DILERCY ADLER
Dilercy Adler nasceu em São Vicente Férrer em 1950. Psicóloga, é Mestre em Educação e Doutora em Ciências Pedagógicas pelo ICCP / Cuba. Atualmente, é professora da Graduação e Pós-Graduação da Faculdade Cândido Mendes do Maranhão – FACAM.
Como escritora, Dilercy Adler tem publicado os livros Crônicas & Poemas Róseos Gris (1991), Poematizando o Cotidiano ou Pegadas do Imaginário (1997), Arte Despida (1999), dentre outros trabalhos de igual importância. Foi organizadora da Exposição e editora do livro Circuito de Poesia Maranhense, sendo a atual presidente da Sociedade de Cultura Latina do Maranhão – SCL/MA. Confira abaixo um dos textos da autora, contidosno seu novo livro de poemas.
Fonte da biografia: www.jornalpequeno.com.br
Mulher
Corpo desnudo
sob os lençóis
de cetim
pele sedosa
e incandescente
contornos perfeitos
sob medida
para a gratificação
de olhos ávidos
braços vigorosos
e boca sedenta
de paixão!
Homem
Massa de músculos
e força
quanta potência
emana do teu corpo
teu corpo
que me entontece
estremece
enlouquece
mas também
enternece
com teu doce jeito de ser
menino
Negação de si
Ela sonhou
sendo beijada
por um estranho
beijo ardente
impregnado de desejos
tamanhos...
desconcertantes[
ela se flagra
olhando um homem
elegante que passa
e que perpassa
nas entrelinhas do seu porte
desejos irreverentes!
ela se compara
com a mulher "séria" que é
sem desejos
sem anseias
sem defeitos
"perfeita" até demais
moldada para ser
propriedade apenas
e nada mais
e aí se envergonha
se apavora
nega a si mesma
e tenta esquecer!
(Crônicas & Poemas Róseos-Gris, 1991)
COBRANÇA
Cobro-te
cobras-me
cobra venenosa
com veneno fatal
cobro-te
quando me cobres
com teu corpo
enroscado
tipo cobra
no meu corpo
intumescido rígido sensual
Poema
... Fala, poeta, por ti e por nós
a palavra de amor
por sob os lençóis
a palavra benigna
que não fere jamais,
a palavra da vida
que lava a ferida
tantas chagas de dor.
Fala, poeta,
palavras, palavras
em rimas de amor!
SEDUÇÃO
Sapato alto
vermelho
preto
azul turquesa
quanta beleza!
sapato alto
pés pequenos
pernas torneadas
quadris a balançar
languidamente
no ritmo do seu caminhar!
bela cena
de Eva a Maria Madalena
que não merece censura
ou outra pena qualquer
é de fato uma bênção feminina
feminíssima
bênção à mulher...
Sapato alto
vermelho
preto
azul turquesa
quanta beleza!
sucessão de sutilezas
sutilezas de sedução
só para chegar
avassaladoramente
ao coração masculino
ao coração de todo e qualquer Adão!
LATINIDADE: I COLETÂNEA POÉTICA DA SOCIEDDE DE CULTURA LATINA DO ESTADO DO MARANHÃO. Dilercy Adler, org. São Luis: Estação Produções Ltda, 1998. 108 p. Capa: Carranca – Fonte d
o Ribeirão – São Luís – Maranhão – Brasil Ex. bibl. Antonio Miranda
ATROPELAMENTO
As palavras fogem
escorraçadas
escorregam
pelo canto frio da boca
amordaçada
trânsito engarrafado
calor quarenta graus
transpiro sangue
vermelho forte
engasgo
rasgo o risco
que me foge
palavra atropelada
morre no asfalto!
MULHER DE PEDRA DE CHICHEH – ITZA
A CELIA MANCILLAS PILERCY APLER
A mulher de pedra
deitada nua
exposta ao pôr-do-sol
posa inadvertidamente!
a mulher nua na pedra
pede esmolas
migalhas de carinho
incansável
inutilmente!
a mulher de pedra nua
gélida dura
deitada sob o infinito
espera infinitamente!
a mulher de carne e a de pedra
se confundem
no eterno desejo se quedam
paralisadas de desespero
simplesmente esperam!
MISTURA DE PELE
a pele
escura
a pele
branca
a pele
a brancura
a loucura se mistura
na pele
por séculos e séculos
pela fresta da janela
vejo a pele
que reflete
a luz do teu sol
luz amarela
na pele escura
dourado sem igual
sobre a minha brancura
nua!
