Home
Sobre Antonio Miranda
Currículo Lattes
Grupo Renovación
Cuatro Tablas
Terra Brasilis
Em Destaque
Textos en Español
Xulio Formoso
Livro de Visitas
Colaboradores
Links Temáticos
Indique esta página
Sobre Antonio Miranda
 
 


 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

POESIA MINEIRA
Coordenação de WILMAR SILVA


ALEXANDRE RODRIGUES DA COSTA

ALEXANDRE RODRIGUES DA COSTA

possui graduação em Letras pela Universidade Federal de Minas Gerais (1997), mestrado em Letras pela Universidade Federal de Minas Gerais (2001), com a dissertação "A construção do silêncio: um estudo da obra poética de Orides Fontela", e doutorado em Letras pela Universidade Federal de Minas Gerais (2005), com a tese "A transfiguração do olhar: um estudo das relações entre literatura e artes plásticas em Rainer Maria Rilke e Clarice Lispector". Atualmente é professor adjunto - Pitágoras Sistema de Educação Superior. Tem experiência na área de Letras, com ênfase em Literatura Comparada.

Obra poética: Objetos difíceis (2004, ganhador do Prêmio Cidade de Juiz de Fora 2004); Fora-de-quadro (7letras, 2004, ganhou o Prêmio Vivaldi Moreira, da Academia Mineira de Letras).  

 

De
Alexandre Rodrigues da Costa

OBJETOS DIFÍCEIS
Rio de Janeiro: 7  Letras; Juiz de Fora: Funalfa Edições, 2004.

60 p.   ISBN   85-7577117-5

"Prêmio Cidade de Juiz de Fora - Literatura 2003

 

 

 

"(...) Alexandre Rodrigues da Costa, em seu livro Objetos difíceis, vem mostrar que é possível, criar vias alternativas de se olhar o presente, sem que seja necessária a recusa do "estado de coisas" que o constitui. Ciente de que cabe aos poetas e artistas do agora também pôr em foco visões de olhos fechados, ver o mundo à margem dos enquadramentos, através da imaginação, ele faz do visível uma superfície para além das superfícies legitimadas, buscando captá-lo fora da "facilidade" exigida pela lógica do consumo e nele divisar o imprevisível e o insuspeitado de sua própria visibilidade.  (...)

 

Assim, modulados por esse olhar deslocado da própria retina, os poemas de Alexandre Rodrigues da Costa se moldam e se desfiguram em Objetos difíceis.

Trazem para a poesia brasileira e para a sensibilidade do presente um outro campo - ou contracampo - de visão e de percepção das coisas do mundo."   

                                                                                     Maria Esther Maciel

 

 

PONTO DE FUGA

 

A expressão de um impulso,

vestígios que ligam,

 

desprezam,

fazem colidir e oscilar os corpos

 

e os movimentos.

 

Menos sutis

que inquietos, pés imersos no mar

completamente silenciado

 

como se o esquecimento de ir

os acolhesse sob a perda da proporção,

do definitivo.

 

Não muito distante

das ondas,

 

velhos

e crianças guardam

segredos em baldes de areia.

 

Que idade tinhas

quando o medo chegou?

 

 

ÚLTIMA CELA

 

Ainda não é muito tarde para morrerem.

A mesa está servida.

Próximos e nus, iluminados por uma luz

que não se sabe de onde vem, eles agonizam

à mesa, com os dedos sujos de sangue,

as bocas queimadas pelo mar.

 

Não é tanto o prato que os atrai,

mas a sutileza da sintaxe,

a maneira como a página se impregna de gordura

e as letras ganham novas formas

quando a saliva desliza sobre elas.

 

Alguns dizem que se deve ler à mesa

sem essa tal sutileza da sintaxe, dando á refeição

uma certa distância, afastando-a dos olhos

através de formações erosivas,

verticais.

 

Que sentido teria então urna nostalgia de foices,

a pedra dentro do copo, a ferida além da armadilha?

 

Às vezes, os ossos escapam à carne,

a gordura,

novamente a gordura, torna transparente

um ponto qualquer do papel

e as mãos

se perdem em objetos estranhos,

para os quais nunca foram projetadas.

 

 

=============================================================


Descoberta

bebia do mar
sem sentir sede,
satisfazia-se
com a água atravessando-lhe
os pulmões,
com as horas em que a mesa
flutuava noite adentro
e não podia erguer
os olhos,

bebia do mar
e se perdia no que ouvia,
no corpo silencioso
onde a areia
juntava sílabas, onde a cegueira
a acordava
e deixava suas mãos livres,
 
 

Obs. O último poema foi extraído da obra O ACHAMENTO DE PORTUGAL. Wilmar Silva, org. Belo Horizonte: Anome Livros, 2005.  112 p.


