TOBIAS PINHEIRO
Tobias de Sousa Pinheiro nasceu em Brejo, Maranhão, em 4 de julho de 1926. Poeta, trovador, professor, jornalista, membro de academias de letras regionais.
Autor de: Intermezzo (1963), Vinho amargo (1963, depois reeditado), Os outros (s.d.), Jóias de Ouro Preto.
O rio
Ele parece mais um boi cansado,
desses que - ó vida - encantas e abençoas;
tornou-se grande para as coisas boas,
é o rio concebido sem pecado.
Em suas margens, de um e de outro lado,
poetas se irmanam lhe tecendo loas...
E ele passa com balsas e canoas,
dando mais vida à vida consagrado.
A matar fome e sede, aqui e ali,
lá se vai ele como um pioneiro,
unindo o Maranhão ao Piauí.
É o Parnaíba - o Rio da Saudade,
doce consolação no desespero,
Boa-Esperança da posteridade.
Inconformismo
Fui cair nos teus braços, Poesia,
apenas como um anjo inconformado,
que anda no ócio do sonho noite e dia,
para a doce tortura do pecado.
Quem me viu pelos campos não diria
que o destino da criança foi traçado
e eu plasmaria a dor e a fantasia,
sendo por elas próprias torturado.
Não pensei nestas ânsias de infinito
e hoje, crente de que ninguém me escuta,
ignoro as causas por que vivo aflito.
Sou descrente de tudo a que me apego,
menos de fé, que me impulsiona à luta,
embora eu seja vacilante e cego.
A consciência
....................................
BASTA! A dor já se impõe no mundo inteiro,
plantou nos corações o desencanto,
profanou e maldisse o que era santo
na imolação do último Cordeiro.
Se buscam a consciência com alarde,
se choram a bondade já perdida,
se aspiram a virtude para a vida,
querem paz, querem DEUS e, agora, é tarde.
o mundo inteiro vai rolar vencido,
sem crença, sem amor, sem luz, sem calma,
enquanto grita a voz lá dentro da alma:
Quem perdeu a consciência está perdido.
Versão para Benito Corra, confrade argentino do Círculo de Ia Amistad de la Paz. (Doce Tortura/1975)
RAMOS, Clovis, org. Minha terra tem palmeiras... (Trovadores maranhenses) Estudo e antologia. Rio de Janeiro: Editora Pongetti, 1970. Ex. bibl. Antonio Miranda
Quando penso em meu destino
sempre recordo um pião
a girar, em desatino,
na palma de tua mão.
Porque desmanchaste, Rosa,
o "bouquet" de nosso amor,
fiquei igual a uma abelha
que voa de flor em flor...
Teus olhos — duas estrelas?
— Que tolice, meu amor!
Quem foi que já viu estrelas
cheias de tanto fulgor?
Adeus, morena bonita,
tão pura como o luar,
anjo que Deus pôs na terra
só para me consolar.
Morre um ano, nasce um ano,
e vem à nossa lembrança
a morte de um desengano
( e a vida de uma esperança.
Sobre o sonho e a crença, a vida
brilha em tudo, sendo um nada:
o choro da despedida
e o sorriso da chegada.
Nunca profiram teus lábios
a frase que amaldiçoa:
— Se és esquecido, desculpa; '
— se és ofendido, perdoa.
TROVAS 5 - [Seleção de Edson Guedes de Morais] Jaboatão dos Guararapes, PE: Editora Guararapes EGM, 2013. 5 v. 17x12 cm. edição artesanal, capa plástica e espiralada.
Ex. bibl. Antonio Miranda
*
Página ampliada e reapresentada em setembro de 2023
Página ampliada e republicada em outubro de 2019
|