CONTRASTES
Pássaro branco
na noite escura
da cidade em transe
voa
trânsito neurótico
narcótico ilógico
da ponte absurda
navega nesse vôo
paz entalhada
em cada detalhe
desse vôo noturno
encobre o entulho da ponte
e revela o aveludado vôo
que se inicia!
RELICÁRIO
Lembranças
enleadas
de linho verde
momentos
fortuitos
de felicidade
Tesão tecido
em seda
amalgamado
pelo tempo tão lento
loucuras
lacradas
relicário!
POETAS E ESCRITORES BRASILEIROS. Antologia. Clério José Borges (Org.) Vitória, Espírito Santo. Editora Canela Verde, ACLAPTCTC, 2020. 290 p. ilus.
ISBN 978-65-991059-9-0-6 No. 10 898
Exemplar da biblioteca de Antonio Miranda
ESCRIBA
Leio nas linhas do tempo
tudo que escrevi
nas noites de solidão
nos domingos de praia e sol
na festa embalada por uma canção
na voz de uma criança que eu vi
acompanhada de um único violão...
escrevo ainda hoje
continuo a escrever
ininterruptamente
não posso parar
e intempestivamente
escrevo nas linhas
tortas
retas
e curvas à minha frente...
escrevo algo novo
— inédito —
às vezes repito o velho
do espelho
que me mostra
as rugas do dia
que se despediu inerte!
às vezes escrevo sobre restos
do que me sobrou
do dia esquálido
do ano que se foi em vão
daquela noite especial
de natal
ou dos dias e dias
de um folião
bailando sozinho no salão
daquele triste carnaval!...
aí paro numa quarta-feira de cinzas qualquer
e olho ao redor de lado a lado
procuro na esquina
perscruto o prescrito
e não encontro nada
não encontro mais também...
continuo procurando
continuo querendo ver
não importa muito o quê
só para continuar a sina
a sina solitária
— mas cortês -
de escrever!...
ANTES QUE SEJA TARDE
Acorda e vê!
não apenas o que desejas
mas
— de fato o que existe —
mesmo que seja triste!
acorda e vê
abre os olhos e vê!
a perfídia
o egoísmo
a inveja e a ambição
mesmo quando o que desejas
seja a igualdade
a felicidade
e a união...
acorda e vê!
quem diz amar seu país
quando de fato — não ama —
quer só poder — o infeliz —
e o povo fica a sofrer
acredita no que ele diz
obedece
aplaude
defende
e esquece
o que não devia esquecer
a panela vazia
a fome corrosiva
a doença sem remédio
a morte antecipada
sem assistência...
sofrida
a casa que desaba dia a dia
e soterra corpos
sonhos
enterra a alma na lama
que o dinheiro venceu.
acorda e vê!
abre os olhos e vê!
quem a guerra incentiva
para usar foguetes
ogivas
e grandes lucros obter...
abre!
— abre mesmo logo os olhos —
vê quem só ama a sua vida
e para vida dos outros não liga
pode ser aniquilada
pode acabar na rua
e morrer!
morrer de fome
morrer de tédio
morrer de ódio
que vitimiza!
acorda e vê!
abre os olhos e vê!
a bala direcionada
ao coração de quem se ama
e quer muito
muito viver
mas
termina morrendo envenenado
por agrotóxicos vorazes
morre à mingua
afogado em mentiras
sem conhecimento algum...
a vida morre
acaba na rua
sem paz
sem lua
sem poesia alguma!
EPITÁFIO
Joguem as minhas cinzas do alto
para que eu possa dar o meu último voo...
— como o da Águia!
joguem as minhas cinzas do alto
para que eu possa dar o meu último voo...
— voo de Águia!...
joguem as minhas cinzas do alto
para que eu possa — como a Águia —
contemplar
do infinito azul
o verde azulado
do planeta que tanto amo!
joguem as minhas cinzas do alto
para que se espalhem no infinito
e marquem a minha finitude
inaceitável!
Joguem as minhas cinzas do alto
para que eu possa continuar
contemplando
sonhando
perdoando
esperançando
abençoando
—amando!...
joguem as minhas cinzas do alto
para que eu possa continuar voando!...
Página preparada por Zenilton de Jezus Gayoso Miranda e publicada em outubro de 2008. P; página ampliada em outubro de 2019
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