Home
Sobre Antonio Miranda
Currículo Lattes
Grupo Renovación
Cuatro Tablas
Terra Brasilis
Em Destaque
Textos en Español
Xulio Formoso
Livro de Visitas
Colaboradores
Links Temáticos
Indique esta página
Sobre Antonio Miranda
 
 


 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 


LUCINDA NOGUEIRA PERSONA


LUCINDA NOGUEIRA PERSONA

 

 

Paranaense de Arapongas, vive em Cuiabá, Mato Grosso, Brasil.  Na poesia estreou com Por imenso gosto (Massao Ohno, 1995) — Prêmio Especial do Concurso Cecília Meireles (1997) da União Brasileira de Escritres – UBE. Pela 7Letras, publicou Ser cotidiano em 1998 e Sopa escaldante em 2001 – Prêmio Cecília Meireles (2002) da UBE e Leito Ao Acaso, de 2004.  É autora de livros infanto-juvenis, contos e crônicas. Professora da Universidade Federal de Mato Grosso e Universidade de Cuiabá.

PERSONA, Lucinda Nogueira.  Leito do acaso.  Rio de Janeiro: 7Letras, 2004.  85 p. 14x21 cm.   Capa: Silvia Vieira, ilustração As bailarinas, de Helena Dal´Maso.  ISBN 85-7577-146-9  “ Lucinda Nogueira Persona “  Ex. bibl. Antonio Miranda

 

AQUELES POMBOS

Mais uma vez escrevo
o que não tem sentido:
interessante foi a atenção
que me prestaram
aqueles pombos em Veneza
desenho animado
em torno de meu corpo
como se fossem pombos mesmo
(e não pombos)
e eu talvez
como se verá sempre
uma existência entregue
a um programa de inércia
mas não como se fosse torre

Aonde quer que eu vá
me levo como sou.


PRATOS DE SOPA

Os pratos de sopa
fumegavam
servidos à família
Uma concha de sopa
em cada prato
regulava nossas vidas
nem antes
nem depois do crepúsculo
Nesse horário
num ligeiro abrir e fechar de porta
ou num pisca de olhos
uma sombra entrava na casa
uma sombra entrava na carne
Complicando um pouco as coisas
escuridão e carne eram uma só coisa

(dormíamos)

         O sono igual matérias
         que completamente diferem.



AÇÚCAR

Do cristal bom:
até onde se pode falar nisto
eu falo

a presença do açúcar
determina o roteiro exato
os caminhos de ida e volta:
como a ida pode ser alegre
como alegre pode ser a volta.

 

UM HOMEM TRISTE

 

Em local desprotegido

caiu a noite.

 

Nuvens dilaceradas

flutuavam distantes

como lenços perdidos.

 

Um homem triste

olhando o teto de estrelas

pensou: sou pequeno

terrivelmente pequeno

e mais ainda diminuiu em altura.

 

Depois, por certo tempo, ele chorou.

Não a quantidade necessária

para cada amargura soterrada

porém o suficiente

para alívio momentâneo.

 

Quando voltou a olhar o céu

frangalhos de nuvens

                            estrelas

pensava um pouco melhor:

eu sinto outra coisa maior

maior do que qualquer constelação

o que eu sinto é enorme e se estende

em todas as direções

(mas o que é eu não sei).

 

 

         (De Sopa Escaldante)

 

 

QUARTO 412

 

As vezes

em outros lugares

não sou a mesma.

 

Ibis Hotel, quarto 412.

É muito tarde

estou cansada

mas não quero perder os objetos

tal como se apresentam.

Um espelho entorpecido

recolhe as imagens que irão

desaparecer no escuro.

 

Outras vezes

são os lugares que não querem me perder

Não tenho certeza de nada

quantas pessoas já dormiram neste quarto?

quantas já se amaram nestes lençóis enrugados?

quantas vezes as mesmas palavras foram ditas?

quantas palavras já morreram

entre estas quatro paredes

(revoltas e perigosas)?

