José Francisco das Chagas nasceu em Piancó, Paraíba, em 29 de outubro de 1924. Poeta, jornalista, membro da Academia Maranhense de Letras.
Autor de muitos livros de poesia, destacando-se Os canhões do silêncio. São Paulo : Siciliano, 2005. 284 p.
HOMENAGEM A JOSÉ CHAGAS na 5a. Feira do Livro de São Luis do Maranhão 2011. Foto do outodorr do evento.
Soneto da manhã primeira
Quero a manhã exata, a manhã viva,
pois estas luzes e estes vôos na aurora,
são só ensaios de manhãs. E agora
o que eu quero é a manhã definitiva,
a autêntica manhã pura, exclusiva,
manhã nascida de si mesma e fora
desta jubilação falsa e sonora
que só por um momento nos cativa.
Ah, a manhã da última promessa,
manhã de um novo mundo que começa,
mais acessível, mais humano e bom.
Meu Deus, seria como chegasse
a manhã do primeiro sol que nasce,
da cor primeira e do primeiro som.
(Canção da Expectativa/1955)
De novo a ponte inaugura
ponte pronta
ida e
vinda
VIDA
as ruas
o rio
os pés
o peso
as sementes
o cimento
os barcos
o arco
ponte ponte
fluvial pluvial
colunas colinas
abóbada abóbora
flor e cimento
ponte ponte ponto
(O Discurso da Ponte, 1959)
I
Olhe aí a palafita
crescendo sobre a maré.
O homem que nela habita
caranguejo ou peixe é.
Caranguejo que se irmana
com os bichos dos lamaçais,
na condição desumana
de caminhar para trás,
de voltar à pré-história,
- vergonhosa marcha à ré -
e afogar sua memória
no ir e vir da maré.
Peixe caído na rede
que a vida lançou ao mangue,
para matar fome e sede
de um mundo nutrido em sangue.
Caranguejo ou peixe, o fato
é que o homem posto na lama
não sabe o seu nome exato
e também ninguém o chama,
nem o batiza de novo
com esse sal de maré.
Não se sabe de que povo
nem de que raça ele é,
ali entre vida e morte,
caranguejo ou peixe ou nada
do que seja fraco ou forte
na maré, sua enteada,
mãe segunda que o cativa,
que como filho o adota,
para a solidão nativa
mar sem porto e sem rota.
(Maré Memória, 1973)
1. O apito do passado
O Mearim derrama na distância
uma água que em sonhos nos invade,
como fio invisível que se lance a
separar em duas a cidade.
E essa água vem banhar sem que se canse a
vida inteira que no rio nade,
porquanto água de amor que lava infância
lava também velhice e mocidade.
Mearim - rio velho e rio novo,
alegria e aflição de um mesmo povo –
um mar se afoga nos mistérios teus.
Mas preservas em ti, para Pedreiras,
vibrando no ar, o apito das primeiras
lanchas que nos deixaram seu adeus.
(Cem Anos de Infância ou o Poeta e o Rio, 1985)
Os homens rasos
Os homens é que estão traindo a vida,
traindo as águas que não voltam mais
à sua velha paz, hoje perdida
na própria refração dos seus cristais.
Do equilíbrio do mundo se duvida
com as ambições pesando desiguais
sobre uma ecologia ressentida,
dentro dos seus telúricos sinais.
Agora são mais rasas as vertentes,
rasos os homens e as ações urgentes
com que buscam mover águas e terras.
E tu, velho, ó velho rio, entre homens ficas,
vendo-os enodoar-te as águas ricas
e as cortinas de sonhos que descerras.
(Cem Anos de Infância ou o Poeta e o Rio, 1985)
Página preparada por Zenilton de Jesus Gayoso Miranda e publicada em set. 2008
13 HORAS
Aqui onde um gato conclui
seu abandono, cria-se a tarde
e o seu vento. O sol
ilumina o secreto ofício
das cousas, o mar está longe
mas seu existir nos banha. E naves
de silêncio iniciam viagens para trás
para dentro de mim e do tempo.
