Home
Sobre Antonio Miranda
Currículo Lattes
Grupo Renovación
Cuatro Tablas
Terra Brasilis
Em Destaque
Textos en Español
Xulio Formoso
Livro de Visitas
Colaboradores
Links Temáticos
Indique esta página
Sobre Antonio Miranda
 
 


 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

JOSÉ CHAGAS

Fpnte: www.guesaerrante.com.br/

 

JOSÉ CHAGAS



José Francisco das Chagas nasceu em Piancó, Paraíba, em 29 de outubro de 1924. Poeta, jornalista, membro da Academia Maranhense de Letras.

Autor de muitos livros de poesia, destacando-se Os canhões do silêncio. São Paulo : Siciliano, 2005. 284 p.

 

 

HOMENAGEM A JOSÉ CHAGAS na 5a. Feira do Livro de São Luis do Maranhão 2011. Foto do outodorr do evento.


 

Soneto da manhã primeira

 

Quero a manhã exata, a manhã viva,

pois estas luzes e estes vôos na aurora,

são só ensaios de manhãs. E agora

o que eu quero é a manhã definitiva,

 

a autêntica manhã pura, exclusiva,

manhã nascida de si mesma e fora

desta jubilação falsa e sonora

que só por um momento nos cativa.

 

Ah, a manhã da última promessa,

manhã de um novo mundo que começa,

mais acessível, mais humano e bom.

 

Meu Deus, seria como chegasse

a manhã do primeiro sol que nasce,

da cor primeira e do primeiro som.

(Canção da Expectativa/1955)

 

 

De novo a ponte inaugura

 

ponte pronta

ida e

vinda

VIDA

as ruas

o rio

 

os pés

o peso

 

as sementes

o cimento

 

os barcos

o arco

 

ponte ponte

fluvial pluvial

 

colunas colinas

abóbada abóbora

 

flor e cimento

ponte ponte ponto

 

              (O Discurso da Ponte, 1959)

 

 

I

 

Olhe aí a palafita

crescendo sobre a maré.

O homem que nela habita

caranguejo ou peixe é.

 

Caranguejo que se irmana

com os bichos dos lamaçais,

na condição desumana

de caminhar para trás,

 

de voltar à pré-história,

- vergonhosa marcha à ré -

e afogar sua memória

no ir e vir da maré.

 

Peixe caído na rede

que a vida lançou ao mangue,

para matar fome e sede

de um mundo nutrido em sangue.

 

Caranguejo ou peixe, o fato

é que o homem posto na lama

não sabe o seu nome exato

e também ninguém o chama,

 

nem o batiza de novo

com esse sal de maré.

Não se sabe de que povo

nem de que raça ele é,

 

ali entre vida e morte,

caranguejo ou peixe ou nada

do que seja fraco ou forte

na maré, sua enteada,

 

mãe segunda que o cativa,

que como filho o adota,

para a solidão nativa

mar sem porto e sem rota.

 

                  (Maré Memória, 1973)

 

 

1. O apito do passado

 

O Mearim derrama na distância

uma água que em sonhos nos invade,

como fio invisível que se lance a

separar em duas a cidade.

 

E essa água vem banhar sem que se canse a

vida inteira que no rio nade,

porquanto água de amor que lava infância

lava também velhice e mocidade.

 

Mearim - rio velho e rio novo,

alegria e aflição de um mesmo povo –

um mar se afoga nos mistérios teus.

 

Mas preservas em ti, para Pedreiras,

vibrando no ar, o apito das primeiras

lanchas que nos deixaram seu adeus.

 

              (Cem Anos de Infância ou o Poeta e o Rio, 1985)

 

 

Os homens rasos

 

Os homens é que estão traindo a vida,

traindo as águas que não voltam mais

à sua velha paz, hoje perdida

na própria refração dos seus cristais.

 

Do equilíbrio do mundo se duvida

com as ambições pesando desiguais

sobre uma ecologia ressentida,

dentro dos seus telúricos sinais.

 

Agora são mais rasas as vertentes,

rasos os homens e as ações urgentes

com que buscam mover águas e terras.

 

E tu, velho, ó velho rio, entre homens ficas,

vendo-os enodoar-te as águas ricas

e as cortinas de sonhos que descerras.

