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Sobre Antonio Miranda
 
 


 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

CONCEIÇÃO EVARISTO

 

 

Maria da Conceição Evaristo de Brito (Belo Horizonte, 29 de novembro de 1946) é uma escritora brasileira.

 

Conceição nasceu numa favela da zona sul de Belo Horizonte, vem de uma família muito pobre, com nove irmãos e sua mãe, e teve que conciliar os estudos trabalhando como empregada doméstica, até concluir o curso normal, em 1971, já aos 25 anos. Mudou-se então para o Rio de Janeiro, onde passou num concurso público para o magistério e estudou Letras na UFRJ.

 

Na década de 1980, entrou em contato com o grupo Quilombhoje. Estreou na literatura em 1990, com obras publicadas na série Cadernos Negros, publicada pela organização.

 

É mestra em Literatura Brasileira pela PUC-Rio, e doutora em Literatura Comparada pela Universidade Federal Fluminense.

 

Suas obras, em especial o romance Ponciá Vicêncio, de 2003, abordam temas como a discriminação racial, de gênero e de classe. A obra foi traduzida para o inglês e publicada nos Estados Unidos em 2007.  Atualmente leciona na UFMG como professora visitante.

 

Em 2017, Conceição Evaristo foi tema da Ocupação do Itaú Cultural de São Paulo.

 

Conceição Evaristo é militante do movimento negro, com grande participação e atividade em eventos relacionados a militância política-social.

 

Fonte: wikipedia

 

 

 

Da calma e do silêncio

 

Quando eu morder

a palavra,

por favor,

não me apressem,

quero mascar,

rasgar entre os dentes,

a pele, os ossos, o tutano

do verbo,

para assim versejar

o âmago das coisas.

 

Quando meu olhar

se perder no nada,

por favor,

não me despertem,

quero reter,

no adentro da íris,

a menor sombra,

do ínfimo movimento.

 

Quando meus pés

abrandarem na marcha,

por favor,

não me forcem.

Caminhar para quê?

Deixem-me quedar,

deixem-me quieta,

na aparente inércia.

Nem todo viandante

anda estradas,

há mundos submersos,

que só o silêncio

da poesia penetra.

 

 

 

Do fogo que em mim arde

 

Sim, eu trago o fogo,

o outro,

não aquele que te apraz.

Ele queima sim,

é chama voraz

que derrete o bivo de teu pincel

incendiando até ás cinzas

O desejo-desenho que fazes de mim.

 

Sim, eu trago o fogo,

o outro,

aquele que me faz,

e que molda a dura pena

de minha escrita.

é este o fogo,

o meu, o que me arde

e cunha a minha face

na letra desenho

do auto-retrato meu.

 

 

De  "Poemas da recordação e outros movimentos". Belo Horizonte: Nandyala, 2008.

 

 

                Vozes- mulheres

 

        A voz de minha bisavó ecoou
        criança
        nos porões do navio.
        Ecoou lamentos
        de uma infância perdida.

 

        A voz de minha avó
        ecoou obediência
        aos brancos-donos de tudo.

 

        A voz de minha mãe
        ecoou baixinho revolta

        No fundo das cozinhas alheias
        debaixo das trouxas
        roupagem sujas dos brancos

        pelo caminho empoeirado
        rumo à favela.

 

        A minha voz ainda
        ecoa versos perplexos
        com ruínas de sangue
                            e fome.

 

        A voz de minha filha
        recolhe todas as nossas vozes
        recolhe em si
        as vozes mudas caladas
        engasgadas nas gargantas.

 

        A voz de minha filha
        recolhe em si
        a fala e o ato.
        O ontem — o hoje — o agora.
        Na voz de minha filha
        se fará a ressonância,
        o eco da vida-liberdade.

 

50 POEMAS DE REVOLTA.  São Paulo, SP: Companhia das Letras, 2017.  144 p.           11x 16 cm.  ISBN  978-85-359-3016-0 
Ex. bibl. Antonio Miranda

 

Vozes-mulheres

A voz de minha bisavó
ecoou criança
nos porões do navio.
ecoou lamentos
de uma infância perdida.

A voz de minha avó
ecoou obediência
aos brancos-donos de tudo.

A voz de minha mãe
ecoou baixinho revolta
no fundo das cozinhas alheias
debaixo das trouxas
roupagens sujas dos brancos
pelo caminho empoeirado
rumo à favela.

A minha voz ainda
ecoa versos perplexos
com rimas de sangue
e
fome.

A voz de minha filha
recolhe todas as nossas vozes
recolhe em si
as vozes mudas caladas
engasgadas nas gargantas.
A voz de minha filha
recolhe em si
a fala e o ato.
O ontem – o hoje – o agora.
Na voz de minha filha
se fará ouvir a ressonância
o eco da vida-liberdade.

 

*

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Página publicada em março de 2023.

 

 

 


 

 

Página publicada em fevereiro de 2018

 

 

       

 

 


 

 

 
 
 
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