A paisagem se cumpre sobre
velhas casas que sustentam
séculos no ar.
13,45
Trezentos anos afiam suas navalhas de réstias,
decepam trevas diárias, procriadas nos sótãos
traem a consciência noturna que os ratos desgastam
em sua fome óssea, perpétuo ranger de dentes
trabalhando a cinza e o eco dos tempos.
Trezentos anos estão entre muros
onde verto meus olhos e me dou à morte
em extensão e renúncia.
Trezentos anos provocam abalo na raiz da infância
perdida em chão de homem,
me exigem nascer do parto essencial
e me revertem para a devida origem:
sopro-canto
pó-poema
verbo-cousa
me inscrevo no espaço-tempo:
(aquimeuontem
meuhoje
lá amanhã lá)
horizonte-século
janela-hora
soalho-eu
Os anos me reexistindo
me resistindo
os ares me exigindo o vôo
asa
ao o azul
sul
(De “ Os telhados”, 1965)
Desconfiar de quem doeu a vida,
mas se nega a gemer o que e/a é,
e não tomando a dor como aprendida
põe-se escondê-la por detrás da fé.
Desconfiar de quem sabe a medida
da solidão, mas nunca ensina até
onde essa solidão cresce estendida
como sombra amarrada ao nosso pé.
Desconfiar de quem faz a esperança
gastar-se toda no que não se alcança,
mas não diz que a esperança, em si, é vã.
Desconfiar, por fim, dos que não contem
toda a verdade que sobrou do ontem
para o acontecimento do amanhã.
<< Poema a guisa de introdução do longo poema (200 páginas!!!) – do livro OS CANHÕES DO SILÊNCIO, 1979 — em que canta e decanta sua (nossa) São Luis do Maranhão. A seguir, um fragmento: >>
Todas as manhãs o mirante
me lança pela janela
uma amostra grátis
de São Luís
A janela me escova os dentes
e o dia me chega à boca
como um fruto novo
que amadurece enquanto
vai sendo comido
Me alimento de tempo
e duro horas inteiras de sonho
duro o espaço
em que me movo
como dentro de um saco
e ante a manha
que me exige presente
compareço a mim mesmo
numa obrigação de alma e ossos
O sol se move
contra o meu horizonte
e o tempo é claro em mim
como na paisagem lenta
que se pendura em meus olhos
balança entre azul e vento
alongando-se até onde árvores e casas
se cansam do espaço
e morrem de infinito
Sou um
entre quatrocentos mil
numa cidade
de quatrocentos anos
e tiro da manha o que me toca
de sol o que me cabe
de ar o que é necessário
para manter-me sentado
sobre lascas de solidão
a pedras de silêncio quebrado
pela anunciação do dia
A manhã é feita de sempre
mas se utiliza de sol e pássaros
para o velho anúncio
de sua certeza
São Luis sabe de manhã
antes de qualquer outro lugar do mundo
porque há um galo no quintal de tempo
ferindo sua crista no sonho
e seu canto chega em pedra ao mirante
que sabe adivinhar o dia
por trás dos muros
Aqui o tempo não dura em passar
mas em ficar à espera de quem o descubra
como curtida matéria de vida
pronta à ressurreição das coisas
São Luis é toda de manhã
como o aviso claro de um dia
São Luis requer a alegria
do olho mas também do salto
da alma e até o labor interno
do sonho
em sua fúria mansa
sobre o real
De ordem de quem
sopra o vento
de ordem de quem
dói a vida
de ordem de quem
desce o acaso
sobre o tempo
de ordem de quem
sopramos nós
o silêncio em pó
de seus séculos
— São Luis indaga
antes de entregar-se
OS CANHÕES DO SILÊNCIO, fragmento do poema de JOSÉ CHAGAS, na interpretação de JOSÉ INÁCIO VIEIRA DE MELO, gravado pelo webdesignar Juvenildo Barbosa Moreira em Olinda, Pernambuco, durante a FLIPORTO 2010. POESIA BRASILEIRA CONTEMPORÂNEA.
