WANDA CRISTINA
Wanda Cristina da Cunha e Silva nasceu em São Luis do Maranhão. Jornalista, escritora, poetisa, professora. Cinco livros publicados: UMA CÉDULA DE AMOR NO MEU SALÁRIO (poesias), ENGRAXAM-SE SORRISOS (crônicas), REDE DE ARAME (poesias) GEOFAGIA RUMINANTE NO SÓTÃO DA PREAMAR (poesia) e FLOR DE MARIAS NO BUQUÊ DE COSTELAS (antologia poética). Em fase de publicação, estão os seus livros: O PAÍS ESTÁ NU (crônicas); CACHOEIRA DA SAUDADE (crônicas), MENINAS-DOS-OLHOS DE DEUS (contos); CARLOS CUNHA: planos jornalístico e literário (monografia) e CONFISSÕES DA ILHA (reportagens). Estréia na literatura aos dezoitos anos. Pertence ao Instituto Histórico e Geográfico do Maranhãoe à UBE. Formada em Comunicação Social (Jornalismo), pela Universidade Federal do Maranhão e Letras, pela Universidade Estadual do Maranhão, com pós-graduação em Língua Portuguesa, pela Salgado de Oliveira e Comunicação e Reportagem, pela UEMA. Ganhou prêmio promovido pela Academia sobre a Vida e a Obra de Coelho Neto e ficou entre as 20 melhores colocadas no III Concurso Escribas de Contos de Piracicaba, com o conto PAREDE TEM OUVIDO. Dirigiu e coordenou várias páginas literárias de jornais maranhenses, dentre os quais a do Atos e Fatos e do Jornal o Debate. Colaborou no "Ponto de Prosa", caderno de o Jornal O IMPARCIAL e tantos outros. Professora de Língua Portuguesa e Literatura.
Fonte da biografia: www.varaldaliteratura.ale.nom.br
Poema para a Morte
Não adianta, Morte,
encheres a varanda de vazios,
desarrumares o cheiro de terra molhada
que vem dos sonhos das Cristinas.
Não adianta, mesmo
mudares os meus versos,
soprando ventos frios
no meu peito.
Eu sei que os 18 anos
que Tereza deixou
esperaram os meus
que já não são.
Mas, mesmo assim,
não adianta encheres de procura
tudo que encontramos,
na busca de Tereza.
Não adianta, Morte,
labirintares a nossa espera,
porque amanhã, quando Tereza voltar,
rindo o seu riso, os nossos risos,
tu serás, apenas, uma lembrança
da brincadeira de Tereza.
Mensagem
Asfaltando minha cabeça,
Meus cabelos brancos
buscam suas raízes
dentro de um cérebro
que levou ao meu coração
a mensagem de te amar
nesta poesia.
Poema do ser assim
Você precisa conhecer a solidão.
Ela é baixinha como eu,
e é magra, e é triste
e fuma todas as melancolias
que, um dia, alguém fumou.
E faz poesia em espírito gonçalvino,
e adentra o Modernismo sem saber inglês...
Já foi boêmia como Baudelaire,
e bebeu a multidão de um gole,
embriagando-se do perdido
pra nunca mais deixar de ser
a bêbada predileta
dos bares de todos os homens.
Você precisa conhecer a solidão.
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Ela é a consciência,
o abrigo, a chave de todas as portas
que guardam o segredo do SER ASSIM...
Ela nunca morreu em alguém,
antes desse alguém ter morrido.
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(Uma Cédula de Amor no Meu Salário,1981)
Olhar Descalço
Calcei os olhos com o olhar de sempre
e sai a rua para olhar o sol...
E voltei com o silêncio pegado a minha língua,
e chorei com o olhar pegado às minhas lágrimas...
Invadi um jardim de um cão sem dono
e o meu olhar descalço pisou nas rosas.
Babugem de esperança
Este soneto que sai a boca,
salgado e amargo, exalando dor,
é a babugem da esperança louca,
que desbotou em lágrimas de amor.
Inúteis foram as noites acordadas,
poemas tristes, olhos que choraram:
inúteis foram as dores suicidadas
nos meus carinhos que te desculparam.
Estou sozinha com a minha mão.
E estes meus dedos que te compreenderam
puseram a culpa no meu coração.
E as saudades que me envelheceram,
presas em jaulas de ingratidão,
insistem em viver, mas já morreram.
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Termologia de Tereza
Tenho tecido Tereza todo tempo,
teimando ter tido todo tempo tudo.
Tecendo Tereza, tenho todo tempo
Tentativa de ter todo tempo tudo.
Turbulenta, traduzo o termo "ter tudo".
Ter tudo é ter tido o tempo de Tereza,
Torrrente de travessa num tempo tronchudo,
transformo a tristeza em Tereza-tardeza.
Tereza tricota o termo ternura,
traduz a tristeza com tanta ternura,
Tangente, tão gente, trajando Tereza.
Tracejo um terceto trilhando a tristeza:
tropeço, trafego... e a tarde tintura
O meu termo todo do termo: Tereza!
Poema-quero
Eu quero um poema da cor
da minha cor.
Um poema-pálido
que banhe na chuva.
Um poema-pobre
que more nos mangues.
Um poema-irmão
que tenha meu sangue.
Um poema-pão
que tenha minha fome.
Um poema-esmola
no chapéu do povo.
Um poema-rasgado
de vestir meu sujo.
Um poema-insensato
pra falar sentindo.
Um poema-tema
de televisão.
Um poema-jornal
para o imprevisto...
Um poema-planeta
para eu habitar, quando não mais existir condição
para controlar a natalidade do absurdo.
Aliteração
Eu quero dançar contigo
dentro do poesia,
como dança o povo dentro do Estado.
Eu quero rebolar contigo em cada rima,
como rebola o povo dentro do salário.
Eu escolho uma aliteração
para a nossa vida:
filhos, felicidade, família, feijão, farinha...
como o povo, em fé, faz folia, forra a fome com futebol e fantasia.
(Rede de Arame,1986)
Página organizada por Zenilton de Jesus Gayoso Miranda e publicada em out. 2008
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