RONALDO DE CASTRO
Nasceu em Cuiabá, Mato Grosso, em 1941, mês de março, 17. Filho do consagrado poeta Rubens Mendes de Castro e da abnegada professora Antonia de Arruda Castro ( professora Teté). Autor de várias obras inéditas.
De
CUIANANÁLIA
Cuiabá: Fundação Cultural, 1989
A ÁGUA
A água corre
a distância cilíndrica
e num jato frio morre
na boca nívea da pia
A esponja mineral
do canteiro chupa a água
O esgoto é sepultura
das águas desta cidade
que lavam ruas e sexos
e a sede matam também
Pluvial ou água clorada
a água líquida informe
são as formas diluídas
de sorrisos naufragados
Quando o gelo é água dura
engarrafada é pileque
no rio é casa de peixe
no céu é nuvem eqüestre
no mar pode ser salitre
Água água sempre água
deslizante fugidia
água benta batizando
água suja intoxicando
água quente e água fria
Já que a seca é falta d´água
matando plantas e bichos
a humanidade é pau-d´água
Água água sempre água
A ÉGUA
A égua corre
come a pista
engole o pasto
bebe a água
Quando ela come
o espaço vasto
os seus humores
molham o pasto
A água forte
patas aéreas
carreiras corre
correndo ganha
Porém se topa
no prado o macho
relincha fêmea
só vê o sexo
Seu vôo pára
a fúria abranda
correr não corre
não come a pista
(Domesticou-se
no prado a água:
só bebe água
e engole pasto)
SINTAXE
Palavras militarizadas
vigiadas pelo batalhão de guardas diacríticos
? , ´ — ^ : . — ; !
Palavras palavras palavras palavras
Militar—izadas
Palavras algemadas virguladas
Proibidas de viver por si mesmas
Perfiladas em posição de sentido
Esquerda volver direita volver
Palavras mar-chadeiras marcha-deiras
palavras de co-turno
letras feitas de –––––––––––––– silêncio
palavras insonoras
m i l i t a r i z a d a s
Palavras sem vôo próprio
amarradas ao chão de outras palavras
grávidas de –––––––––––––––– silêncio
sôfregas de liberdade
filhas da ordem-do-dia
palavras palavras palavras
um — dois um — dois um — dois
Palavras em—fileira—das
bem alinhadas e tristes
a que faltam alvoradas
palavras encabrestadas
algemadas virguladas
m i l i t a r i z a d a s
Os homens são palavras marcha-deiras
m i l i t a r i z a d a s
na sintaxe social
Página publicada em maio de 2008 |