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RIBAMAR FEITOSA
O poeta Ribamar Feitosa é um dos poucos herdeiros literários dos anos de chumbo, daquilo que se convencionou chamar poesia revolucionária, ou de protesto, ou de vanguarda, entre tantos outros epítetos. Este poeta que, segundo biografia publicada na antologia A Poesia Maranhense do Século XX, organizada por Assis Brasil, nasceu em Parnaíba, Piauí, no dia 2 de abril de 1946, tendo ido com os pais para São Luís do Maranhão antes de completar um ano de idade. Formou-se em Comunicação Social, na Universidade Federal do Maranhão, indo trabalhar no Departamento de Sociologia e Antropologia do Centro de Estudos Básicos.
Desde criança, Ribamar Feitosa mora no bairro pobre do Sacavém, que viria lhe inspirar alguns poemas de veemente reivindicação social e plácido sentimento de solidariedade humana. Tentando sair do esquema capitalista de produção e venda, passa a imprimir os próprios livros, fazendo parte da Geração Mimeógrafo do Maranhão. Promoveu ainda o Movimento Arte Participativa e pertenceu ao Grupo Movimentação.
Outras biografias do poeta citam que é Poeta, educador, pesquisador, exercita-se de vez em quando na crítica literária.
Bairro meu
MARIANO esta fazendo máscaras
neste carnaval.
MARIANO está plantando uma sinfonia
no coração do tempo.
MARIANO é o único artista (nosso)
que avança onde o tempo
parou.
as mãos de MARIANO tecem rostos,
dançam martelos;
têm cânticos de plainas,
soluços de imagens,
poemas de tintas,
calor de oração.
e os homens que moram nestas ruas
não sabem.
as mãos de MARIANO, um dia,
deixarão o nome dele marcado
na poesia
maior
do Maranhão.
(Bairro Meu, Cidade Minha, 1981)
Cantiga de ninar mamãe
Dorme, mamãe,
do meu coração,
o bicho papão
não vem te comer.
Dorme, mamãe,
que eu vou vigiar
e a cuca
maluca
não vem te pegar.
Dorme, mamãe,
não tenhas mais medo
de tudo e de nada,
de bruxa malvada
que faz a careta,
de bois perigosos
de cara bem preta.
Dorme, mamãe,
é tão bom ver você
nesta cama deitada.
Eu sou pequenina,
mas posso ficar
um instante acordada.
Dorme, mamãe,
um anjo chegou
e, devagar,
nos beijou.
você, mamãezinha,
mais bonita ficou.
(Criancice, 1989)
Ação do Capital
Onde?
— Sabres e banqueiros: torturadores e lucros de sangue.
(Ação Popular)
ONDE?
— MILHARES DE PÁSSAROS NO CAMPO, NAS RUAS E PRAÇAS,
ESCOLAS, SINDICATOS E PRISÕES.
(Ação do Capital)
Como?
— Fuzis e grileiros: uma flor esmagada, juntas quebradas, pássaros fugindo,
em vão, nos cabelos da noite.
(Ação Popular)
COMO?
— O POVO TECENDO O LUGAR DA LUTA E DA HISTÓRIA.
(Ação do Capital)
Quando?
sabres e banqueiros: arrancando o dia
decepando a aurora.
(Ternura e Fogo, 1991)
UMDEGRAU –uma revista na margen d´arte. No. 0 – setembro 1989. São Luis, MA.: Marinálida Oficina da Imaginação, 1989. Edição e produção: Hentique Bois, Joãozinho Ribeiro, Sérgio Castellani, Solange Bayma, Zeca.
Ex. bibl. de Antonio Miranda
BRASÍLIA NO MATADOURO
Um planalto
De lama
Um congresso
De urubus
Uma catedral
De trama
Sobre os homens
nus
Uma mãe
Aflita
Uma criança
Grita
Uma Brasília
Sem asa
Uma família
Sem casa
Uma criança
Na rua
Uma criança nua
Um país
No abate
Uma família
Em mate
O povo no choro
Mate
Arremate
Empenhe seu couro
Daqui pra diante
Não tem quem escape
Deste matadouro
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Página ampliada e republicada em novembro de 2023
Página preparada por Zenilton de Jesus Gayoso Miranda, publicada em out. 2008
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