       (Cem Anos de Infância ou o Poeta e o Rio, 1985)

 

Página preparada por Zenilton de Jesus Gayoso Miranda e publicada em set. 2008

 

 


13 HORAS


Aqui onde um gato conclui
seu abandono, cria-se a tarde
e o seu vento. O sol
ilumina o secreto ofício
das cousas, o mar está longe
mas seu existir nos banha. E naves
de silêncio iniciam viagens para trás
para dentro de mim e do tempo.
A paisagem se cumpre sobre
velhas casas que sustentam
séculos no ar.

 


13,45

Trezentos anos afiam suas navalhas de réstias,
decepam trevas diárias, procriadas nos sótãos
traem a consciência noturna que os ratos desgastam
em sua fome óssea, perpétuo ranger de dentes
trabalhando a cinza e o eco dos tempos.

Trezentos anos estão entre muros
onde verto meus olhos e me dou à morte
em extensão e renúncia.
Trezentos anos provocam abalo na raiz da infância
perdida em chão de homem,
me exigem nascer do parto essencial
e me revertem para a devida origem:
         sopro-canto
                   pó-poema
                            verbo-cousa

me inscrevo no espaço-tempo:

         (aquimeuontem
              meuhoje
         lá amanhã               lá)

         horizonte-século
            janela-hora
                soalho-eu

Os anos me reexistindo
                            me resistindo
os ares me exigindo o vôo

asa

     ao                     o azul

         sul

 

          (De  “ Os telhados”, 1965)

 

 

Desconfiar de quem doeu a vida,

mas se nega a gemer o que e/a é,

e não tomando a dor como aprendida

põe-se escondê-la por detrás da fé.

Desconfiar de quem sabe a medida

da solidão, mas nunca ensina até

onde essa solidão cresce estendida

como sombra amarrada ao nosso pé.

Desconfiar de quem faz a esperança

gastar-se toda no que não se alcança,

mas não diz que a esperança, em si, é vã.

Desconfiar, por fim, dos que não contem

toda a verdade que sobrou do ontem

para o acontecimento do amanhã.

 

 

<<  Poema a guisa de introdução do longo poema (200   páginas!!!) – do livro OS CANHÕES DO SILÊNCIO, 1979 —  em que canta e decanta sua (nossa) São Luis do Maranhão. A seguir, um fragmento: >>

 


Todas as manhãs o mirante

me lança pela janela

uma amostra grátis

de São Luís

 

A janela me escova os dentes

e o dia me chega à boca

como um fruto novo

que amadurece enquanto

vai sendo comido

 

Me alimento de tempo

e duro horas inteiras de sonho

 

duro o espaço

em que me movo

como dentro de um saco

 

e ante a manha

que me exige presente

compareço a mim mesmo

numa obrigação de alma e ossos

 

O sol se move

contra o meu horizonte
e o tempo é claro em mim

como na paisagem lenta

que se pendura em meus olhos

balança entre azul e vento

alongando-se até onde árvores e casas

se cansam do espaço

e morrem de infinito

 

Sou um

entre quatrocentos mil

numa cidade

de quatrocentos anos

e tiro da manha o que me toca

de sol o que me cabe

de ar o que é necessário

para manter-me sentado

sobre lascas de solidão
a pedras de silêncio quebrado
pela anunciação do dia

A manhã é feita de sempre
mas se utiliza de sol e pássaros

para o velho anúncio
de sua certeza

São Luis sabe de manhã
antes de qualquer outro lugar do mundo
porque há um galo no quintal de tempo
ferindo sua crista no sonho
e seu canto chega em pedra ao mirante
que sabe adivinhar o dia
por trás dos muros

Aqui o tempo não dura em passar
mas em ficar à espera de quem o descubra
como curtida matéria de vida
pronta à ressurreição das coisas

São Luis é toda de manhã
como o aviso claro de um dia

São Luis requer a alegria

do olho mas também do salto
da alma e até o labor interno
do sonho
em sua fúria mansa
sobre o real

 

         De ordem de quem
         sopra o vento
 
         de ordem de quem
         dói a vida

         de ordem de quem
         desce o acaso
         sobre o tempo

         de ordem de quem
         sopramos nós
         o silêncio em pó
         de seus séculos

         — São Luis indaga
         antes de entregar-se

 

 

OS CANHÕES DO SILÊNCIO, fragmento do poema de JOSÉ CHAGAS, na interpretação  de JOSÉ INÁCIO VIEIRA DE MELO, gravado pelo webdesignar Juvenildo Barbosa Moreira em Olinda, Pernambuco, durante a FLIPORTO 2010.  POESIA BRASILEIRA CONTEMPORÂNEA.

