POESIA MINEIRA
Colaboração de Wilmar Silva
ADOLFO MAURÍCIO PEREIRA
Nasceu em Cruzília, Minas Gerais, Brasil, em 1953.
Livros: Abastardando (1980). Livros das mesmices (1999) e Profanador de Sambaquis (2001).
Profanador de sambaquis
1.
terrário de ossos
refaz a minha história.
adoça, amortalha,
esses campesinos lábios
como se um beijo fosse
e atina-me
— coração, alma e colhões,
para a alegria.
2.
desespera, terreiro, os povos,
colossos impávidos na melancolia:
nheengatus párias/
tupis lascivos/
mucuxis impávidos/
tupinambás resolutos/
brasilianos tristesportristeserem.
4.
desta angústia Colatina,
indulgência para os mansos
vestíbulo dos infernos elementos
que realçam a proclamação dos tristes.
23.
verde esta comiseração se enfastia:
motivo algum que garanta franco alarde.
arde sinopse, encatacumbando vales,
lúdicas pastagens, telas enfadonhas.
bisonhas trelas, mais do que querelas.
os riachos mornos destas longas gruas.
puas agressivas que infernizam coros,
alegorias francas de esquisitices.
sandices nos entrelinhares
dessas terras d´aquém-mar
lar nem tão doce a ponto de falir-se
e prosperar-se em ataúdes de ingratidão.
paixão reverberada inexplicavelmente
nas trilhas da história tão demente.
consente o filho, consente o pai, o avô consente
e a vida, entanto, definitiva, desmente.
24.
refaz, Senhor, a minha luta,
para que dela eu reconquiste a paz.
o que do universos das minha mediocridades
eu posso renovar o sagrados das verdades.
canta, oh tristeza, o meu poema seco,
sem permitir-lhe musicalidade qualquer.
que ele dissimulado e frio
tanto quanto os vasões dos mortos
e os inebrios desavisadas vidas.
: entoando o canto, permaneça a garganta
porque sempre fruto imaturo da solidão,
porque fruto sempre da vastidão das
mortalhas.
Extraído de
PORTUGUESIA CONTRAANTOLOGIA- Minas entre os povos da mesma língua
org. Wilmar Silva. Belo Horizonte: Anome Livros, 2009. 507 p. (c/CD)
ISBN 978-85-98378-343-5 www.anomelivros.com.br – anomelivros@anomelivros.com.br
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