ROCK ZANELLA
De
Rock Zanella
Oeste - Roteiro Poético.
Campo Grande: Editora UFMS, 2004. 66 p. 15,5x27 cm
"Não faltam entre os poemas referências à fronteiras e à mestiçagem cultural da região corumbaense, sem que se recaia num regionalismo referencial imediato".
MARIA ADELIA MENEGAZZO
MANADA
PELO RIO QUE INUNDAVA
O QUINTAL DE SUA CAS
A GURIA TRAVESSAVA
UM CORDÃO DE GIAS
E ASSIM PEJEJAVA ELA
PELO RESTO DO DIA
NO COAXO DE SUA MANADA
CORUMBÁ
HÃO ESTRELAS MÍOPES SOBRE
OS MUSGOS DA LADEIRA
E ARREBENTADOS CREPÚSCULOS
NO CAIS DO PORTO
À SOMBRA DOS CASARIOS FLAMBOIADOS
MULHERES PRETAS CATAM PIOLHO
E DESENGONÇAM
BURGRINHOS SUJOS CORREM DELAS ASSUSTADOS
HÁ ESCAMAS ENCOBRINDO
AS RUAS DE PARALELEPÍPEDOS
E LUGAR QUE SE ESCONDE
SOBRE PEDRA DE ARDÓSIA-CALCÁRIA
PELA BRISA DOS BARCOS VELHOS
MOSQUITOS ARREOAM AS ENTRANHAS
DO HORIZONTE
MULHERES BUGRAS ESPERAM OS HOMENS NEGROS DO RIO
PAIAGUÁS*
UM SELO D´ÁGUA BROTOU
NUA FONTE DE ONDINAS PRIMITIVAS
ARCO E FLECHA DESLIZARAM
NUM CORPO LUSTROSO DE ESCAMAS
*Tribo indígena que domina os rios pantaneiros.
BARRANCO
O NINHO DAS ÁGUAS ENLAMEADAS
REBUSCA A TERRA NUMA CASCA DE LODO
PINTADOS PACUS PIRAMBEVAS
CASCAM DEDOS E BROTOS DE FRUTOS VIRGENS
A VARA DE BAMBU CRUZA O POÇO RASO
NUM MERGULHO PROFUNDO
E RETORNA SECO O ANZOL FERIDOR
QUE ENGANA O JAÚ COM MINHOCA OU MUÇUM
URUCUM
UM MACIÇO ANGULOSO
HABITADO POR MINÉRIOS E VIAS
SUBIU AO TOPO DA CIDADE VELHA
PARA TINGIR DE RUBRO
O CORPO DA PAISAGEM |