ADALBERTO MÜLLER
MÜLLER, Adalberto. (Júnior) nasceu em Ponta Porã, na fronteira com o Paraguai. É nómade desde os 16 anos, tendo vivido em Campo Grande, Campinas, Brasília, Curitiba, São Paulo, Kõln e Münster. Desde 2009 vive no Rio de Janeiro. Também pratica o fronteirismo e o nomadismo intelectual e criativo. Doutor em Letras pela USP, atuou e/ou atua como professor de Literatura e de Cinema em algumas
universidades (UFPR, UTP, UnB, Lyon2, UFF); pesquisador do CNPq (Bolsa PQ) em Literatura e Cinema, e membro do Conselho da SOCINE; roteirista e diretor de cinema, realizou, em 2008, o curta-metragem Wenceslau e a árvore do gramofone, baseado em poemas de Manoel de Barros, e agora prepara um documentário sobre Benedito Nunes; tradutor de poesia, publicou traduções de Francis Ponge (O
partido das coisas, A mimosa), de E.E. Cummings (O tigre de veludo, indicado ao Prémio Jabuti), de Paul Celan (Revista Oroborò) e de Joan Brossa (Revista Zunái); poeta, publicou poemas em revistas como Coyote, Poesia sempre e Inimigo rumor, além dos livros Ex officio (Paris, 1995) e Enquanto velo teu sono (7Letras, 2003).
MÜLLER, Adalberto. Escrita das cinzas, silêncio do fogo (2002-2010). Rio de Janeiro: Oficina Raquel, 2010. 64 p. 12,6Z’8,7 cm. capa dura Foto da capa: João Antonio; Foto da contracapa: Manuel Müller. ISBN 978-85-61129-11-8 Col. A.M.
PESCARIA NOTURNA
o mar é escuro
o pescador retém a rede
e aguarda
que a lua saia
das nuvens
derramando seu leite
sobre as ondas
num lance
a rede vem cheia de estrelas
noutro
vem a lua pesada
e gorda
como um polvo
o mar é escuro
o pescador sabe
o melhor momento de pisar
as ondas
ÍCARO
talvez
todo esse ruflar
de asas por dentro não
seja mais que um rumor de plumas
não mais que o bater de um músculo
na jaula do peito não seja talvez
mais que um rumor de penas
não seja isso apenas mais
que cera ao sol
talvez
O TEMPO DO POEMA
para Alcides Villaça
lento lento lento
o poema se gesta
canção de
gestos inefáveis
um dia se olha no espelho
e rugas lhe escavam
a face
ninguém o leu
tão a fundo
quanto o
tempo
MÜLLER, Adalberto. Enquanto velo teu sono. Rio de Janeiro: 7Letras, 2003. 70 p. 13x20 cm. ISBN 85-7577-089-9 Col. A.M.
PLANTAS EM VIVEIRO
Este secreto recanto
esconde muitas vidas:
o discreto charme
das alamandas
tão brandas
vaginas abertas ao acaso;
a inocência dos amarantos,
o sorriso dos beijos eternamente
felizes.
Esse pequeno jardim
da infância,
a memória hoje recria
em seu viveiro de sensações perdidas : as
mãos roçando o tenro
veludo
das violetas.
UM CANTO DE
Silêncios-
a noite desliza lenta
escondendo estrelas.
Uma guitarra
sem cordas corta
o ar com seu gume
de espelhos quebrados.
No ventre obeso
do mar sem lume,
ensaio um canto.
Não o podes escutar,
submersa no sono
da distância, que tece intrincados
desvelos.
Esse canto te procura, tat-
eante como um cego.
Um canto át-
ono, quase
um sussurro (cheio
de silêncios.)
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FANTASMA CIVIL. XX Bienal Internacional de Curitiba 2013. Organização Ricardo Corona. Curitiba, PR: Fundação Cultural de Curitiba, 2013. 43 cartões com imagens aéreas de Curitiba e, no reverso, versos de poetas paranaenses. Projeto gráfico Medusa. Obra inconsútil. ISBN 978-85-64029-08-8 Inclui os poetas: Josely Vianna Batista, Lindsey R. Lagni, Ademir Demarchi, Luci Collin, Fernando José Karl, Roberto Prado, Sabrina Lopes, Bruno Costa, Amarildo Anzolin, Carlos Careqa, Roosevelt Rocha, Camila Vardarac, Marcelo Sandmann, Vanessa C. Rodrigues, Anisio Homem, Greta Benitez, Ivan Justen Santana, Mario Domingues, Marcos Prado, Bianca Lafroy, Estrela Ruiz Leminski, Sérgio Viralobos, Alexandre França, Helena Kolody, Wilson Bueno, Paulo Leminski, Alice Ruiz, Zeca Corrêa Leite, Édson De Vulcanis, Afonso José Afonso, Homero Gomes, Leonardo Glück, Hamilton Faria, Emerson Pereti, Andréia Carvalho, Ricardo Pedrosa Alves, Priscila Merizzio, Marcelo De Angelis, Adalberto Müller, Cristiane Bouger.
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Página publicada em fevereiro de 2013; ampliada em dezembro de 2016. |