LAURA AMÉLIA DAMOUS
Nasceu em Turiaçú, no Maranhão, em 1945 mas seu primeiro livro só é publicado em 1985 – Brevíssima canção do amor constante.
“Obra pequena, mas significativa como ser poético, ela não se parece com nenhum de seus contemporâneos maranhenses, linguagem sintética de um cancioneiro peculiar, ao gosto dos ideogramas japoneses. No Brasil, a sua referência maior seria a Cecília Meireles das Canções, a mesma espontaneidade e rigor ao construir os poemas.” ASSIS BRASIL
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QUIROMÂNCIA
A mão do poema
é a que me cabe
inteira
A outra,
eu a carrego,
pesada e alheia.
CIRCO
Avan;co e recuo
ao estalido da dor
Me curvo
para os aplausos da platéia
Alguém pede bis
Sangro até morrer
PAPAGAIO
Trituro esta dor
socada em pilão
como tia Ana do grão
gerava o café
Trituro esta dor
e faço cerol
para untar a linha
que nos partirá.
OFERENDA
Venho te oferecer meu coração
como o cansaço se oferece aos amantes
o suor aos corpos exaustos
depois de definitivo abraço
Venho te oferecer meu coração
como a lua se oferece à noite
e o vento à tempestade
Venho te oferecer meu coração
como o peixe se oferece à captura
no engano do anzol
TORRES DA SÉ
Garças altivas beliscam
o céu
sangram estrelas
que se desfazem em luz
noites azuis
de maré alta
orquestram hinos e preces
minha cidade faz
o sinal da cruz
adormece
POESIA SEMPRE. Ano 15 Número 30 2008. Polônia. Editor Marco Lucchesi. Rio de Janeiro: Fundação Biblioteca Nacional, 2008. 178 p. No. 10 381
Exemplar da biblioteca de ANTONIO MIRANDA
Claustro
Retenho a magia do pensamento
Absorvo a dor e
vomito
A palavra anseia pela
prisão
Dois de novembro
A xícara branca
me encara do
outro lado da mesa
um tigre esfacelou
meu rosto no
agitado sono de
meio-dia
as formigas fizeram
um novo caminho
da cozinha à sala
sem um único volteio
meus dedos pesam
mais que nunca
e afundam junto
com o pudim no forno
eu tenho muito medo
de morrer
num dia feio assim
Fora da tela
não posta em sossego
absorta
quieta
a minha
tropeça pela alma
perambula desassossegada
insone
a minha melancolia
não é
a de Dürer
*
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Página publicada em maio de 2025.
Extraído de A POESIA MARANHENSE NO SÉCXULO XX (antologia). Organização, introdução e notas de Assis Brasil. Rio de Janeiro:Imago ed.; São Luis: SIOGE, 1994. p. 267-272
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