FLAVIO BOAVENTURA

Flávio Boaventura ou Boave, como é conhecido, nasceu em Belo Horizonte, Minas Gerais, em 1972. Poeta, ensaísta e professor de filosofia na PUC e pesquisador de poéticas contemporâneas (CNPq). Em 2003, publicou, pela 7Letras, o livro "Delírio Trêmulo" e começou a publicar Tragicália, trilogia de poemas. 

“Como figuras soltas num jogo de armar, assim é a poesia de Flávio Boaventura. Pela complexidade chega à simplicidade, gerando no caminho interrogações e pensamentos. Sua poesia é assim: livre, aberta, brincando com dados, imagens produzindo sementes e flores no campo das palavras.”  Jorge Salomão

De

DELÍRIO TRÊMULO
Rio de Janeiro: 7Letras, 2003.

ISBN 85-7577-080-2

FEITIÇO

Nada como um dia limpo.

Nada como uma noite, limpa.
Aromas de plantas exalando terrestres.
Sim: arrepiar me convalesce.

SÍSIFO SONHANDO

Quanta fidalguia
a da pedra que rola
morro abaixo.

Trágica,
arma o seu ofício.

E em nada vibra.

PRAÇA DA ESTAÇÃO

Soltos os leões,
caberia-nos o poder
de dar aos mendigos
banquetes memoráveis

Depois todos
— não sem outras fomes —
encenaríamos Os Miseráveis.


UMA CURTA

De repente posso bancar
uma série de sentidos urgentes:
bastam-me goles de noite no mato,
grilos roçando capins
no útero da gruta.

De repente frituras e outros assados
que minha libido açula:
você e eu (essa fina mistura)
brincando na rede: fissura.

DELÍRIO TRÊMULO

Passear ao léu com os deuses,
conversar com Meteoros.

Dar de comer aos pensamentos,

dar de beber aos sentimentos dolorosos.

DIMENSÃO – REVISTA INTERNACIONAL DE POESIA.         ANO XX – No. 30.  Editor Bilharino.   Capa; Visual de Gabrile -Alfo Bertozzi. Uberaba, Minas Gerais, Brasil: 2000.  200 p.   No. 10 787      Uberaba, MG – Brasil. Capa: Visual de Gabriele-Aldo Bertozzi. Editor: Guido Bilharino 200 p.                   Ex. biblioteca de Antonio Miranda

                      giro não sei por onde
                   delírio não sei por quase
                   transpiro um sangue metálico
                   a cada bala perdida

                   tenho uma fome por dentro
                   um gatilho apertado no peito
                   uma alma que se lava
                   a cada chuva ácida

***

                   variedades multicolores despontam de
                   minha cabeça desnorteiam meus
                   cabelos vermelhos tiê-sangue
                   aquela ferida cravada de tão funda
                   naquela corcunda feito um peso
                   um rio denso correndo teso
                   como esta tinta sobre papel

*

Página ampliada e republicada em abril de 2024

Página publicada em abril de 2009.