BRUNO GROSSI
Escritor que se define como não-contemplável, mas dono de arte “visceral e negra”, o poeta Bruno Grossi estréia, [em 2007], com O grão imastigável, edição independente. Nascido em Belo Horizonte em 1979, ele busca inspiração em Minas e seus habitantes. “Gosto de observar, de imaginar o que as pessoas pensam, conta o escritor e videomaker (...). Carlos Herculano Lopes, Jornal Estado de Minas, 9 set. 2007.
“A parte oculta da mente tem a essência da dor. Para mim, o mundo é obscuro, cinza e degradante... O ato de associar a angústia contida num universo paralelo com o tempo real é bastante inspirador. Na minha arte se destacam as lacunas contidas nas frases, nos traços, nos movimentos e na sutileza das palavras mortas”, declarou o poeta Bruno Grossi ao repórter.
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Terror
A fornalha queima
Ao produzir tuas palavras
Em contos sonolentos.
Negros e obscuros,
Como tua alma
Obcecada pelo outro.
Tua partilha de sentimentos
Hostis e satíricos,
Como aquele sarcástico bicho
Transformado em gente
De patas e antenas
Aterrorizantes.
O qual acabo de esmagar
Com a ponta de meus pés.
Vermilhões
Famigerados dias vazios,
Incrédulos, incultos,
Ocultos nas devassas.
Um andar engatinhado
Engatilhado de podridão.
Doentes, cansados,
Ingratos, vedentes.
Vertentes poluídas
De ódio e ambição.
Corroídos e exagerados,
Emaranhados vermilhões
Inaudíveis, inoculares,
Letárgico coração.
Desilusão
Os ventos da era doce sagrada
Trazem lembranças do fastio.
Os sinos tocam às seis da tarde
E eu me deito no jazigo.
As cores do meu corpo,
Os brilhos dos meus olhos
São cartas que se despedem
Do revoar da vida,
Como um velho suicídio
Ou um corpo iluminado.
Um sonho transfigurado
Com um cheiro podre.
A morte
A água que está dentro,
O frasco que está fora
Não passa perto da fonte.
A água que está benta,
O cálice que está morto
Não mata nem abençoa.
Nem tudo perdido está.
Nem tudo calmo parece.
Como um corpo já desfalecido,
O sangue que espirra,
O corte já estancado,
A carne que não tão podre,
A cabeça não entende,
O corpo já não fala,
A mente que não funciona.
Página publicada em dezembro de 2007
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