CHAGAS, José. Os Canhões do silêncio - 1979 – fragmento. “Os sonhos realizados do poeta maranhense José Chagas” [por] Nauro Machado. Jaboatão, Pe: Editora Guararapes, 2015. 54 p. 20X13,5 cm. Ilus. col. Editor: Edson Guedes de Moraes. Ex. bibl. Antonio Miranda. Poesia brasileira.
LATINIDADE: I COLETÂNEA POÉTICA DA SOCIEDADE DE CULTURA LATINA DO ESTADO DO MARANHÃO. Dilercy Adler, org. São Luis: Estação Produções Ltda, 1998. 108 p. Capa: Carranca – Fonte do Ribeirão – São Luís – Maranhão – Brasil Ex. bibl. Antonio Miranda
TRAPÉZIO
O tempo se esvai
pela janela do mundo
suicida-se o eterno
em nós
e a vida não devolve senão
os ossos
construção precária
que é já de início
as ruínas do ser
O esqueleto cai
do seu trapézio
de sonho
e resta-lhe o aplauso
do nada.
INDAGAÇÕES DO VENTO
Ossos do Guevara:
— esqueleto do sonho?
natureza rara
de assombro medonho?
Ideais sepultos
que brotam de novo?
revide aos insultos
que sofreu o povo?
Soturna guerrilha
que o mundo reclama
pensando que brilha,
já não sendo chama?
Será brasa viva
a arder o futuro?
Cinza que se ativa,
fogo de monturo?
Será que a ossada
de Che ainda aduba
a terra encharcada
do sangue de Cuba?
Que cães vão em busca
desses ossos dúbios,
ao sol que hoje ofusca
tão falsos conúbios?
A alma latina
nasce desses ossos,
como o que germina
dos estrumes nossos?
Será que esse mito
que do chão renasce
fará o infinito
encarar sua face?
Será que ele é visto
como um santo novo,
ou num neocristo
na reza do povo?
Pode um morto só
nos dar esperança, a
o fazer-se pó
que ao vento se lança?
E o que o vento indaga
ganhará resposta,
ou somente a praga
da verdade exposta?
Um herói em osso
mantém seu tutano,
em meio ao destroço
do destino humano?
Posto assim Guevara
nos ossos do ofício,
a morte o declara
pronto ao sacrifício?
Seu caminho torto
será que ainda alcança
o perdido porto
de sua esperança?
Ossos do Guevara:
— quem é tão fecundo
que os toma e prepara
a sopa do mundo?
TEXTOS EM PORTUGUÊS - TEXTS IN ENGLISH
POETS OF BRAZIL - A bilingual selection. POETAS DO BRASIL - uma seleção bilingüe.Trad. Frederick G. Williams. New York: Luso-Brazilian Books, 2004. 430 p. Ex. bibl. Antonio Miranda
SONETO PARA A QUE CHEGA
Quem canta esta canção, canção que embala
dentro em meu peito, uma ilusão menina?
Quem foi que assim me arrebatou a fala
para um silêncio que não se imagina?
E esta mão que me vem tão cor de opala,
que me adormenta a uma carícia fina,
Por que se tento, lúbrico, tocá-la,
esta mão se dilui, se faz neblina?
Quem, por ventura, me supõe criança,
me inocenta do mundo e não se cansa
de trazer para mim cantiga e afago?
Quem chega às vezes tão fugaz, tão pura,
que sóp ouvil-la pela noite escura,
faços-me luz e como luz me apago?
SONNET FOR SHE WHO CAMES
Who sings this song, a lullaby that stirred,
within my breast, young girl, illusions strong?
Who stole my speech and thrust me for the headlong,
to inimagined silence never heard?
About this opal-colored hand drawn here,
which soothes my sleeping hour caressing me, why when I try to touch it, ardently,
does it turn mist, dissolve and disappear?
And who, a child supposing me to be,
protects me from the world, nor wearies she
of pleasing me and singing songs of joy?
Who comes at times so fleeting, pue and coy,
just hearing her the dark nights are distinguished,
I´m hearing to light and like the light extinguished?
