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 FERNANDO PY – POÉSIE BRÉSILIÈNNE EN FRANÇAIS


MANUEL LOPES 

MANUEL LOPES 

Coleção Maranhão Sempre

 

SONETO À LIBERDADE

 

Primeiro tu virás, depois a tarde

com terras, mares, algas, vento, peixes.

trarás, no ventre, a marca das idades

e a inquietude dos pássaros libertos.

 

virás para o enorme do silêncio

 - flor boiando na órbita das águas -

tu não verás o fúnebre das horas

nem o canto final do sol poente.

 

primeiro tu virás, depois a tarde

sem desejos e amor. virás sozinha

como o nome saudade. virás única.

 

eu não terei a posse do teu corpo

nem me batizarei na tua essência,

mas tu virás primeiro e eu morro livre.

 
                 (Voz do Silêncio)

 

 

POSTAL

 

este lado da ilha

o cais e a cidade velha

datam de muito tempo,

ma a cidade é um poema

não cresceu. é sempre a mesma.

rodos os dias igual:

 

o mesmo outeiro da cruz

desterro, fontes e fortes

igrejas, lendas, sobrados

estreitas ruas, mirantes

portões, sacadas de ferro

poetas, becos, telhados

serestas, maledicência

saveiros, pregões de rua

cantaria, mal-amados

rios (chão, templo e canteiros)

de peixe e palafitados)

ladeiras, moças bonitas

recato e amor nas janelas

casarões azulejados.

 

cidade em traje a rigor

vestida à colonial

meu mundo, meu porta-jóias

meu bem, meu cartão postal.

 

brisa de maré vazante

sem similar no país.

quietude pousada na água

caminhos feitos de história.

 

gente, vem ver São Luís!

 

              (Poemas de Agosto)

 

 

UM HOMEM À BEIRA DO RIO

 

1

 

não despertes o homem

que habita o menino:

vegetal crescendo

à beira salubre

deste rio fino.

 

violentas paisagens

crescem e se afogam

em tudo o que os olhos

na ausência devoram.

 

sai-lhe agora em sonho

ontem realidade

 

e onde infância fora

é perdido encanto

que se quebra agora

§

que homem é um deserto

ou apenas ilha?

 

há sempre uma história

de amores, de quilha...

 

cose-lhe água pura

 - sereno pavio -

todo homem é um menino

lavado em seu rio

 

e hoje está em tudo

penetrante e áspero

o grito abafado que lhe corta a alma

 

e atravessam o corpo

mil líquidas línguas

 

se esta infância cresce

em mim, homem,

mínguas.

 

              (Um Homem à Beira do Rio)

 

 

CANÇÃO ITINERÁRIA

 

era curto o camInho e ias depressa,

como se longo fosse, e não sabias.

eu te surpreendi constante nessa

viagem sobre o amargo dos teus dias.

 

teu olhar era forte, a mão espessa.

não sei da tua dor porque sorrias.

e te vi de esperanças e promessas

cobrir a estrada em que, sorrindo, ias.

 

Ah! o tempo mais ágil na corrida

quão pouco te deixou colher da vida

e as mãos, como a esperança, estão vazias.

 

agora te contemplo: a marcha estanca,

vergado o corpo sobre a barba branca.

era curto o caminho e não sabias. 

 

                   (Canção Itinerária/) 

 

 

A palavra

 

te lavo e lavro

palavra/pão

polida pedra

de construção

 

do quanto faço

deste edifício

em que elaboro

fé e ofício,

 

te esculpo e Bruno

verbo/canção

no diário labor

de artesão.

 

te louvo lume

e pedra d'ara

com que ergo o templo

da flor mais cara

 

e clara: poesia

com que reparto

os sóis do meu dia

o suor do meu

dia o fel do meu dia

 

as mazelas do homem

as amargas vidas

o pão subtraído

as pagas devidas

 

a paz relativa

a justiça rara

a fome de todos

a morte na cara

da criança. o aço

que o corpo nos cava,

 

a fé o cansaço

desta luta brava

 

a fartura a poucos

de muitos tomada

 

o chão proibido

a água negada

 

o amor que rareia e

a festa sonhada

............................

 

palavra larva

semente pura

que em mim explodes

de sons madura,

 

te lavo e lavro

verbo/canção

 

te louvo lume

poema/pão

 

manhã sonhada

meu sim/meu não.

 

           (A Reinvenção da Tarde)

 

SUPLEMENTO CULTURAL & LITERARIO JP  Guesa Errante  ANUÁRIO.  São Luís (MA), n. 5 – p. 1-129, 2007.     Ex. bibl. Antonio Miranda

 

 

        “Já na década de 50, alguns poetas escreviam nas páginas do Jornal Pequeno, entre eles, Manuel Lopes que um soneto, na coluna Mundanismo, cujo título era Soneto para as tuas mãos bobas (JP – Ed. no. 337, 21.08.51, p. 02)

 

 

Soneto para as tuas mãos bobas

Estas tuas mãos bobas, mãos alvinhas...
de cera, de milagres, mãos de figa,
ninguém que te conheça há que não diga
que essas tuas mãos simbólicas são minhas

Mãos de veludo, mãos amofinadas...
mãos de bonecas, mãos de intriga,
de fada... mãos de louça... de rainhas...
encantadoras mãos de minha amiga!...

Ave, às mãos de brinquedos, inacabadas
porque não mais beijei. Mãos de ciúme,
mãos que as pompas te tocam. Parasitas!

Ah! Quantas mãos já vi, mãos delicadas,
cheias de anéis... de esmalte... de perfume...
sem que cuidasse olhar mãos tão bonitas!

 

*

 

Página ampliada em abril de 2021

 

 

Página preparada por Zenilton de Jesus Gayoso Miranda, publicada em setembro de 2008




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