ENTRELINHAS , VERSOS CONTEMPORÂNEOS MINEIROS.   Organização: Vera Casa Nova, Kaio Carmona, Marcelo Dolabela.  Belo Horizonte, MG:  Quixote + Do Editoras Associadas, 2020.  577 p.  ISBN 978-85—66236-64—2            Ex. biblioteca de Antonio Miranda

 

       O princípio oculto

      
  A paisagem repete
        a cicatriz, a fala
        que nos escapa sem explicação.
        Não entendemos os hieróglifos,
        por que tantos espelhos nos impedem
        de reter o que não se guarda na memória.
        Seu corpo apaga-se
        ou surge como fato prescindindo de realidade?
        As fotografias o contemplam na ignorância
        ou, como ele,
        queremos ignorar o desfecho?
        Acreditamos que desvendaremos a trama
        e tudo se constituirá de uma imagem
        única, perfeita na medida
        do que não é incomensurável.
        A morte mantém-se fiel
        à dor de lhe lembrar que na carne
        a ferida não é passado.
        O instante imita a si mesmo.
        Sim. A memória não é perfeita.

        Ela pode mudar a forma de um quarto,
        a cor dos olhos de uma pessoa
        que, na escola, sentava-se ao nosso lado.
        Mas quando ele fecha os olhos
        o mundo deixa de existir?
       Como vingar de si próprio através do outro,
       na falta de um liame que o prenda às coisas?
       Ele se omite na ausência de um nome,
       no crime que o obriga, simplesmente,
       a olhar.


       “Excellent, Mr. Renfield!

       
expor à superfície o corte,
       era assim que eu
       reagiria para esquecer
       como se deve tocar as feridas
       de um morto?
       mesmo depois de perceber
       que nenhuma voz
       conseguiria sobrepor-se
       ao silêncio,
       impedir que unhas
       afiadas atravessassem
       meus olhos, não
       desisti, ali fiquei,
       também com as feridas
       espalhadas pelo corpo,
       mas sem saber como o grito
       transporta para fora
       e torna presente
       a respiração mesma
       e a dor de quem respira.


       Sacrifício

        os dedos das mãos ferido,

         nada de encenação,

                apenas a dor como
               forma de anestésico,

               ou (por que a ingenuidade?)

               antídoto
               para os venenos misturados

               às palavras
               que ela me obrigava gentilmente
               a aceitar, quando tocava
               em meus lábios e dizia:

               “não, a vida já não basta,
               
               é necessário me ater

               àquilo que é dado,
               teus ossos, tuas vísceras
               e o futuro que elas escondem”.


                Bela Lugosi no ateliê de Kandinsky

                    
Não deixava a noite falar diante dos olhos.
                 Incomodava-se com a rigidez
                 do momento,
                 com o que não podia ser
                 submerso no abrigo das feridas.
                 O medo, encarava como forma
                 de se concentrar nos objetos
                 que regressavam a si mesmos.
                 As paisagens o satisfaziam muito pouco.
                 Passou, então, a evitar espelhos
                 e o que estava frente a eles.
                 Assim permaneceu, intacto e invariável,

        Submisso aos caprichos
       de suas perfeições contraditórias.

        Teceu-se no sopro um rosto,
        cortante como pausas perdidas na garganta.


         Acidentes de leitura

             
À margem de si,
           à custa de minha presença,

           assustada,
           ela abre o contorno
           da lâmima.

           Diante do gesto
           despedaçado, oculta,

           entre as coxas,
           a ignorância,
           o poço escuro
           onde me perco.

           Faltarão olhos para negar
           o que sempre a despiu?

           A mesma sede,
           a mesma fome,
           o espaço confuso das mãos?

 

*
VEJA e LEIA outros poetas de MINAS GERAIS em nosso Portal:
http://www.antoniomiranda.com.br/poesia_brasis/minas_gerais/minas_gerais.html
Página publicada em maio de 2024

 

 

 

Página publicada em novembro de 2008



Voltar para o Topo da Página Voltar para a Página de Minas Gerais

 

 

 
 
 
Home Poetas de A a Z Indique este site Sobre A. Miranda Contato
counter create hit
Envie mensagem a webmaster@antoniomiranda.com.br sobre este site da Web.
Copyright © 2004 Antonio Miranda
 
Click aqui Click aqui Click aqui Click aqui Click aqui Click aqui Click aqui Click aqui Click aqui Click aqui Home Contato Página de música Click aqui para pesquisar