Rio que é Rio nunca é estéril.
Engravida.
Uns, frequentemente.
Outros, de quando em quando.
Mas, pega cria.
Se emprenha.
Embarriga.
Abre pernas
e corre gemendo na noite medrosa
levantando Parteiras Crianças Galinhas
Pescadores... Gente que entende tudo sobre
prenhez do Rio.
Emprenhado, ele arrebenta, sai da caixa e num
ronco surdo, cheirando poeira de redemoinho de
sexta-feira santa, vai unindo
corquinhos-lagoas-vazantes-baías-corixo num mar
de águas de um único nome.
Vai léguas e léguas sestear inquieto em catres,
berços, sofás e redes alheias.
Rio que é Rio é fértil
se embucha
estufa
bufa e arrebenta.
Tem desejos inesperados.
Vai além do demarcado.
Beija babando as costas da ponte
Quando não arrasta-a de vez.
Rio que é Rio
dobra esquina
sobe escada
entra sem bater.
CoRcOvEiA eM CaMpO AbErTo.
Feito redomão que toma cabresto.
Nem cerca de cinco fios segura.
Se alonga em mata alta
Enfurece,
urra,
baba,
espuma
e, à vezes, MATA!
Rio que é Rio
Também, se amansa
Cansa.
E, volta ressabiaaaado
pro leito...
Pantaneiro conformado não repara o que o Rio leva.
Enxerga o que ele trás:
adubo abundante pra terra lavada;
corixo crescido, cheio de peixe;
pastagem forte, verde-azul!
Pantaneiro sab... Rio buchudo é fêmea
que trás vida.
Muitas outras vidas.
(1988, última grande cheia do Aquidauana).