 

 

         (De Sopa Escaldante)

 

 

 

PERSONA, Lucinda Nogueira.  Sopa escaldante.  Rio de Janeiro: 7Letras, 2001.  87 p.   14x21 cm. Capa: Marcos de Moraes.   ISBN 85-7388-261-1  “ Lucinda Nogueira Persona “  Ex. bibl. Antonio Miranda


 

 

MATO GROSSO EM LABAREDAS

 

Ontem, no telenotícias do meio-dia,

vi cangurus desnorteados

num incêndio na Austrália.

De imediato, sobre o leito de cozidos

remontaram outras imagens

dos incêndios deflagrados

na paisagem regional.

Vi Mato Grosso em labaredas

as labaredas como cordas estrangulando

gargantas que se uniam

na música da carne em combustão.

Vi emas atônitas

despenhando ao longo das chamas

e serpentes abrasadoras subindo

pela agitada coluna de fogo.

Muito mais tarde (penoso contar)

vi ninhos e lagartos ao rescaldo.

 

 

         (De Leito de Acaso)

 

 

COISAS QUE MORTAS PENSAMOS

 

Episodicamente

a vida aparece.

Isto não quer dizer

que nos intervalos

ela não exista.

O que há de notável

(ou mais do que isto)

é que a vida se manifesta

nas coisas que mortas pensamos:

no seio do amarelo

e algum conflito

no luto das sementes

que retornarão aos ramos.

Não sei quantas vezes ainda

buscarei a realidade

na realidade oferecida

por um mamão cortado ao meio.

 

O que também não sucede

aos demais transeuntes

quando atravessam cozinhas?

 

 

 

 

FERREIRA, Sônia Chuva de poesias, cores e notas no Brasil Central – história através da arte.  2ª. edição revista e melhorada.  Goiânia: Kelps, 2007.  294 p.  ilus. col.         (antologia de poemas de autores do CECULCO – Centro de Cultura da Região do Centro-Oeste)   Ex. bibl. Antonio Miranda

 

                SOBRE A MESA BRANCA

 

Entornou duas medidas de arroz

escolheu

revolveu

levou séculos construindo dunas

e desmanchou

Afundou as mãos

na cor inauferível daquela areia

depois atravessou um deserto

Nenhum grão partido

nenhum item estranho

que desordenasse

o de todos os dias
Lavou cuidadosamente o que estava limpo
combinando com paz e luz de esmalte
Levou ao fogo as. sementes mortas
A panela de alumínio chispeava
o aroma do alho foi além dos muros
Então

sorriu amarelo para a falta de mistérios
para o pouco significado da experiência
Somou

sonhou e sonhou

enquanto cozinhava

as (des) vantagens de ser comum

 

 

ROTEIRO DA POESIA BRASILEIRA: ANOS 90.  Seleção e
prefácio Paulo Ferraz; direção Edla van Steen.  São Paulo:
Global, 2011.  (Coleção Roteiro da Poesia Brasileira)
ISBN 978-85-260-1156-4                
Ex. bibl. Salomão Sousa

 

CALABOUÇO

Vida
lavrada na ata cotidiana
das realidades perdidas
(e amadas inutilmente).

Estou agora como gosto de estar
entre meus objetos e os escombros
do silêncio noturno. Aqui, nesta sala
neste universo com princípio e fim
onde nada se transforma
de uma hora para outra
e qualquer visita é improvável.

Não faz tempo (eu que estou
no imenso calabouço de uma noite)
tive uma assombração de sol
fui à cozinha e vi mamões maduros
adormecidos na fruteira.
Os mamões têm sementes negras
sementes negras e úmidas
em seu calabouço
e que amanhã poderão estar livres
dar novos mamoeiros
eu, não
e o mundo é assim.

(Sopa escaldante – 2001) 

 

TAMBÉM ACORDO NO MEIO DA NOITE

Como num poema
de Fabián Casas *
1
também acordo no meio da noite
tenho a clara urgência de um copo de água
não há de fato nenhum mistério nisto
não é nenhuma aventura pular fora da cama
para ir à cozinha.  Entretanto
registro o silêncio e a escuridão

apenas uma lembrança de luz nas pupilas

atravesso a casa sem acender as luzes
(há um barco que vai de uma margem à outra
no meio das trevas)

realmente
o fato é comum
sem importância
inofensivo
até o instante em que abro a geladeira
e o frio da paisagem me apanha em cheio.

