ABILIO BARRETO
(Diamantina, 22 de outubro de 1883 — Belo Horizonte, 17 de julho de 1957) foi um historiador brasileiro. Começou a escrever desde jovem. Enquanto frequentava a escola Nossa Senhora de Nazareno, Abilio já rabiscava os seus primeiros versos. Após se formar, publicou o seu primeiro livro "Versos de um autor anônimo". Na época o livro fez grande sucesso e Abilio decidiu que seria definitivamente escritor. Assim, assumiu o pseudônimo de Francisco Amado Jr. Conhecido por seus poemas e poesias românticas que encantavam a alta elite mineira, Francisco teve seus textos divulgados em profusão, tornando-se assim um dos principais autores brasileiros da época, e talvez um dos mais famosos da literatura brasileira. Em seus poemas, Francisco abordava assuntos com ênfase no amor, nos relacionamentos e no sexo.
Fonte: Wikipedia.
Foi membro da Academia Mineira de Letras.
BARROS, Jayme. Poetas do Brasil. Capa de Santa Rosa. Rio de Janeiro: Livraria José Olympio, 1944. 230 p. 12,5x18,5 cm. Capítulos: A formação da Literatura Brasileira: o meio, a raça, a influência estrangeira; Classificação da poesia brasileira; A poesia da natureza e a satírica; A Escola Mineira; O Romantismo; O Parnasianismo; Os Simbolistas; Os Pré-Modernistas; Conclusão. Col. A.M.
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Cai a chuva impertinente.
Que tristeza existe em tudo!
Na rua anda toda gente
De capa ou de sobretudo.
Ê assim que, na praça em frente,
No seu manto de veludo,
Formosa moça, impaciente,
Espreita o tempo sisudo...
Vem o bonde. Um banco escolhe.
Lesta e séria as saias colhe,
Com graça quente e superna.
E, então, no bonde subindo,
Mostra, ingénua, um quadro lindo..
Roliço palmo de perna.
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Sobre a capota descida
De um automóvel, bonitas
Colombinas, senhoritas,
Enchem de graça a Avenida.
De perto, logo em seguida,
Pierrots, em autos, catitas,
De serpentinas mil fitas
Atiram-lhes. Doce lida!
Sob a chuva policroma
De confete, em meio o aroma
Etéreo que em tudo adeja,
Trava-se a luta... sem briga,
Enquanto o povo formiga
Do Carnaval na peleja.
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O sitio é a margem de um rio
De água límpida, corrente,
Onde o fulvo sol de estio
E' abrasador, inclemente.
Vem daqui terno assobio;
Vem dali canção dolente,—
Langoroso desafio
Que enternece a alma da gente.
Sobre as gramíneas da margem,
Branqueando a verdoenga vargem,
Coram as roupas. Brejeiras,
De saias arregaçadas,
Curvas, n'água, descuidadas,
Batem roupa as lavadeiras.
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Tenho-te n'alma o retrato,
Trago-te bem na retina,
Berço meu saudoso e grato,
Minha terra — Diamantina!
Vejo a casa: é pequenina.
Murmura ao lado um regato.
Em frente há muros em ruina,
Roseiras bravas e mato.
Desce a rua em rumo à “Palha”
E, à esquerdo. . . Oh! não me falha
Nada de tudo que vi...
Lá está minha Mãe rezando
E eu, junto dela, brincando,
Na casinha em que nasci...
SONETOS. v.2. Jaboatão dos Guararapes, PE: Editora Guararapes EGM, s.d. 151 - 310 p. 16,5 x 11 cm. ilus. col. Editor: Edson Guedes de Moraes. Inclui 171 sonetos de uma centena de poetas brasileiros e portugueses. Ex. bibl. Antonio Miranda
LEMBRA-ME...
Lembra-me, Mãe querida, a glória que me deste,
A alegria do lar no lençol de cravinas.
A mes, o livro, o pão e as canções cristalinas,
As preces de ninar, no humildo berço agreste.
Ao perder-te, no mundo, o carinho celeste,
Vendo-te as mãos em cruz, quais flores pequeninas,
Fui chorar-te, debalde, ao pé das casuarinas.
Buscando-te a presença entre a lousa e o cipreste!...
Entretanto, de Além, caminhavas comigo.
Vinhas, a cada passo, anjo piedoso e amigo,
Guardar-me o coração na fé radiante e calma.
E, quando a morte veio expor-se à noite escura,
Solucei de alegria, em preces de ternura,
Em te revendo a luz, conduzindo min´alma!...
Página publicada em fevereiro de 2013; página ampliada em dezembro de 2019
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