ANIZIO VIANNA
Nasceu em Belo Horizonte (MG), em 1971. Poeta, contrabaixista e letrista. Graduado em língua espanhola pela UFMG. Poeta, músico, letrista. Em 1996 recebeu o prêmio "Cidade de Belo Horizonte" promovido pela Prefeitura Municipal com o livro "Doublê de Anjo". Incluído na antologia virtual de poetas afrodescendentes organizado pela Faculdade Letras da UFMG.
minha semana de trabalho pede um domingo assim
como a planta pede água assim como a terra pede
música assim como o poema pede pra ser lido minha
semana de trabalho árduo árduo árduo pede um
domingo assim como o poema não pede pra ter sido
assim como a letra não pede pra ser hino assim como a
planta não pede não perde por esperar água da bica
Aviso na entrada do cinema
não nos responsabilizamos por objetos perdidos na sala
não nos responsabilizamos por perdidos na sala
não nos responsabilizamos pelo escuro da sala
não nos responsabilizamos pela sala
não nos responsabilizamos pela prática de atividades
escusas no escuro da sala não nos responsabilizamos
pela venda de objetos estranhos na sala não nos
responsabilizamos por vendidos na sala
não nos responsabilizamos pelo sexo na sala não nos
responsabilizamos por estranhos não identificados
no escuro da sala não nos responsabilizamos por
objetos de estranhos que voam pela sala
não nos responsabilizamos por objetos voadores
não identificados escusos
e perdidos na sala
leitmotiv
a seda do luar na veia
o sedativo
onde pousei meu desejo
tua mão varreu o piso
deixo
no AR
como
que por alívio
o perfume desse filme
não cessa de passar
lento
na tela
da música
meu leitmotiv
falo:
- é feminino cantar
Dublê de anjo
o nu do papel me impele a ser duplo:
seduz sem música
e me sugere versos brancos
e admirar o outro e sair à noite
sozinho bloco caneta: um flâneur afoito
no papel (como pele) pelejo a neve
e a gordura dos dedos compõe o esterco
que mesclado à tinta e letra
transmuta palavras em poemas
que me atropele rabo de estrela!
porque o meu novelo de fé
é branco é seco um sol de abril em novembro
no papel ou na pele o que sou é você
e soa tão sucessivas vezes
que corro o perigo de não mais eu ser
Obs. O último poema foi extraído da obra O ACHAMENTO DE PORTUGAL. Wilmar Silva, org. Belo Horizonte: Anome Livros, 2005. 112 p.
Página publicada em novembro de 2008
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