IVENS CUIABANO SCAFF
1951 Ivens Cuiabano Scaff, médico e escritor, poeta autor de Mil mangueiras, entre outros.
Mil mensagens
discreta e presente
integrada no céu da tarde
a grande mãe
mais tarde reforçará o brilho
frente às trevas
branca
apenas boia na claridade
como numa cadeira de balanço
relançando serenos raios ao sol poente
quieta
já um espetáculo
esperando pra entrar em cena.
por uns belos olhos
me esqueci
de tudo que tinha ou era
do que soubera
de todas as quimeras
no caminho do não pisar.
hoje vejo que tudo foi
como procurar num aquário
o peixe escondido
e não encontrar.
sonhar é bom,
estranho é acordar.
Me faz uma casa
ah! minha gentil arquiteta
me faz uma casa
e eu te convido a morar
uma casa aquática assim
com uma piscina imensa
formato?
claro que o do mar Egeu
me bola uma casa ventosa
pra tilintar campainhas chinesas
derrubando os vasos das mesas
— e você reclame ao arrumar -
uma casa bem gostosa
uma varanda pra prosa
toda a noite apos o jantar
use os teus materiais modernos
mas preserve o barulho da chuva no telhado
algum canto fresquinho e sombreado para eu poder cismar
um jardim com um jeito antigo
um portal com um ar amigo
convidando a se entrar
suíte pra mim é nome de música
quero então uma alcova
onde eu depondo a armadura
me arme de toda a candura
para poder te amar
vai! desenha a casa
vamos sonhar
pagando o resto da vida
as prestações do BNH.
Extraído do livro Fragmentos da Alma Mato-grossense, antologia organizada por Maria Teresa Carrión Carrecedo, com textos de Manoel de Barros, Silva Freire, Wlademir Dias-Pino, Lucinda Persona, Ivens Cuiano Scaff e Ricardo Guilherme Dicke. Cuiabá: Entrelinhas, 2003, de um exemplar gentilmente cedido por Wlademir Dias-Pino e Regina Pouchain.
Página publicada em outubro de 2009.
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