JULIO PIRES
De
Julio Pires
EFEMÉRIDAS
Imperatriz, MA: Fundação Cultural de Imperatriz, Arte Graf Editora, 2004
“... Em suma, este livro é como um fruto exótico que exige todos os sentidos para melhor conhecê-lo. É preciso sentir a textura do invólucro, ouvir a harmonia melódica dos versos, aguçar o olfato para os cheiros sugeridos, ver a paisagem das telas que sugerem coisas outras e saborear a polpa acre-doce dessa nova e tentadora fruta que nasceu no jardim das delícias da poesia...”. Antônio Coutinho
KALANCHOÉE
cachos e cascatas tombam
âmbar, salmão
cor
dos
salmos...
cantos cristais chuveiros
chapiscados cor de carne
crua
as serenidades incertas
ao tom drenado
escorrendo
champagne...
o verão, também cor do arrebol
Pink, shocking, cítrico!
flamboyant rose
estilo
cachos de um bouquet
botões ainda pra morrer!
HELICÔNIAS
rasgos talhos da bananeira
de resinas tortas e tarântulas
as sangrentas lasca
uma taça de licor de menta
e cerejas vivas
hélices seriadas
que o coração semeia
a espinha dorsal do peito
bela e plástica dor
O GIRASSOL QUANDO A CANDEIA
NO JARDIM VENTAVA
os olhos das tangerinas brilhavam nas mãos
das infantas sem vento como lamparina.
Os girassóis delas, quando ventava, chupavam
as sementes dos phalaenopsis e as línguas
das virgens feriam e floravam ácidas.
as meninas quando a candeia brilhava no jardim
nas mãos das tangerinas chupavam o girassol,
e elas riam, dizendo
umas pras outras:
ígneas brisas. passava o vento e ninguém mais
se lembrava.
LACUNAS, CASTIÇAIS E LÍRIOS
o dia inclinava-se sobre os cotovelos
pra sentir o perfume dos canteiros abertos,
e era uma chama rasa.
os joelhos do dia ao dobrarem-se sobre os terrenos
da noite, escorriam como lava as sementes
alguém assim sorria.
mas como tudo poroso se estendia pálido
via-se entre as trouxas de lírios a água escoando,
e por entre as cavernas de bulbos esponjosos
magmas, vapores, dedos e cílios escaldados.
os copos das flores sustentavam ainda a chama
que aos poucos se dissolvia pelas pétalas
vazadas do poente.
Página publicada em abril de 2010
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