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Sobre Antonio Miranda
 
 


 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 


 

CUNHA SANTOS FILHO

 

Poeta da geração Hora de Guarnicê, dos anos 1970. Aparece com os nomea de Jonaval Cunha Santos e Homaval Medeiros da Cunha Santos em diferentes fontes.  Nascido em Codó, Maranhão, a 10 de novembro de de 1952, e seu texto de estréia é Meu calendário de pedaços (1978).

 

Irreverente, audacioso, ousado, Cunha Santos costura sua própria dicção poética sob sarças de fogo e com muito fôlego. Com desassombro, investe contra os podres poderes responsáveis únicos pelas injustiças sociais.Antes de mais nada, o poeta reforça o conceito de que poesia é, acima de tudo, emoção e sensibilidade, a parte anímica do ser em seus desdobramentos e conjunções, com a força telúrica das percepções sensoriais. O poema, sim, é outra coisa, pois, como um filho, depois de ser gerado e gestado, pronto e parido, precisa ser criado. E é aí, nesse dado momento, que o poeta se vale do potencial de que dispõe para criar os melhores frascos e embalagens para guardar suas essências.

 

Títulos principais: A Madrugada dos alcoólatras, Odisséia dos Pivetes, Paquito – o anjo doido e Pesadelo. In http://www.guesaerrante.com.br/2005/11/30/Pagina329.htm

 

CUNHA SANTOS FILHO

 

Delirium tremens

 

Eu ouço passos no absurdo

pancadas secas no desconhecido

marés se movem nos meus olhos

mãos de areias na minha faringe

tentam arrancar veias que eu amo

 

A noite se move estranha

Neva nesta "Casa". É a morte

rondando dentro dos copos

mexendo nas canelas de aço

que se acumulam nos meus pés

 

Eu sinto fome: como meus dedos

sacode-me um desejo santo

de enforcar uma criança

para evitá-Ia deste mundo

 

Não conheço estas ruas

nem sei mais de onde vieram

as estacas com que me batem

 

eu preciso desenhar a poesia

eu preciso desenhar meu grito

pois hoje, nem as palavras da lua

far-me-ão descansar a caneta

do martírio de dizer besteiras

 

hoje eu sou uma choça de remorsos

diferente: sim, porque não matei

nem sequer premeditei a morte

mas sou o local do crime!

 

(Meu Calendário em Pedaços/1978)

 

 

Motel

 

o mênstruo da aurora em tom vermelho

repete-me abatido na vidraça

minha imagem em dó, ré, mi, coalha no espelho

o sol, lavando o resto, vê e passa

 

é a manhã, rebento do meu sono, afoito

me mudo para a lâmpada que, acesa,

crava minha sombra sobre a mesa

caneta e eu, poema, eterno coito

 

saudades dela em mim como estrias

na pele. E como é dura removê-Ias

devassos nós dormimos quando é dia

 

que às noites, como cães lassos de orgia

se ela faz suruba com as estrelas

eu vivo em coito anal com a poesia

 

 

Cirrose azul

 

São os testículos de Deus que agora arranco

na marcha em que não marcho pois sou manco

na mesa em que me esfumo no vinho do mal

rolo-me por mim, que sou barranco

choro de beber, choro e me tranco

que nem o olho aceita o choro do chacal

 

Porque quis eu dar outro murro em Cristo

com toda alma danada de um Buda misto

e ser punido, hoje, por não ter pais

se nem sequer é minha roupa e eu nem visto

quero ser homem - sou apenas quisto

quero ser carne - sou só cicatriz

 

Não tive a vez do azul quando do gozo

a mim foi dada a queda, nunca o pouso

e outros retesaram-me no chão

assim, Ó vil cantiga que eu nem ouso

nesta cama de gato é que eu repouso

ferreado da violenta compulsão

 

Não irei longe. É certo, me esfarinho

o séquito do demo é o eu sozinho

o eu, ou 10, milhões mamando a paz

- por tantas vezes destruí meu ninho

sou como inseto que alagado em vinho

afoga, arqueja, sofre e bebe mais

 

Tridente, fogo, rastro de cometa

o mundo onde estou é uma maleta

trancada aos ais das mães e aos ais dos pais

vivo de espirros - gripe de escopeta

entregador de horror, eu estafeta

que desde que se foi, não foi jamais

 

Bebo meu sangue seco na tigela - e frio –

tantos se juntam pra eu ser vazio

tantos se aninham pra me reverter

eu, que de um só, após, me fiz um trio

durmo em mim mesmo e choro enquanto rio

de ver meu próprio riso apodrecer

 

.........................................................

 

Mas há um cão distante que poreja

há uma lombriga d'ouro que me beija

e alguém que ri falido de tormento

há uma carne sem sal, que de sal seja

que eu me mudei pra um balde de cerveja

e fiz de um copo meu apartamento

 

(A Madrugada dos Alcoólatras, s. d.)

 

 

 As lágrimas de Seu Nelson

 

Seu Nelson chorava todas as manhãs

não porque estivesse velho ou triste

não porque lhe deprimisse estar no mundo

 

Seu Nelson chorava todas as tardes

não porque sentisse dor ou soubesse de saudades

não porque lhe deprimisse não ter muito aonde ir

 

Seu Nelson chorava todas as noites

não porque fosse criança ou tivesse medo do escuro

não porque lhe restasse na vida um único e antigo amor

 

Seu Nelson chorava todas as manhãs

porque tinha certeza de que jamais

haveria outra manhã igual àquela

 

Seu Nelson chorava todas as tardes

porque cedo ou tarde todas as tardes acabam

 

Seu Nelson chorava todas as noites

porque sabia que as estrelas

se repetiriam em outras noites,

naquela noite nunca mais

e que sua madrugada só duraria

até a hora de chorar mais uma vez

 

 

Quarto de Hospício

 

Um cinzeiro, duas camas, uma de acompanhante,

um chuveiro bêbado, um envelope de arsênico,

dois rolos grossos, um de papel higiênico,

cascas de frutas e uma moça estonteante,

 

um televisor repetindo as mesmas cousas,

um piso queimado, um sifon metido a besta,

um poeta que se enfia em suas próprias lousas

e uma música que explode em minha testa

 

Um amigo que não chega, dois ou três lençóis sujos,

dois homens na janela agindo como sabujos,

uma mesa, livros velhos e uma revista repetida

 

Um velho cesto de lixo, sacos de leite estragado,

uma descarga, um baton e um Deus que está zangado

porque esqueci no vaso o resto da minha vida

 

Página preparada por Zenilton de Jesus Gayoso Miranda e publicada em outubro de 2008.



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