                                            (Sopa escaldante – 2001) 

*1 CASAS, Fabián.  70 poetas argentinos 1970 – 1994.  Buenos
Aires: Editorial Plus Ultra, 1994. p. 66*


LB revista da literatura brasileira. 25  -  Direção: Aloysio Mendonça Sampaio. São Paulo, SP:  2002. 46 p;  14 x 21 cm.   Ex. doado pelo livreiro BRITO – Brasília- DF

 

                NO JANTAR

            
No jantar
              e impacientes
              quando nos sentamos à mesa
              no domínio plácido da cozinha
              temos uma torrente
              de pequenos fatos
              Aquisições (de uma jornada contrafeita)
              que jamais serão compartilhadas...
              A julgar pelas nossas bocas ocupadas
              pelo silêncio encomendado
              ou pelos nossos olhares
              que se cruzam
              mas não se encontram.


              Os restos mortais do cerrado   

              
Rajadas de um vento quente
               depois das queimadas
               trazem restos mortais do cerrado
               para dentro de casa. Todos os anos.
               Por isso
               já não me intimido mais
               quando aranhas estorricadas
               descem por meus cabelos
               ou orquídeas em pó assomam à minha face;
               quando os meus dedos pendem
               abrasadoras samambaias.
               Nem me assombram os bicos de siriemas
               levitando pelas salas
               sem os olhos sem as penas sem as vozes.
               Choro tudo: a resina o carvão
               os ossos à tona das cinzas.
               Choro também os homens. Todas as vezes.

               Pequeno ser vivo

               
(deste vazio eu não morro)

                eu
                pequeno ser vivo
                as vértebras doendo
                olhando o firmamento

                começa neste instante
                a esboçar-se a noite
                        é raro que eu não dê atenção ao fato
                        é raro que eu não chore um pouco
                        é raro que eu não tenha um desejo

                 diante do crepúsculo
                 num canto particular do mundo
                 reconheço
                 que muitos e muitos
                 já publicaram o assunto
                 e felizes foram e felizes foram

                 que modo simples e maior existiria
                 para eu ser feliz como aqueles?

                 qual é
                 ainda não sei

 

                                  
   www.sospantanal.org.br/tuiuiu-ave-simbolo-do-pantanal/

                
                 TUIUIÚ

                 
De nossas necessidades
                  faço histórias, ponderações, estudos
                  explicação comum de tuiuiú em tenho:
                  ele passou da conta no crescer.

                  O tuiuiú, quando acorda e abre as asas,
                  ultrapassa as bordas do amanhecer
                  deste modo,
                  o espaço aéreo só comporta um.

                  O tuiuiú é tão grande, tão grande que
                  ao levantar voo
                  o céu sai de perto.

                  Por fim, Senhor meu, por fim
                  quando um tuiuiú vai a óbito
                  (porque nesta vida não falta adversidade)
                  quando um tuiuiú vaia a óbito
                  as borboletas requisitam guindaste
                  (pelo menos para as penas — do lado do
                                                                 coração.
 ***
           
O tuiuiú (Jabiru mycteria) é uma cegonha encontrada desde o sul do México até o norte da Argentina, mas 50% da população está no Brasil, principalmente na planície pantaneira. Com pernas longas, bico comprido, cabeça preta, corpo branco e uma faixa vermelha no pescoço, é uma ave que, definitivamente, marca presença. 

* 

VEJA E LEIA  outros poetas de MATO GROSSO em nosso Portal:

http://www.antoniomiranda.com.br/poesia_brasis/mato_grosso/mato_grosso_index.html

Página ampliada e republicada em junho de 2022

 

 

 

 

 

Página publicada em abril de 2009; AMPLIADA em dezembro de 2019

 

 

Voltar a página de Mato Grosso Voltar ao topo da página

 

 

 
 
 
Home Poetas de A a Z Indique este site Sobre A. Miranda Contato
counter create hit
Envie mensagem a webmaster@antoniomiranda.com.br sobre este site da Web.
Copyright © 2004 Antonio Miranda
 
Click aqui Click aqui Click aqui Click aqui Click aqui Click aqui Click aqui Click aqui Click aqui Click aqui Home Contato Página de música Click aqui para pesquisar