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Sobre Antonio Miranda
 
 


 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

POESIA MINEIRA
Colaboração de Wilmar Silva

DAGMAR BRAGA

DAGMAR BRAGA

 

Dagmar de Oliveira Braga nasceu em Pitangui, Minas Gerais. Formada em Letras pela Pontifícia Universidade Católica de Minas Grerais (PUC Minas), especializou-se em Literatura Brasileira e depois cursou a pós-graduação em Jornalismo e Práticas Contemporâneas. Professora, consultora aposentada pela Assembléia Legislativa de Minas Gerais, a poeta trabalha atualmente como revisora de textos e é responsável pelo Espaço Cultural Letras e Ponto, onde também ministra Oficinas de Literatura.

Em 2008, Dagmar estreou com o livro de poemas Geometria da Paixão, publicado pela Anome Livros. Para Affonso Romano de Sant`Anna “A poesia de Dagmar Braga é uma inscrição no silêncio, um diálogo com as sombras, uma caligrafia da solidão, um pressentimento e um suave delírio, aparentemente “unindo o nada a nada”, e, no entanto, nos fala de coisas humanamente familiares.”

 

BRAGA, Dagmar de Oliveira.   Geometria da paixão.   Belo Horizonte: anomelivros, 2008.  126 p.  (Coleção Letras e Ponto, 2)  15,5x23 cm.  Capa: Patricia Barbabela.  Col. A.M.

 


CONSTRUÇÃO

Lanhada a pedra,
faço-me fio,
partilho, rasgo
entranha e estranho.

Quebrado o leme,
desoriento,
acolho vento,
maré e abismo.

Cavado o poço,
torno-me água,
mão retorcida,
lisura e barro.

Feito o silêncio,
lasso a palavra -
gume sequioso
de outra navalha.


PAISAGEM URBANA 

no farol
estilhaço de vidro
fragmento de prisma
cinabre     viscosidade

e um sonho coagulado em nossa retina


                               INFINITUDE

Ao derredor do tempo
(sorvo de luz e sombra)
o labirinto assoma

Não há porta que se abra
nem sina que nos sustente

O desafio
é a tessitura e o fio

Não há rastro ou memória
na solidão do exílio

Tudo — a um só tempo —
é pressentimento /
origem
tédio / espelho

Secreto e imenso — sempre —
o meu e o teu delírio.


PROSCRITOS


no exílio da manhã
o desamparo
                   a dois

quando cruzamos
olhares
         urbanos         desvalidos

forçado o esquecimento
banido o verbo
        
embora o corpo
         estirado
                   de prazer e fúria


INOCÊNCIA

além do muro

         o salto
                            o susto
                                               o gozo

sutil o louvor do tempo
tecendo
— de permeio —
o adormecimento


MADRUGADA

quando em silêncio arde o desespero
teu rosto assoma

tua mão acolhe o fogo e me desata
o descompasso

o dia serpenteia na garganta
um poema grita
                      germinando luz

 

 

BRAGA, DagmarArqueologia.  São Paulo: Editora Patuá, 2016.  74 p.  14x21 cm.  Editor: Eduardo Lacerda.  Ilustracão, projeto gráfico e diagramação: Leonardo Mathias.  Tiragem: 200 exs.      ISBN 978-85-8297-274-8    Ex. bibl. part. Antonio Miranda

 

         Rio Doce

 

sou barro, sou lama, sou ouro de tolo,
sou visgo, sou morte, sou rio, sou monte,
sou rês soterrada, sou sede, sou gana,
sou peixe afogado, rasto de horizonte,

sou leito traído, na calha do rio,
sou turva memória, futuro sem nome,
sou mostra de um tempo sem cor nem piedade,
sou lucro, sou morte, sou risco, sou fome.

 

 

         Desmesura

 

quem é esta que parte
e que retorna

a embalar
eterno desabraço?

quem é esta que segue
em desmesura?

de onde?
para onde? até quando?

esta que busca
e que não se consente

         neste exato instante?

 

 

         Certo saber de nuvem

 

“Carlos, sossegue, o amor
é isso que vocês está vendo.”

                   Carlos Drummond de Andrade

 

 

Dag, sossegue, não é amor
o que você andou vendo:
atropelo, resmungo, pressa, pressa,
olhar-se pouco, deitar-se breve, magoar-se muito —
surdez, cegueira, falta de tato e plano,.
ruína, queda, agastamento e fúria.

O amor pode ser visto em tarde morna
de segunda-feira, na quarta ou quinta, noite adentro
na distração do olhar — a dois — domingo afora.

E pode ser pressentido na calada
dos dias fatigantes,
no prenúncio de muros e torrentes
que despertam em nós certo saber de nuvem:

refazer-se, esvair-se, entreligar-se,
tornar-se outro e outro,
conforme o vento, a força, a potência do verbo ou do silêncio —

desejo, sonho, fragilidade, encanto
recriando o dentro e o fora o perto o longe e o quando.

 

ANTOLOGIA ME 18. Mulheres Emergentes.    Belo Horizonte: Anome Livros, 2007.   112 p.  14 x 205 cm  Ex. bib. Antonio Miranda

 

A QUE TE ENTREGAS QUANDO NASCE O DIA?

No retorno a teu leme
a que alentos relanceia
teu vulto refletido?

Refazes lentamente em tua pele
o riso da antevéspera?

Desalinhado
despes sonho se mácula
inaugurando a pressa?

A que espelho destinas teu rito
teu assomo
teu andamento e prumo?

A que consagras teu presente
quando em ti germina
o sol?

 

*

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Página ampliada e republicada em abril de 2022

 

 

 


Página publicada em dezembro de 2008; ampliada em janeiro de 2017


 


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