 

 

Veja o E-BOOK do livro:https://issuu.com/antoniomiranda/docs/jos___chagas

 

CHAGAS, José. Os Canhões do silêncio  - 1979 – fragmento.  “Os sonhos realizados do poeta maranhense José Chagas” [por] Nauro Machado.  Jaboatão, Pe:  Editora Guararapes, 2015.  54 p.  20X13,5 cm.  Ilus. col.  Editor: Edson Guedes de Moraes.  Ex. bibl. Antonio Miranda. Poesia brasileira.

 

 

LATINIDADE: I COLETÂNEA POÉTICA DA SOCIEDADE DE CULTURA LATINA DO  ESTADO DO MARANHÃO.   Dilercy Adler, org. São Luis: Estação  Produções Ltda, 1998.  108 p.  Capa: Carranca – Fonte do Ribeirão – São Luís – Maranhão – Brasil        Ex. bibl. Antonio Miranda

 

 

TRAPÉZIO

 

 

O tempo se esvai
pela janela do mundo
suicida-se o eterno

                       em nós

 

e a vida não devolve senão
os ossos

 

construção precária
que é já de início

               as ruínas do ser

 

O esqueleto cai

           do seu trapézio
de sonho

e resta-lhe o aplauso
do nada.

 

 

 

INDAGAÇÕES DO VENTO

 

 

Ossos do Guevara:
— esqueleto do sonho?
natureza rara
de assombro medonho?

 

Ideais sepultos
que brotam de novo?
revide aos insultos
que sofreu o povo?

 

Soturna guerrilha
que o mundo reclama
pensando que brilha,
já não sendo chama?

 

Será brasa viva
a arder o futuro?
Cinza que se ativa,
fogo de monturo?

 

Será que a ossada
de Che ainda aduba


 

a terra encharcada
do sangue de Cuba?

 

Que cães vão em busca
desses ossos dúbios,
ao sol que hoje ofusca
tão falsos conúbios?

 

A alma latina
nasce desses ossos,
como o que germina
dos estrumes nossos?

 

Será que esse mito
que do chão renasce
fará o infinito
encarar sua face?

 

Será que ele é visto
como um santo novo,
ou num neocristo
na reza do povo?

 

Pode um morto só
nos dar esperança, a
o fazer-se pó
que ao vento se lança?

 

E o que o vento indaga
ganhará resposta,
ou somente a praga
da verdade exposta?

 

Um herói em osso
mantém seu tutano,
em meio ao destroço
do destino humano?

 

Posto assim Guevara
nos ossos do ofício,
a morte o declara
pronto ao sacrifício?

 

Seu caminho torto
será que ainda alcança
o perdido porto
de sua esperança?

 

Ossos do Guevara:
— quem é tão fecundo
que os toma e prepara
a sopa do mundo?

 

 

TEXTOS EM PORTUGUÊS -  TEXTS IN ENGLISH

 

POETS OF BRAZIL - A bilingual selection.  POETAS DO BRASIL - uma seleção          bilingüe.  Trad. Frederick G. Williams.   New York: Luso-Brazilian Books, 2004.        430 p.     Ex. bibl. Antonio Miranda

 

SONETO PARA A QUE CHEGA

Quem canta esta canção, canção que embala
dentro em meu peito, uma ilusão menina?
Quem foi que assim me arrebatou a fala
para um silêncio que não se imagina?

E esta mão que me vem tão cor de opala,
que me adormenta a uma carícia fina,
Por que se tento, lúbrico, tocá-la,
esta mão se dilui, se faz neblina?

Quem, por ventura, me supõe criança,
me inocenta do mundo e não se cansa
de trazer para mim cantiga e afago?

Quem chega às vezes tão fugaz, tão pura,
que sóp ouvil-la pela noite escura,
faços-me luz e como luz me apago?


 

SONNET FOR SHE WHO CAMES

Who sings this song, a lullaby that  stirred,
within my breast, young girl, illusions strong?
Who stole my speech and thrust me for the headlong,
to inimagined silence never heard?

About this opal-colored hand drawn here,
which soothes my sleeping hour caressing me,
why when I try to touch it, ardently,
does it turn mist, dissolve and disappear?

And who, a child supposing me to be,
protects me from the world, nor wearies she
of pleasing me and singing songs of joy?

Who comes at times so fleeting, pue and coy,
just hearing her the dark nights are distinguished,
I´m hearing to light and like the light extinguished?
 

