SÓCRATES BELGA MENDES
MENDES, Sócrates Balga. Cantos sem canto (poesias e trovas). São Luis, MA: Edição da EMATER-MA, 1987. 30 f. 15x21,5 cm. Capa: Francisco Carlos Ribeiro Santos. Apresentação por Sá Vale Filho. Ex. Biblioteca Nacional de Brasília, doação da família de Francisco Vasconcelos.
VELHA ANEDOTA
"Tertuliano, frívolo peralta,
Que foi um paspalhão desde fedelho,
Tipo incapaz de ouvir um bom conselho,
Tipo que morto não faria falta;
Lá um dia deixou de andar à malta
Voltando ao Banco — seu amigo velho
Lá no banheiro, em frente de um espelho,
À própria imagem disse em voz bem alta:
"Tertuliano, és um rapaz formoso!
És simpático, capaz, és talentoso"...
Queres passear? Não tens discernimento?
E o miquitório, deixando de ser mudo,
Que por detrás da parede ouvira tudo
Respondeu-lhe assim — Vai pra São Bento!
AS BOMBAS
Vai-se a primeira bomba, destroçada,
Uma outra mais, mais outra, enfim dezenas
De bombas vão-se da assembleia, apenas
Toda a eleição tenha sido apurada.
Mais tarde, ante a rígida camada
de aço, sejam grandes ou pequenas,
Como galinhas, sacudindo as penas,
Reduzem a assembleia em palhaçada.
E os candidatos, por lá, que se amontoam
Todos eles, um por um coroam
Os eleitos. Não Sabemos quais!...
E nossos votos apenas bombas soltam;
Pena que amanhã todos eles voltam
E não deviam nunca voltar mais.
MAL SECRETO
" Se a cólera que espuma, a dor que mora
N´alma e destrói cada ilusão que nasce;
Tudo o que punge, tudo o que devora
O coração, no rosto se estampasse;
Se se pudesse o espírito que chora,
Ver através da máscara da face,
Quanta gente, talvez, que inveja agora
Nos causa, então piedade nos causasse;
Quanto agente que ri, talvez consigo
Guarda um atroz, recôndito inimigo
Como invisível cancro apostemado!"
Quanta gente que ri talvez existe
Cuja ventura única consiste
Em ser no Sindicato derrotado.
Página publicada em abril de 2017