ROSÁRIO CONGRO
(1884-1963)
Sonetista de Três Lagoas, Mato Grosso do Sul. Nasceu em Sorocaba, São Paulo (11 de setembro de 1884 – Três Lagoas, 11 de outubro de 1963) foi advogado, escritor, jornalista, empresário e político brasileiro e por duas vezes prefeito da cidade de Três Lagoas.
Em 1918, iniciou carreira definitiva na política estadual. Foi deputado estadual por várias legislaturas. No mesmo ano de 1918, foi nomeado intendente geral de Campo Grande. Mudou-se para Três Lagoas em 1921, onde inicialmente trabalhou como inspetor da Feira de Gado.
Escreveu obras literárias que lhe conduziram a uma cadeira na Academia Mato-grossense de Letras. Foi aceito na Associação de Imprensa Mato-Grossense pelo denodo com que fez jornalismo, fazendo-se um autor disputado pela sensibilidade de seus artigos. Tornou-se patrono da cadeira de número 16 da Academia Sul-Matogrossense.
TEXTO EN ITALIANO
AS GARÇAS
Morre a tarde de rosas na planura,
No Pantanal desce e tristeza agora,
Brancas, tão brancas como a neve pura,
Ao pouso as garças voltam, céu em fora.
Quando refulgem os vitrais da aurora,
Na beleza sem par da iluminura,
O bando, que nas frondes se alcandora,
Parte em revoada, sobre vasa impura.
Aves heráclitas das verdes naves,
Dos silêncios profundos e suaves,
No sonho azul das íbis enlevadas...
Lírios alados das regiões serenas,
Trazeis na alvura imácula das penas
A pureza da virgens impecadas!
A VENDEDORA DE ROSAS
Vendes as rosas que trazes
nas lindas mãos de alabastro.
Seguem-te, todos, o rastro,
ao doce encanto que fazes.
Mesmo que em mim se plantasse
a amarga dor de perder-te,
é meu desejo querer-te
nas rosas que tens na face.
Compro tuas rosas à parte,
essas que trazes na mão,
— terei perdido a razão?
para com beijos pagar-te...
Eu quero as rosas que tens
nesse teu rosto bonito,
mas tão perverso, acredito,
pois tardas tanto... não vens!
PALMEIRA
Tem a palmeira na esbeltez do porte
toda a ufania, a majestade e a pompa
dos paços imperiais.
A embalar-se no cimo sobranceiro,
beijando o puro azul que lúcido se arqueia,
ao sol se of’rece desnastrando a coma.
É de se ouvir então o doce epitalâmio
dos módulos sabiás!
Entre as que vejo embelezando a praça,
em colunatas circulares
ou perfiladas sobre as avenidas,
velha ruína se mantém de pé.
Não mais tem, a flutuar, a verde cabeleira,
e o busto ereto os vendavais afronta
sustido ainda nas raízes mortas!
COMO ERAS BELA!
Teu passado revive nos idílios
que protegeste à luz dos plenilúnios.
Contaste a história da cidade amiga,
as altas palmas farfalhando alegres.
E como asas cansadas se quedavam,
quando a tristeza sobre nós descia...
Quanta nobreza em teu destino existe!
– Como tu, quis subir, sozinho, o poeta...
– Como tu, fronte erguida, hei-de morrer!
A MANGUEIRA
Na plenitude da sazão, maduro,
a casca de cetim olente a rosas,
a polpa sumarenta e doce
doirada como um favo,
foi-me o soberto fruto uma delícia
que eu, sôfrego, sorvi.
A sadia semente à terra dei
para o mistério da reprodução.
Germinou.
E a terra, esplêndida nutriz,
em pouco o broto inicial ergueu.
Tomei-me em zelos pela tenra planta
que promissivo arbusto se tornou.
Por fim, arboresceu.
O tronco, reto, deu-lhe o porte senhoril,
a graça, a distinção.
Entre as demais é mesmo a mais bonita.
Povoada de pássaros,
não tardou que a primeira e virginal florada
cobrir lhe viesse, efusa, a fronde.
Era a festa gentil do seu noivado!
Vinte e cinco verões contando agora,
impávida afrontando os rudes temporais,
sua majestade, secular parece.
Congregadas um dia como as monjas
do claustro no silêncio augusto,
das árvores seria a prioresa.
Abençoada existência a da mangueira,
pródiga sempre de gostosos pomos
como de sombra acolhedora e amiga!
Minha doce mangueira e meu enlevo,
sob o zimbório verde,
à luz do luar que escorrer pelas frondes,
a minha prece panteísta elevo!
TEXTO EN ITALIANO
Extraído de
MIRAGLIA, Tolentino. Piccola Antologia poetica brasiliana. Versioni. São Paulo: Livraria Nobel, 1955. 164 p. Ex. bibl. Antonio Miranda
L E G A Z Z E
Muore il vespro di rose, alia pianura,
E nel pantano è la tristezza, ora.
Bianche, sl bianche, come neve pura,
Ritornano le gazze alia dimora.
Quando luce il vetrale dell’aurora,
Bellezza dalla fulgida pittura,
Dal branco, che sui rami posa, allora,
Parte lo stormo sulla melma impura.
Uccelli alteri, di navata verde,
Dal silenzio profondo, che si perde
Nella visione all’ibis consagrata . . .
Giglio alato, ieratico, solenne,
Ei porta nel candore delle penne
La purezza di vergine illibata.
Ampliada e republicada em janeiro de 2015.
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