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Retrato de Enrique Resende, por Santa Rosa
ENRIQUE DE RESENDE
Enrique de Resende, na verdade Henrique Vieira de Rezende, nasceu no dia 13 de agosto de 1899, na fazenda do Rochedo, em Cataguases. Era filho do jurista Afonso Henrique Vieira de Rezende e de Josefina Adelina Faria de Rezende. Fez o curso primário na casa dos pais. Estudou no Colégio Anglo-Brasileiro do Rio de Janeiro e depois fez o curso de matemática em Ouro Preto, vindo a formar-se engenheiro civil pela Faculdade de Engenharia de Juiz de Fora em 1924.
Em seu livro de estréia "Turris Eburnea", de 1923, a poética de Enrique de Resende já era moderna. Influenciado por Alphonsus de Guimaraens e a escola simbolista, em 1923 começaria uma evolução em sua arte que o levou a criar, com seus amigos Francisco Inácio Peixoto, Rosário Fusco, Ascânio Lopes, Guilhermino César, Antônio Martins Mendes, Oswaldo Abritta e Fonte Boa, a Revista Verde em 1927, o marco do movimento modernista em Cataguases.
Nas palavras do grande poeta Murilo Araújo, "Enrique de Resende, o modernista revolucionário da Verde, aprendeu antes, felizmente, o contraponto verbal em sua iniciação como simbolista. Por análogas razões os modernos que começaram nessa escola foram os que realizaram a arte mais perfeita e perdurável."
Enrique era o mais velho do grupo Verde. Engenheiro do departamento de Estradas de Rodagem e com obra publicada e muito bem aceita pela crítica especializada tornou-se a figura de referência do grupo Verde - alguns do grupo ainda eram adolescentes -, e por sua experiência, além de um dos maiores colaboradores, foi diretor da Revista.
Publicou, entre outras obras, "Poemas Cronológicos", em parceria com Rosário Fusco e Ascânio Lopes, em 1928; "Cofre de Charão", em 1933; "Retrato de Alphonsus de Guimaraens", seu trabalho mais discutido e apreciado pela crítica, em 1938; "Rosa dos Ventos", em 1957; "A Derradeira Colheita", em 1964; "Pequena História Sentimental de Cataguases", em 1969; "Estórias e Memórias", em 1971.
O falecimento de Enrique de Resende, ocorrido em 16 de setembro de 1973, causou profunda consternação em Cataguases e fora dela, inclusive entre seus companheiros da Academia Mineira de Letras, para a qual foi eleito em 1966.
Fonte da biografia: www.asminasgerais.com.br
De
Enrique de Resende
ROSA DOS VENTOS
Rio de Janeiro: Departamento de Imprensa Nacional, 1957.
Edição organizada pelo filho João Alfonso de Resende, a partir de uma seleção de poemas anteriores e inéditos do poeta de Cataguases, enriquecida com um retrato e duas ilustrações do célebre artista Santa Rosa, "feitos dias antes da partida do pintor para a Nova Delhi, na Ìndia, onde veio a falecer."
DA ARTE
Pois que arte é criação, liberta o espírito.
Livra-o desses cuidados e dos zelos
que nutres pelos moldes, como se a arte
obedecesse a efêmeros modelos...
Ilustração de Santa Rosa
AS LAVOURAS
Ontem a lavoura escaldava sob o veranico.
Mas como a lua de hoje é nova
a terra amanheceu toda molhada
sob a carícia múltipla da chuva.
E a chuva continua...
Os novos cafezais verdejarão nas serras,
e o milho espigará, na pompa dos penachos,
enquanto, ao longe, humildemente,
o arroz dos brejos cacheará tranquilo.
E pressinto a colheita:
Ouço a canção dos carros chiadores;
as moengas se enchem; as máquinas se movem;
o arroz entope as tulhas e os celeiros;
o milho salta nos debulhadores...
Ilustração de Santa Rosa
DESNUDA E EXPOSTA AOS VENDAVAIS SEM PEJO
Árvore abandonada no caminho;
desnuda e exposta aos vendavais sem pejo,
não tenho sombras para o teu carinho,
não tenho frutos para o teu desejo.
Destroçou-me o infortúnio... Malfazejo
foi-me o destino, e pérfido, e mesquinho.
Guardei no seio o teu primeiro beijo:
tudo o mais se perdeu pelo caminho.
Por que buscas agora o amor desfeito?
— És sonho na minha alma, e sonho morto.
— Sou rosa em tuas mãos, e desfolhada.
Depois de tantos anos, no teu leito
tens apenas sobejos do meu corpo,
da minha alma, talvez, não tenhas nada...
Extraído de
VERDE. Revista Mensal de Arte e Cultura. São Paulo: 1978. Caixa de papelão contendo 7 (sete) exemplares (fac-similares) da revista VERDE, de Cataguases Minas Gerais, dirigida por Martins Mendes e Rosario Fusco. Supervisão gráfica: Diana Mindlin. Patrocínio: Metal Leve S.A. Ex. bibl. Antonio Miranda
CANTO DA TERRA VERDE
(2)
Desce o rio, lento, pesadão, mollengo.
Mas, de repente,
se despenha no desespero do despenhadeiro.
E' a cachoeira, a acachoar, zoando e retum-
bando, no seio vir-
jem da floresta virjem.
E, além, são as aguas, que se refreiam, que se
represam,
e é a luta esplendida de mil cavallos imaginários
nos canos grossos,
nos tubos longos,
pelas turbinas a dentro — num turbilhão.
E, então, lá no alto, á luz do dia, apotheoticamente,
as fabricas gemem,
os teares cantam,
a serras guincham,
— e, á noite, como que num milagre, é a cidadella
toda esplendente de alampadarios.
HENRIQUE DE RESENDE.
(poema publicado originalmente na edição da revista
VERDE, Número 3, Anno 1, Novembro 1927, Cataguases, MG)
Página publicada em abril de 2010;
Página publicada em fevereiro de 2019
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