Evocação
Poetas, meus irmãos, acompanhai meu grito!
.- Eu sou o sofrimento dos sem nome!
- Eu sou a voz dos oprimidos!
Não tanjo a lira mágica de Orfeu
de quem as aves se acercavam para ouvi-lo
e lhe vinham lamber os pés as próprias feras!
As láureas, meus irmãos, olímpicas não busco
com que cingis de glórias os vossos sonhos!
- Cravaram-me a coroa dos crucificados!
Minha Castália - são as lágrimas do Povo;
Meu Parnaso - a Dor da minha Gente!
Meu instrumento é poliforme e rude!...
Não tem o aristocrático perfil das harpas nobres
nem as rutilações de sons das pedras raras.
- Ele é Clamor!
Ruge nos seus trons
o estrugir do Povo em Praça pública!
Poetas, meus irmãos, acompanhai meu grito!
Maldigo a resignação infame dos covardes!
- Eu prego a rebeldia estóica dos heróis:
- Meu Evangelho é a Liberdade!
A Liberdade, meus irmãos,
tem a forma simbólica da Cruz
e a cor do sangue!
- O sangue é o apanágio da Conquista!
Poetas, meus irmãos, acompanhai meu grito!
Jesus,
se conquistou os céus com suas orações,
Ele, o Redentor,
sobre a terra triunfou com o sangue do seu corpo!
Sangue, flâmula bendita,
e, no Calvário - FÉ - aberta em Cruz!
Poetas, meus irmãos, acompanhai meu grito!
(Clamor da Hora Presente,1955).
Página preparada por Zenilton de Jesus Gayoso Miranda e publicada em set. 2008
Homem
homem, a vida é como a vênus de milo;
- faltam-lhe os braços!
aperfeiçoa-a!
plasma no sonho a sua perfeição:
- o sonho é o mármore de páros!...
talvez entre as ruínas do teu eu
estejam escondidos os seus braços
olha!
um rastro de auroras mortas
marca o caminho da tua crença...
empunha a flama da fé
e desce aos subterrâneos da existência,
como os primitivos cristãos,
às galerias esquecidas das catacumbas!
e, de volta,
com teus olhos pregados no infinito,
rompe a mortalha de crepúsculo que te envolve,
e marcha!
na tua marcha ascendente,
esmaga com teus pés de titã o incognoscível
e faze-o explodir aos teus passos
numa erupção de novas auroras!...
então, empolgando os mundos e os astros coruscantes,
bradarás:
- levanta-te - ó sol sem poente!
e uma luz de arrebóis brilhará para sempre!...
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síncope da luz!
angústia do verde nas esperanças!
há um sino dobrando em cada coração
e uma cruz de esqueleto de ilusões abre seus braços
sobre cada pensamento!
- é a hora do crepúsculo do amor
- a hora do crepúsculo do sonho!
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(Eifinge do Azul, 1972)