SONILTON CAMPOS
Pós-graduado em Direito Civil e Processual Civil. Pós-graduado em Língua Portuguesa Contemporânea. Advogado militante, ex-Conselheiro da OAB/RJ (triênio 1995/ 1997). Licenciado em Teoria e Técnica da Comunicação e em Direito Usual e Legislação Aplicada. Ex-professor de Comunicação Social da Universidade de Brasília. Bacharel em Jornalismo.
“Em sua escritura, Sonilton Campos, metalingüísticarnente, pergunta-se "Se é que sou poeta" ("0 'não' salvador"), para, depois, responder: "Mas eu que sou poeta" ("O Genoma e eu"). Não temos dúvida da condição de poeta daquele que tange a Harpa Alexandrina,cuja leitura-concerto lembra-me intensamente um epigrama do esteta irlandês Oscar Wilde (1854-1900): " Somente a beleza está protegida das injúrias do tempo. As filosofias se desagregam como as areias, as crenças se sucedem umas às outras, mas o que é belo é uma alegria em qualquer estação, um gozo eterno".” LATUF ISAÍAS MUCCI
Página do poeta: http://www.soniltoncampos.com/
Amor incomum
Vou confessar-te, amada: o meu e o teu destino
definitivamente estão interligados.
Nossa forte união tem quês inusitados,
porque transcende o humano e esbarra no divino.
Esse nosso sentir, se bem ou mal defino,
tem o dom de vencer presentes e passados.
É por isso que assim, ambos entrelaçados,
só nos deixamos quando o Sol se põe a pino!
Os poemas que compus e entôo à meia-voz,
na alcova de cetim com gregas em debrum,
são o nosso elixir, quando estamos a sós.
Perdidos na volúpia, insólita, incomum,
esquecidos do mundo, eu afirmo por nós:
Igual ao nosso amor, não pode haver nem um!
O Genoma e eu
"O DNA humano é decifrado e abre
nova fronteira na ciência"
(O Globo, 27.6.2000)
Completou-se o Genoma da criatura humana!
Abre-se a cura, enfim, de enfermidades várias,
tais como a obstrução das veias coronárias,
o câncer, a trombose e a Aids desumana.
A genética exulta, a ciência se ufana,
pois chegarão ao fim moléstias milenárias.
Mas eu, que sou poeta, tenho voluptuárias
maneiras de aplaudir o fato da semana ...
Que o código da vida uma cópia fiel
permita-me fazer de quem eu sou capaz
de amar perdidamente até entrar em coma!
Quero provar em dobro os seus lábios de mel,
ter em dobro o calor e o hálito fugaz,
ter dela tudo em dobro ... Alvíssaras, Genoma!
Mel e fel
Brigamos, meu amor, motivo de somenos ...
Às vezes, um tremor telúrico ribomba
sob o meu peito em fogo. A sensatez que tomba
é fruto do meu ser a destilar venenos.
Meu coração são dois, e tenho, pelo menos,
um de hiena feroz, outro de mansa pomba.
Naquele, as explosões detonam como bomba,
mas, neste, existe o amor na adoração de Vênus.
A Humanidade assim costuma proceder:
ora os dentes rilhando em ódio troglodita,
ora vertendo amor da mansidão do ser.
Também humano sou ... E agora que o furor,
que dantes me empolgava, insiste que eu reflita,
passo a ler e reler a cartilha do amor!
Dia de verão
De cima da sacada, olhava o movimento
sobre o barrento rio e o ancoradouro embaixo.
Ouvi, num ramo em frente, uns pios de borracho
chamando pela mãe à espera de alimento.
Era verão. Além, um cúmulo cinzento
ameaçava com chuva e vinha serra abaixo
a encobrir o filete argênteo de um riacho,
que refletia o Sol ardente do momento.
Eu evitava olhar para o negror em frente
e para o lado esquerdo, enfocando o direito,
onde o céu era azul, quando, subitamente,
notei que o lado todo, até então trevoso,
também ficara azul, e o nimbo, já desfeito,
descerrou para mim um céu maravilhoso!
Soneto redivivo
A rima, rica ou rara, a métrica correta,
a idéia desenvolta em trama inusitada
dão ao soneto o tom, a forma acrisolada
que eleva a inspiração ao sonho do poeta.
Com isso, o sonetista há de sentir-se esteta,
para tudo encantar, mesmo a partir do nada,
podendo transformar ato heróico em nonada
e até fazer do herege um exemplar asceta.
O soneto não morre. Aceita quarentenas,
porque acuado e inerme a gestos de repulsa,
recolhe-se ... Porém, é hibernação apenas ...
Quando o empolga o amor e a mística do vate,
ele ressurge inteiro, vigoroso, e pulsa
em versos de diamante do maior quilate!
CAMPOS, Sonilton. Harpa alexandrina: cinquenta e cinco sonetos e três traduções do francês. Tudo em versos alexandrinos. Rio de Janeiro: Papel Vitual, Usina de Letras, 2005. 88 p. 13,5x21 cm. ISBN 85-74936-617-0
Ex. bibl. Antonio Miranda
Extraídos de CAMPOS, Sonilton. Harpa Alexandrina: cinqüenta
e cinco sonetos e três traduções do francês. Rio de Janeiro: Papel Virtual editora, 2005.
Leia traduções de poemas de STÉPHANE MALLARMÉ feitas por Sonilton Campos: aqui
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