VIAGEM SEM IDA
Que é que adiantam novas paisagens
se os olhos também delas se cansam?
A melhor viagem mesmo é de quem fica.
JOURNEY WITHOUT LEAVING
What does it profit to see new landscapes
if soon one´s eyes will also weary of them?
Who journeys best is wo stays at home.
CHÃO DE SOUSÂNDRADE
(Parte Cinco)
Não se vira antes
um poeta assim,
com asas errantes
para um vôo sem fim,
Para um ir acima
do que outro fora,
no quanto o anima
sua alma pastora.
Não se vira ante
uma poesia sonhar,
sob esses mirantes,
tanto bem-estar.
Um poeta que abrira
sobre lastro novo
uma nova lira
sem acesso ao povo,
porque realmente
seu tempo de apuro
não era presente,
mas só o futuro.
Um poema que, fora
do tempo e do espaço,
sonhou outra aurora
para um mundo baço,
como um hierofante
que viveu a esmo,
por se ver adiante
até de si mesmo.
Sonhou o melhor
para São Luís,
buscando em redor
a paz que ele quiz.
Mas viu que ninguém
podia entendê-lo,
que ele estava além
do seu próprio zelo.
Sousândrade era
sem poder ter sido
cantor de quimera
do seu próprio olvido.
Atirou-se ao mundo
e ao Guesa se deu,
no andar vagabundo
do destino seu.
Andou até onde
tinha ele de andar,
como quem se esconde
de ser ou de estar.
Mas voltou de longe
com o muito que tinha
de poeta e de monge,
de corvo e andorinha,
talvez por ter visto
que o mundo era pouco
para arcar com um misto
de gênio e de louco.
E então sua Quinta
foi seu universos,
morada hoje extinta
de um mundo perverso
que via o poeta
como um louco inteiro,
e nunca o profeta,
o vate, o pioneiro.
LAND OF SOUSÂNDRADE
(Part Five)
No one had ever seen
a poet quite like him,
a wanderer with wings
to fly the endless rim,
for one to reach beyond
another person´s goal,
sustained and nurtured by
his simple shepherd´s soul.
No one had ever seen
a poet dream such dreams,
beneath those lookout points,
goodwill is what it seems.
A poet who hade opened
upon a bedrock strong
a new poetic lyric
not open to the throng,
the time to understand him,
and truly this was said,
would not be in the present,
but future days instead.
A poet who remained
outside both time and space,
began to dream a world
much better than this place.
just like a hierophant
who lived a wandering life,
because he saw beyond
his day of grief and strife.
He dreamed the very best
for the city of São Luís,
seeking close at hand
to find a life of peace.
He soon became aware
no one had read his book,
for he had gone with zeal
beyond where others look.
Sousândrade became
not wishing to have bee
a singer of chimera
forgotten like most men.
He traveled´round the world wrote his Guesa, epic book,
as she wandered to and for
Guesa´s destiny he took.
He wandered where he wandered
as he was destined to,
like one who tries to hide
from himself what he must do.
But he came back again
with much of what he´d been
a poet and a monk,
a sparrow in the glen.
perhaps he´d understood
this world is, as a rule,
too small to mix in one
the genius and the fool.
And so his orchard home
became his universe,
a home long since destroyed
by evil men, perverse
who saw the poet as
a fool and insincere,
but never as a prophet,
a poet, pioneer.
CHAGAS, José. Apanhados do chão. Capa e projeto gráfico: Silvano Alves Bezerra da Silva. (Série Letras Maranhenses, 1). Apresentação por Sebastião Moreira Duarte. São Luís: Editora da Universidade Federal do Maranhão, 1994. 140 p.
CDU 869.0 (812-11.1) Ex. doado pelo livreiro BRITO – Brasília.
Chão de Sousândrade
1
Largo da Cadeia
e chão do poeta.
O pó que se alteia
na memória inquieta.
O chão que se alarga
para poder dar
espaço a uma carga
de luz singular.
