVIO OTÁVIO FERREIRA
Nasceu em 20 de outubro de 1980, belavistense nato, apesar de ter nascido em
João Monlevade, Minas Gerais. É Acadêmico do Curso de Letras pelo Centro
Universitário de Araxá, possui poesias publicadas em vários livros-antologias.
Em 2005 lançou seu livro de estréia, “Cata-ventos, o destino de uma Poesia”,
na Bienal do Livro do Rio de Janeiro. Livro publicado pelo selo Kroart/Litteris
Editora do Rio de Janeiro. Em Agosto de 2007, foi contemplado com a segunda
colocação no “I Prêmio Solar de Literatura – João Monlevade 43 Anos”
com o texto: “Poema Insano”.
Publica eventualmente no blog: http://flaviooffer.blogspot.com
Homem industrial
Jardins metálicos
estruturas industriais
que se espalham
na verde mata.
Homens que somam,
que se somam
na escuridão da noite
no clarão da aurora.
Corpos que vão
e vêm.
Passos trôpegos
passos cansados
passos apressados.
Homens que são homens
caminhando nas matas
entre máquinas
e flores natimortas.
Os olhares se cruzam,
se reconhecem,
num mesmo mundo,
numa mesma vida
vivida a só,
somente um
entre todos
e, nada além de um.
Os jardins florescem na primavera
e já é outono nestes nossos tempos.
As cinza dos dias nos vêm às mãos!
Insônia
Eu vou levando a vida
até a última gota
até o último gole
dessa cachaça amarga.
Vou a desagrado
aos sonhos de outrem
aos meus próprios
moldando-me nesta amálgama.
Vou transbordando incoerência
fadiga e insônia
em conflitos tão meus!
Não canto nenhum canto
que encante quem ouve,
embora grite bem alto
para que as estruturas metálicas
percam a frialdade
e não mais me envolvam
de poeira e pó e fuligens.
Vou entediado e sem remédio
para elevar o ânimo;
para descobrir caminhos,
para transformar espinhos em sonhos.
Vou pequeno quando grande
sou maior que o mundo
e menor que o coração palpitante
de um recém-nascido;
vou prosseguindo em minhas algemas,
desconstruindo e destransformando.
Sou singular e assim prossigo
numa pluralidade descontente;
só preciso de uma nota musical
para definir minha canção.
E, alguém diz friamente:
- Tenha dó!
Progresso
constelações cintilam
rente ao chão
longe do céu
inferno urbano
imensas estruturas
se erguem
verticalmente
sufocando
o grande batalhão
de gente
caminham
em todas as direções
num ritmo
alucinado
dividindo espaço
com carros
ônibus
out doors
placas luminosas
no meio deles
algum ser solitário
caminha
buscando horizontes
inatingíveis
alcança-o
no verso que escreve
ali sentado
a beira do meio-fio
do outro lado
da cidade
casas se aglomeram
encosta acima
pincelando
uma nova cor
na metrópole
que se desfaz
num tom acinzentado
entorpecido
pela fumaça
industrial
o progresso é obtuso.
Fragmentos da Revolução
Lia os “Últimos Poemas” de Neruda
O quarto ao lado sussurrava revoluções.
Deixei minha flâmula atrás da porta;
lavei as mãos sujas de sangue
recolhendo-me à rotina.
Hoje a poeira e a fumaça industrial
tomam conta de meus ideais,
não conheço os homens;
me desconstruo.
Minha criatividade se perde
entre as estruturas metálicas
que se ergueram dia-a-dia.
Vou comendo o pão envelhecido
acompanhado de uma “Coca” em lata
que comprei mecanicamente;
é como o óleo que lubrifica
as máquinas.
Vou seguindo robotizado
de cabeça baixa.
Vou matando em meu íntimo
os resquícios da poesia existente,
as leituras de poemas
vão ficando cansativas.
Prossigo insatisfeito em padrões
disformes,
metido em uniformes indigestos.
Olho para a porta da Fábrica
sonhando descavernar-me,
desalienar-me.
Lá fora homens murmuram
frases prontas
que definem este meu olhar
como insano;
vou me perdendo
me prendendo
à certeza de me perder.
Volto aos Poemas de Neruda
desavisado
não o creio comunista.
O quarto ao lado se cala,
acostumou-se ao sistema!
Página publicada em janeiro de 2008. Preparada por Cássio (Marcos) Amaral. |