 

VIAGEM SEM IDA

Que é que adiantam novas paisagens
se os olhos também delas se cansam?

A melhor viagem mesmo é de quem fica.

                     

                        JOURNEY WITHOUT LEAVING

                        
What does it profit to see new landscapes
                        if soon one´s eyes will also weary of them?

                        Who journeys best is wo stays at home.

 

 

CHÃO DE SOUSÂNDRADE

(Parte Cinco)


Não se vira antes
um poeta assim,
com asas errantes                  
para um vôo sem fim,

Para um ir acima
do que outro fora,
no quanto o anima
sua alma pastora.

Não se vira ante
uma poesia sonhar,
sob esses mirantes,
tanto bem-estar.

Um poeta que abrira
sobre lastro novo
uma nova lira
sem acesso ao povo,

porque realmente
seu tempo de apuro
não era presente,
mas só o futuro.

Um poema que, fora
do tempo e do espaço,
sonhou outra aurora
para um mundo baço,

como um hierofante
que viveu a esmo,
por se ver adiante
até de si mesmo.

Sonhou o melhor
para São Luís,
buscando em redor
a paz que ele quiz.

Mas viu que ninguém
podia entendê-lo,
que ele estava além
do seu próprio zelo.

Sousândrade era
sem poder ter sido
cantor de quimera
do seu próprio olvido.

Atirou-se ao mundo
e ao Guesa se deu,
no andar vagabundo
do destino seu.

Andou até onde
tinha ele de andar,
como quem se esconde
de ser ou de estar.

Mas voltou de longe
com o muito que tinha
de poeta e de monge,
de corvo e andorinha,

talvez por ter visto
que o mundo era pouco
para arcar com um misto
de gênio e de louco.

E então sua Quinta
foi seu universos,
morada hoje extinta
de um mundo perverso

que via o poeta
como um louco inteiro,
e nunca o profeta,
o vate, o pioneiro.

 



 

                LAND OF SOUSÂNDRADE

                  (Part Five)

               

                   No one had ever seen
                a poet quite like him,
                a wanderer with wings
                to fly the endless rim,

                for one to reach beyond
                another person´s goal,
                sustained and nurtured by
                his simple shepherd´s soul.

                No one had ever seen
                a poet dream such dreams,
                beneath those lookout points,
                goodwill is what it seems.

                A poet who hade opened
                upon a bedrock strong
                a new poetic lyric
                not open to the throng,

                the time to understand him,
                and truly this was said,
                 would not be in the present,
                 but future days instead.

                 A poet who remained
                 outside both time and space,
                 began to dream a world
                 much better than this place.

                 just like a hierophant
                 who lived a wandering life,
                 because he saw beyond
                 his day of grief and strife.

                 He dreamed the very best
                 for the city of São Luís,
                 seeking close at hand
                 to find a life of peace.

                 He soon became aware
                 no one had read his book,
                 for he had gone with zeal
                 beyond where others look.

                 Sousândrade became
                 not wishing to have bee
                 a singer of chimera
                 forgotten like most men.

                 He traveled´round the world
                 wrote his Guesa, epic book,
                 as she wandered to and for
                 Guesa´s destiny he took.

                 He wandered where he wandered
                 as he was destined to,
                 like one who tries to hide
                 from himself what he must do.

                 But he came back again
                 with much of what he´d been
                 a poet and a monk,
                 a sparrow in the glen.

                 perhaps he´d understood
                 this world is, as a rule,
                 too small to mix in one
                 the genius and the fool.

                 And so his orchard home
                 became his universe,
                 a home long since destroyed
                 by evil men, perverse

                 who saw the poet as
                 a fool and insincere,
                 but never as a prophet,
                 a poet, pioneer.

 


CHAGAS, José.  Apanhados do chão.  Capa e projeto gráfico: Silvano Alves Bezerra da Silva. (Série Letras Maranhenses, 1). Apresentação por Sebastião Moreira Duarte.  São Luís: Editora da Universidade Federal do Maranhão, 1994.   140  p. 
CDU  869.0 (812-11.1)     Ex. doado pelo livreiro BRITO – Brasília.

 

 

        Chão de Sousândrade

 

       1

Largo da Cadeia
e chão do poeta.
O pó que se alteia
na memória inquieta.

O chão que se alarga
para poder dar
espaço a uma carga
de luz singular.

Cadeia que era,
hoje é livre chão
do poeta à espera
dos que o escutarão.