Cadeia que era,
hoje é livre chão
do poeta à espera
dos que o escutarão.
É antigo terreno
que se valoriza
com o canto sereno
que chega na brisa,
e é a voz do poeta,
de instante a instante,
na saga completa
do seu Guesa Errante.*
Este chão agora
tem rastro de luz
semente de aurora
que se reproduz.
2
O Largo era a reta,
o aberto caminho
por onde o poeta
passara sozinho.
Por ele lá ia
o poeta tristonho,
levando por guia
apenas seu sonho
Ia para a Quinta*2
onde ele residia
junto à paz distinta
de sua poesia.
E sem nada além
de uma solidão,
o poeta hoje tem
seu nome no chão,
no chão de uma praça
que agora é hospital,
e onde hoje se passa
seu vulto irreal
3
O chão do poeta
que cantou a Guesa
e a mágoa secreta
de uma angústia presa.
O pó encantado
de lírica luz,
clarão de passado
sobre sonhos nus
Ó cinza que ainda
faz lembrar a chama
da agonia infinda
de quem muito ama.
Chão que eleva o ouro
da fina poeira
ao som duradouro
da canção inteira.
Chão iluminado
por claras manhãs
nu dúbio reinado
de lendas pagãs.
4
Nesse chão tão cheio
de árvores belas,
o poeta em recreio
se irmanava a elas,
se escondia ao vento
e à sombras se punha,
com um segredo lento
com testemunha.
Nesse chão bendito
o poeta sabia
reter o infinito
de sua poesia.
Poesia estranha
sob um manto escuro
de quem só se banha
na luza do futuro.
5
Não se vira antes
um poeta assim,
com asas errantes
para um voo sem fim,
para um ir acima
do que outro fora,
no quanto o anima
sua alma pastora.
Não se vira antes
um poeta sonhar,
sob esses mirantes,
tanto bem-estar.
Um poeta que abrira
sobre lastro novo
um nova lira
sem acesso ao povo,
porque realmente
se tempo de apuro
não era o presente,
mas só no futuro.
Um poeta que, for
do tempo e do espaço,
sonhou outra aurora
para um mundo baço,
como um hierofante
que viveu a esmo,
por se ver adiante
até de si mesmo.
Sonhou o melhor
para São Luís,
buscando em redor
a paz que ele quis.
Mas viu que ninguém
podia entendê-lo,
que ele estava além
do seu próprio zelo
Sousândrade era
sem poder ter sido
cantor da quimera
do seu próprio olvido.
Atirou-se ao mundo
e ao Guesa se deu,
ao andar vagabundo
do destino seu.
Antou até onde
tinha ele de andar,
como quem se esconde
de ser ou de estar.
Mas voltou de longe
com o muito que tinha
de poeta e de monge,
de corvo e andorinha,
talvez por ter visto
que o mundo era pouco
para arcar com um misto
de gênio e de louco.
E então sua Quinta
foi seu universo,
morada hoje extinta
de um mundo perverso
que via o poeta
com um louco inteiro,
e nunca o profeta
o vale, o pioneiro
6
O poeta sozinho
fechou suas portas,
mas achou caminho
entre pedras mortas.
Ninguém o amou tanto
quanto a solidão.
Foi demônio e santo,
sagrado e pagão.
Cantou como a ave
que, em sua gaiola,
faz do canto suave
a dor que se evola.
Ensinou a vida,
como se, ao ensiná-la,
fosse ala contida
no campo da fala
Sua glória mansa,
sem mistério ou lenda,
ficou na esperança
de quem o entenda.
Morreu solitário
na Quinta Vitória,
como um visionário
de triste memória.
E pedra sobre pedra
comeu desse chão,
onde hoje só medra
sua solidão.
Comeu desse pó
que o comeu depois,
e um destino só
restou para os dois.
*
Página ampliada e republicada em junho de 2023.
*
Página ampliada e republicada em abril de 2022
Página ampliada e republicada em dezembro de 2008; ampliada e republicada em janl 2011; ampliada em setembro de 2016; página ampliada em outubro de 2019.