ANAMARIA ALVES

PROVÉRBIOS DA LAMA. Antologia poética. Organização Rodrigo Starling.   Belo Horizonte:  Starlinga, 2020.    204 p.   ISBN 978-85-990511-3-5    Ex. bibl. Antonio Miranda

Anamaria Alves, sobre morar logo abaixo de uma barragem e ser fóssil vivo

/POEMA  sobre a tragédia de Brumadinho, MG/

I

Sabe o que é acordar todos os dias, cedo
E olhar para a mineração?
Suspirar. Pirar.Medo.
Moro logo abaixo.
—É seguro!

(Seguro é o que eles fazem para os funcionários em nome

da empresa... E daí 10% é repassado às famílias em

"indenização", mas o que eu sei? Ouvi dizer...)

Sabe o que é olhar os donos da cidade (Bão dia, Coroné!)

Balançando seus chapéus de couro

E andando empinados

À custa de tantas vidas perdidas.

(Brumadinho é aqui do lado e eu desmaiei quando perdi

meus tios na tragédia)

Desfalecer por medo de falecer.

Sabe o que é saber-se mais que pobre?

Respirar minério.Morrer na meia idade.

Pneumonia e todos,

todos os problemas respiratórios

Anamaria. Presente!

Eu não sou fóssil morto.

Ainda.

Imagine saber que sua sorte,
quando boa dá lucro,
é a morte.

**

Página publicada em setembro de 2020