É antigo terreno
que se valoriza
com o canto sereno
que chega na brisa,

e é a voz do poeta,
de instante a instante,
na saga completa
do seu Guesa Errante.*

Este chão agora
tem rastro de luz
semente de aurora
que se reproduz.

 

        2

O Largo era a reta,
o aberto caminho
por onde o poeta
passara sozinho.

Por ele lá ia
o poeta tristonho,
levando por guia
apenas seu sonho

Ia para a Quinta*2
onde ele residia
junto à paz distinta
de sua poesia.

 

        E sem nada além
de uma solidão,
o poeta hoje tem
seu nome no chão,

no chão de uma praça
que agora é hospital,
e onde hoje se passa
seu vulto irreal

3

O chão do poeta
que cantou a Guesa
e a mágoa secreta
de uma angústia presa.

O pó encantado
de lírica luz,
clarão de passado
sobre sonhos nus

Ó cinza que ainda
faz lembrar a chama
da agonia infinda
de quem muito ama.

Chão que eleva o ouro
da fina poeira
ao som duradouro
da canção inteira.

Chão iluminado
por claras manhãs
nu dúbio reinado
de lendas pagãs.

4

Nesse chão tão cheio
de árvores belas,
o poeta em recreio
se irmanava a elas,

se escondia ao vento
e à sombras se punha,
com um segredo lento
com testemunha.

Nesse chão bendito
o poeta sabia
reter o infinito
de sua poesia.

Poesia estranha
sob um manto escuro
de quem só se banha
na luza do futuro.

5

Não se vira antes
um poeta assim,
com asas errantes
para um voo sem fim,

para um ir acima
do que outro fora,
no quanto o anima
sua alma pastora.

Não se vira antes
um poeta sonhar,
sob esses mirantes,
tanto bem-estar.

Um poeta que abrira
sobre lastro novo
um nova lira
sem acesso ao povo,

porque realmente
se tempo de apuro
não era o presente,
mas só no futuro.

Um poeta que, for
do tempo e do espaço,
sonhou outra aurora
para um mundo baço,

como um hierofante
que viveu a esmo,
por se ver adiante
até de si mesmo.

Sonhou o melhor
para São Luís,
buscando em redor
a paz que ele quis.

Mas viu que ninguém
podia entendê-lo,
que ele estava além
do seu próprio zelo

Sousândrade era
sem poder ter sido
cantor da quimera
do seu próprio olvido.

Atirou-se ao mundo
e ao Guesa se deu,
ao andar vagabundo
do destino seu.

Antou até onde
tinha ele de andar,
como quem se esconde
de ser ou de estar.

Mas voltou de longe
com o muito que tinha
de poeta e de monge,
de corvo e andorinha,           

talvez por ter visto
que o mundo era pouco
para arcar com um misto
de gênio e de louco.

E então sua Quinta
foi seu universo,
morada hoje extinta
de um mundo perverso

que via o poeta
com um louco inteiro,
e nunca o profeta
o vale, o pioneiro

6

O poeta sozinho
fechou suas portas,
mas achou caminho
entre pedras mortas.

Ninguém o amou tanto
quanto a solidão.
Foi demônio e santo,
sagrado e pagão.

Cantou como a ave
que, em sua gaiola,
faz do canto suave
a dor que se evola.

Ensinou a vida,
como se, ao ensiná-la,
fosse ala contida
no campo da fala

Sua glória mansa,      
sem mistério ou lenda,
ficou na esperança
de quem o entenda.

Morreu solitário
na Quinta Vitória,
como um visionário
de triste memória.

E pedra sobre pedra
comeu desse chão,
onde hoje só medra
sua solidão.

Comeu desse pó
que o comeu depois,
e um destino só
restou para os dois.

 

*

Página ampliada e republicada em junho de 2023.

*

Página ampliada e republicada em abril de 2022

 

 

 

Página ampliada e republicada em dezembro de 2008; ampliada e republicada em janl 2011; ampliada em setembro de 2016; página ampliada em outubro de 2019. 

 

Poesia maranhense. Ernesto Chê Guevara (poema).

 

 

 

 
 
 
Home Poetas de A a Z Indique este site Sobre A. Miranda Contato
counter create hit
Envie mensagem a webmaster@antoniomiranda.com.br sobre este site da Web.
Copyright © 2004 Antonio Miranda
 
Click aqui Click aqui Click aqui Click aqui Click aqui Click aqui Click aqui Click aqui Click aqui Click aqui Home Contato Página de música Click aqui para pesquisar