CLODOALDO D´ALINCOURT SABO DE OLIVEIRA
Nasceu em Cuiabá a 29 de abril de 1906, poeta. Publicou: “Página d´Alma” (versos, 1944), “Destino” (versos, 1952), “Musa Heróica”, “Sombras Humildes” (poemas sobre os cães. Rio de Janeiro: Laemert Ltda, 1963).
CUIABÁ
(Ao escritor Rubens de Mendonça)
A ti, ligado pelo pensamento
Sonho e te vejo, tal como eras dantes:
Reclinado e feliz ante o barrento
E grande rio de águas sussurrantes.
As canoas ao léu, — cenas de outrora —
Com as chegas das lanchas, imprevistas...
Assim te vejo ó minha aterra, embora
Surpreendas com o esplendor que hoje conquistas!
Sem ter mais ilusões, sem mais conforto,
Eu quisera rever-te, berço amigo,
Na humildade feliz do antigo porto,
Com as velhas construções e o povo antigo.
Nesse tempos de criança, alheio à Sorte
E aos tormentos da Vida, que sentia
Quando o sino da igreja Boa Morte
Desandava a planger à Ave Maria!
Sim, quisera rever-te. Na distância
E no exílio em que vivo, nunca mais
Será dado sentir a minha infância
No velho casarão dos ancestrais!
Como o bom “Tio Vivi”, fazendo tudo
Para nos orientar na fase mansa:
Na escola — um mestre por demais sisudo;
Lá fora, como nós — tranquila criança...
Para nos ver felizes nessa idade,
Tinha a paciência elástica de Jó...
Sem mostrar a menor contrariedade
Por vezes nos levava ao Coxipó!
E nas águas profundas mergulhando,
— Garimpeiro do ideal que hoje entesouro —,
Vinha à tona mostrar, de quando em quando,
Na mão crispada uma pepita de ouro.
Da riqueza que guardas com desvelo,
Ó minha terra de beleza imensa,
E decantada, é grato assim dizê-lo,
Por Mesquita, Mendonça, Aquino e Proença.
Quisera ver-te — eu digo, conformado, —
Nesta idade em que tudo é desalento.
Para viver um pouco no Passado
Que ficou na extensão do pensamento!
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Extraído de
DAUBIAN, Emanuel Ribeiro. De Cuiabá e em seu louvor. 1727-1977. 2ª edição
comemorativa da elevação do arraial de Cuiabá a Vila Real do Senhor do Bom Jesus.
Cuiabá: Imprensa Oficial do Estado de Mato Grosso, 1977. 77 p.
Página publicada em outubro de 2011
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