POESIA MINEIRA
Coordenação de WILMAR SILVA
CÉSAR GILCEVI
Músico e poeta, nasceu e vive em Belo Horizonte, Minas Gerais, desde 1977. Letrista e baterista da banda de rock Carolina Diz, com o qual gravou em 2004 o cd independente se perder.
cinzas entre paralelo e palavra
na retina uma dívida de imagens
adestra fantasmas
o espelho retém a herança ágrafa
jazida de lapsos passos em falso
na cicatriz urgências desposam infernos
mapas de cilícios não silenciam as ramagens
destempos coroando escuros contra
fúrias cardíacas (in)fartam a estação
agora do quintal da infância
aparelhada de tentativas
abril maquina o auge céus
sem júbilo fecham
pálpebras despojos gratificam vermes
hospeda a contagem final
descerra a limalha dos ossos
o grito
em tudo o que éramos
Extraído da obra O ACHAMENTO DE PORTUGAL. Wilmar Silva, org. Belo Horizonte: Anome Livros, 2005. 112 p.
DIMENSÃO – REVISTA INTERNACIONAL DE POESIA. ANO XX – No. 30. Editor Bilharino. Capa; Visual de Gabrile -Alfo Bertozzi. Uberaba, Minas Gerais, Brasil: 2000. 200 p. No. 10 787 Uberaba, MG – Brasil. Capa: Visual de Gabriele-Aldo Bertozzi. Editor: Guido Bilharino 200 p. AS x. biblioteca de Antonio Miranda
as febres voltam
falantes fissuras
atalhando-se nas rugas
tecendo andanças entre
as janelas incessantes
visitadora a ilusão olorosa
se esgueira na aragem
sagra o triunfo do nome
sobre a lápide
e já é tarde para
substituir-se
nas paredes caiadas
úmida escritura
o cortejo de musgos
inicia hinos
o verdoso o charco
se agiganta nos passos
de uma noite soterrada
como um rosto sem ângulos
nas vozes chuvosas
espreitando a casa
neblinas se flagelando
nas vidraças
no fulgor da fuga
excitando a poeira
da estrada, na sede
se inclinando beijo
na água que grita
ensalivada
*
julho sob círios, rincões: rios retornáveis
um viço de vivendas de vozes maturando mosaicos,
miasmas espoliando a polidez dos talheres
num penhorar de náufragos, espaços, epílogos
sua silhueta salda as sombras: simulacros, estuários
de alturas cifradas, labor lento de língua no léu.
sob o pórtico paira, treva sem leme, à chegada
ascendo-te ao ludíbrio enluarado (ainda
pedra-memória rolando sob um acaso de cheiros)
: ilha habitando-se do precário: redoma de embates
arquitetura-só-osso imémore no mestrado das margens
suas subolheiras sibilam senhas narcóticas, sustém
o périplo das sedes; a véspera do pasto de hastes
pânicas (galos ensaiando sóis, ponteiros) seguem
o rastilho movediço de velhas cartas dizendo
bobagens: o menino sujo de vazios ostenta dédalos
na ânsia de portos diadema de estio ubíquo branco
no branco o escrutínio se inscrevendo
no ver-se em vaia? Cansados festins entrepernas
(limos ulceram, gargalham mundo nas coisas)
espectador de velames onde lençóis farpam-se
chapado até o último centavo apascentando
assombros & a certeza única: a cabeça (monturo
de árias) restando-se lassa enfeixando-se
na própria cilada
como um búzio
de chumbo
arquejando ardências
*
Página ampliada e republicada em abril de 2024
Página publicada em novembro de 2008
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