KEILA MATTIOLI SOUSA
PRÉ-SENTIMENTO
De noite senti desgraça
entrando.
Em casa.
Não duvidei dela.
Ela riu.
Abri a janela para ela
ressoar.
Tinha uma nuvem pra
chuva.
Quis tirar este silêncio de
mim.
INTENÇÕES
Lá adiante um pé de bocaiúva
junta seu cacho baixinho com guavira.
E onde céu tem precedência,
água branca de mata arroja ímpeto
e desce como assobio de saci.
Maritaca sossobra de asa e grito
como criança mijada.
Tudo combina de cor e entre-cor
graça e abandono de mato
como beleza bondade e mistério
de mulher apaixonada.
Zoró de tudo, vento brinca
de esconde-esconde com século.
No aroma dos longes,
criatura-homem se apequena.
Não sabe se ser de bem com coisa feita.
E sofre com dor-de-mágoa quando pasma.
CANTILENA N. 1
Desemborquei uma cantilena de amor.
Estava sentindo escombros.
Velhos, mofados.
Abri uma janela pra gota de chuva entrar
e ela deu de bater em meu rosto;
achei que queria dizer acorda!
As coisas todas são manchadas de sonhos,
e a gente fica permanecida neles
e leva seus apetrechos igual escora...
Ontem era uma noite embaçada e
eu tinha medo dela porque nunca tive medo.
Agora vem um olho em mim e ele excedeu.
E eu desconsegui escrever uma cantilena
porque quis te acarinhar...
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