FLÁVIO OFFER
Flávio Offer nasceu em 20 de outubro de 1980, em João Monlevade, Minas Gerais. É graduado em Letras. Publicou os livros: "Cata-ventos, o destino de uma poesia" e "Itinerário Fragmentado". Pode ser lido nos blogues
Misantropia - http://flaviooffer.blogspot.com/
Manufatura - http://manufatura.blogspot.com/
Poema Dia - http://poemadia.blogspot.com/ e, ainda, via
TWitter - https://twitter,com/Flaviooffer
Breviário di'versos
1.
quero a palavra disforme
análoga à forma das nuvens
prenúncio de coisas tardias
vazio sem nome -
buraco negro a engolir estrelas.
quero o verso vazio
poesia de coisa nenhuma
silêncio em seu contrário
vazio sem nome -
Sputntk a vagar no espaço.
quero o regresso à terra
o abraço do solo escuro
anúncio cie coisas inúteis
vazio sem nome
Morte a engolir a vida.
2.
pardals a piar na pia
o fogo a consumir os ninhos
o sino exaurido na torre
anunciando o luto
sobras de farelo no turvo deserto
o homem alheio
escravo do nada
cravado na areia e fome
o homem sem nome
derradeiro estado de coisa
3.
figuras fictícias prefiguradas
fina estampa
letras garrafais a esculpir desejos
a propaganda é sem alma
(o negócio)
onde há espaço invadimos
o único preço é a fuga
talvez a ilusão de um quase
permanente
4.
decresço na crença
o corpo é um trapo combalido
o bolso é um rasgo de vinténs
a alma
desgraça de improviso
no abraço
em gritos de amém
a sombra dá descanso e maldição
meu ópio
é a precisão do paraíso
estou ébrio
em promessas o delírio
estou sóbrio
em profanação
Tristezza
Sobram palavras quando há pouco a dizer
Talvez a loucura coubesse na roupa que deixei no cabide
Ou nem houvesse razão para sair de mim
O mundo multicolorido desfocado pela lente da Insanidade
O tempo, escusado de mim, vadia...
Vadia como os últimos boêmios
Que saem pelas ruas, exaustos de viver
Vadiam nas ruas da Penha,
Vila Madalena ou qualquer canto deste mundo
Em um quarto carcomido...
Sim, sou um destes que tentam atravessar o país
Num piscar de olhos
Talvez uma necessidade de fugir de mim
Ou de me encontrar em qualquer esquina
Onde os loucos se encontram.
Eis que chego à porta da Casa Verde
Recebendo a chave da Cidade das Rosas
Como honra ao mérito de outrem,
Sou assim, usurpador do trono,
Tenho a coroa e a coragem,
Sob o braço o chapéu... nas mãos?
Delírios feitos de confetes e serpentinas
À espera de outros carnavais
Onde os corpos se encontrem
Suados, purpurinados, débeis.
Sim, espero a euforia que vem do claustro,
A lobotomia, o choque elétrico, a surra, o coice...
Espero o veneno destilado nos cálices sagrados
O corpo sangrando sobre a pedra.
Espero o que não é para se esperar,
O desespero, a sofreguidão,
E, espero sempre na mais tola calmaria
Aquilo que não há de vir.
Página publicada em agosto de 2013
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