POESIA MINEIRA
Coordenação de MARCIO ALMEIDA
CAMILO LARA
Nasceu em Itaguara (Minas Gerais ) em 31 de Julho de 1959. Graduado em História pela Universidade Federal de Ouro Preto. Professor e Coordenador da Seção de Atividades Culturais do CEFET-MG.
Integrante do Grupo Literário Dazibao de Divinópolis-MG, desde 1980. Tem trabalhos editados nas publicações literárias do Grupo Dazibao: mural de poesia, suplementos literários, dobraduras literárias, livretos; no Jornal Inferno de 1998 e 1999, do qual foi um dos organizadores. Participou da organização do Projeto Poesia Orbital (edição de 62 livros de poesia) em homenagem ao centenário de Belo Horizonte-MG. Editor da Coleção Dazibao e co-editor da Revista Literária ATO de Minas Gerais. Publicou em 1984, em parceria com Carlos Lopes, o livro de poemas “Prelúdio Penetrável” e publicou, em 1997, em parceria com Adriana Versiani, o livro “Dentro Passa”. Participa da antologia poética “O achamento de Portugal”, organizada por Wilmar Silva , em junho de 2005. Co-organizador do Jornal de Poesia & Poética DEZFACES (2006-2007).
eu)
lavo as minhas mãos
lavro as minhas mágoas
lavo as minhas larvas
lavro as minhas palavras
lavo as minhas tranças
lavro o meu silêncio
levo o meu adeus
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se subimos
ao cume
ao lado
dos abismos
temos o direito
de cair
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fuga nº 3
olhar sob outro olhar se anula
adensa a vidraça em estilhaço
como um caracol em seu abismo
de sombras e palavras em arremedo.
alheio, no silêncio de ouvir estrelas
viver de apropriação indébita.
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o nó Torquato
poema feito de citações
partidas e chegadas
ou melhor: uma palavra
transparente em sua orla
vida que esconde outra
um texto: uma insígnia
e, no entanto, é preciso.
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degredo
a duração do dia
se comprime entre os dedos
a noite chega
como um pedaço de gelo
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Troca de Legenda
Onde se lê
estar dentro,
leia-se silêncio;
e onde se
lê adentro,
me concentro.
Cravo
sibila o sol no eco
espanto do dia
se instala no horizonte
se revela na retina
penumbra voz alheia
de frases submersas nos livros
a imagem se consome
centelha de ar nas veias
se soubesse a hora
até diria onde depositar
a flor o ácido o lacre
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o
poema
bate na cara
como poema
feitio de oração
sobras e muralhas
de um nome
marca no horizonte
esfera que não se alinha
o que se disse antes
Lavra # 1
a lavoura serpenteando a encosta
feixe de afazeres pela frente
na sobra dessa colheita
só o brilho da enxada
roçando o sol inevitável
do dia seguinte
Resíduo
de terra e pedra se faz uma cidade
de portas e janelas uma casa
de discurso se faz um político
da amizade uma cantilena
de cultura se faz uma tribo
de palavras um poema
do leite derramado uma mancha
de pau a pique um castelo
da greve um operário
da ovelha um rebanho
de cartas um jogo
de dados um lance
do pop se faz um poeta
do abismo uma cela
do disco um livro
da anedota um riso
da onda uma música
do pincel um quadro
das cores um jasper
da gravidade um peso
o que cabe nesse resíduo
ninguém disse o que continha.
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Um Livro
a palavra inicial
observa a tarde
recolhe as vírgulas
sussurra ao pé do ouvido
a palavra inicial
encara o verbo
atinge a interrogação
manda bilhete para o amigo
a palavra inicial
é datada
revira
como pode se virar
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Festival
o ruído será sempre
o ruído de sempre
o ruído é mensagem
o ruído é linguagem
o ruído ressoa dentro
da sala do disco do livro
o ruído de todos
é ouvido por poucos
o ruído ecoa dentro
do silêncio em movimento
Página publicada em março de 2008
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