FERNANDO RIOS
RIOS, Fernando. Noite dos homens. Belo Horizonte: Edições Saci, 1961. 26 p 16,5x24 cm. Livro inconsútil
estrada
dos
homens
I
Ha duas vacas, nuas,
na sombra morna da estrada..»
Estão passando dois pretos
homens? pássaros de abismo?
são de ébano suas mãos,
pês, cabeças, corpos.
Asas pendem dos braços
fazem pó, misturam nuvens.
Estão passando dois brancos
mulher, outra também
vermelho rosto sem sol
-" areia só faz clarão -
marcando solo de ferro
tostando costa das gentes...
Ha duas vacas nuas
dois homens pretos em morte
duas mulheres de estrada...
O cactus verde-cinza
faz o ângulo de vento
em silêncio de espaço-mar.
Canta alegoria
aos mortos, idos da terra
aos vivos, mortos da terra...
Vento sopra rasteiro
levantando sombra morna
sombra morna de estrada
para todas vacas nuas
para homens e mulheres...
O tempo come a carcaça.
Marca de tempo comendo mundo...
II
As éguas terão seus filhos
agora, na madrugada...
Três fortes potros
molhados de negro-noite
lembrando gosto de ventre..
Dois homens serão porteiros
faraó a guarda no dia
armados de dois facões
um de prata, outro de ouro.
A lua que não saiu
fará brilhar em prata-sol
no rosto de dois cavalos
das duas éguas famintas
que filhos brancos tiveram
no meio da madrugada...
O feno colhido ontem
lavado em verde rio
tem cheiro de mar distante.
Não matará, como açoites
cortando em lanhos-retalhos
as costas das éguas-mães.
~ Morreriam dois cavalos!
Dois homens, guarda de honra!
Relógio-porteira-noite
em passos falsos correndo
correndo atrás do dia
marcando almas, passando
na porta da estrebaria.,.
Um grande, enorme cortejo...
Gentes não entrarão
somente cães falarão
para duas mães solteiras
paridas na madrugada.
Três potros, fortes,
molhados de negro-noite.
Três potros fortes serão,
a madrugada os verá...
Página publicada em março de 2015
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