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Sobre Antonio Miranda
 
 


 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Imagem: wikipedia


CORRÊA DE ARAUJO

(1885-1951)

 

Raimundo C. de Araujo Pedreiras, poeta, jornalista, advogado, professor,  nasceu em Pedreiras, no Maranhão. Foi diretor da Biblioteca Pública do Mranhão; fundador da Academia Maranhense de Letras

 

Obra poética: Harpas de fogo (1903), Evangelho de moço (1906), Pela pátria (1908), Ode a Rui Barbosa (1918), O canto da cigarra (1946).

 

 

AQUELES OLHOS

 

Ela olhou e passou, graciosa e bela.

Passou... e foi-se para sempre, embora

brilhe em meu coração, desde tal hora,

ditosa, a doce luz dos olhos dela...

 

Estrela que no azul cintila e mora,

viu-a o Poeta e emocionou-se ao vê-la;

e amou a estrela doidamente, e a Estrela

fugiu, fulgindo, pelos céus afora...

 

Desde então, muitos anos já passaram;

talvez haja fechado - a garra adunca

da morte, - os olhos que me deslumbraram..

 

 

Neste vale de lágrimas e abrolhos,

viva cem anos, não verei mais nunca

olhos tão lindos como aqueles olhos!

 

 

DENTRO DO ABISMO

 

Morria... O abismo embaixo, esboroadas

Fauces horríveis para o espaço abria,

E eu suspenso no vácuo, as mãos pousadas

Nas margens negras, já sem fé morria.

 

Sei que caí mas que, ao cair, sagradas

Mãos me ampararam na voragem fria;

E, ao despertar, Alguém d'asas doiradas,

Alguém que eu amo, junto a mim sorria.

 

Eras tu! Amparaste-me a fugiste:

E eis-me de novo cheio de desditas!

E eis-me de novo desvairado e triste!

 

E clamo e gemo... que cruel contraste!

És tu agora que me precipitas

No meu abismo donde me tiraste!

 

 

NA ARENA

 

Sou cavalheiro e menestrel, chorosas,

Notas desfiro no arrabil das dores;

Brando a lança de lendas luminosas

E a guitarra imortal dos trovadores.

 

Buscando justas e buscando amores,

Vêm-me em sonhos todas as formosas,

Com uma harpa de pétalas de flores,

Com uma espada de jasmins e rosas.

 

Seguirei combatendo destemido,

E quando um dia em chagas escarlates

Entre agonias eu tombar vencido,

 

Oh! bando loiro em sonhos absorto!

Ponde este gládio tosco dos combates

Na tumba azul do cavalheiro morto.

 

 

 

RAMOS, Clovis.   Minha terrra tem palmeiras... (Trovadores maranhensess) Estudo e antologia.  Rio de Janeiro: Editora Pongetti, 1970.   71 p.   Ex. bibl. Antonio Miranda   

 

         Vida! dos males que trazes
Não sei qual o mais tremendo;
A ventura é um raro oásis
No teu deserto estupendo.

 

        Meu coração submerso
Em nostalgias trevosas,
Deixaste-o num áureo berço
De luzes melodiosas.

 

        Entraste em loucos adejos
Pela estepe de meus dias.
Como um ciclone de beijos,
Como um tufão de harmonias.

 

        Vendo-te os brilhos risonhos
Com que tanto me confortas,
Ressuscitaram meus sonhos
— Um bando de auroras mortas.

 

        Tudo renasce e fulgura
E se muda dentro em mim...
Sou como uma sepultura
Transformada num jardim.

 

        Uma semana já passa
Desque foste, meigo lírio...
Sete dias! que desgraça!...
Sete dias! que martírio!...

 

        Quando tu andas fugace
Leve, aérea, irresistível,
É como se o chão tocasse
Uma cítara invisível.

 

        Pelos ermos silenciosos
Só se escuta a sua voz,
Cantando uns hinos formosos
Que aprendeu com os rouxinóis.

 

        Com seu olhas faiscante
De estátua soberba e calma,
Olhou-me e, no mesmo instante,
Fez-se dona de minh´alma...

 

        Com mil sorrisos perversos
Nos rubros lábios risonhos,
Canta em todos os meus versos,
Brilha em todos os meus sonhos.

 

 

 

 

SONETOS. v.2.Jaboatão dos Guararapes, PE: Editora Guararapes EGM, s.d.  151 - 310 p.  16,5 x 11  cm.  ilus. col.  Editor: Edson Guedes de Moraes. Inclui 171 sonetos de uma centena de poetas brasileiros e portugueses.  Ex. bibl. Antonio Miranda

 

 

 

         A CASA ONDE NASCI

        Da casas onde nasci lá em Pedreiras,
Onde brinquei, onde vivi criança
Nada resta, pombal, horta, fruteiras,
Um chão vazio – eis o que a vista alcança...

        Ninho das minhas ilusões primeiras!
Meu caído palácio da Esperança!
Tal qual te vi, em quadras lisonjeiras,
Ergo-te ainda na fiel lembrança!

        Eden Terrestre em que vivi menino,
Ó casa de meus pais! do meu destino
Tenho em ti a mais clara ante-visão.

        De mim, de ti, não ficará memória:
Nenhum poema há de fulgir na História!
Pedra nenhuma restará no chão!

 

        MONTANHA PRETA

        Séculos ruindo, gerações tombando,
Esses negros montões, indefinidos,
Vão sobre a terra, lúgubres, formando
Cordilheiras imensas de gemidos.

        É uma pedra cada pranto. O bando,
A flébil legião dos oprimidos,
Aumenta e aumenta o monte fulgurando,
Monte infernal de corações partidos.

        O céu sonha fantástico e impassível,
Ante o subir das lágrimas espessas,
Ante a invasão dessa Babel terrível...

        E ajoelhados, as almas dos Aflitos
Embalde clamam sobre o cimo dessas
Formidáveis pirâmides de gritos.

 

        NOITE DE INSÔNIA         

        De certo dormes, a tão altas horas,
Horas de espectros pela noite escura;
Lá na vila natal, onde tu moras,
Dormes e sonhas, bela criatura!

        Sonhos, tangendo as cítaras sonoras,
Para os céus arrebatam-te a alma pura;
Dormes e eu velo, dormes e ignoras
A saudade infernal que me tortura.

        Sonhas talvez com querubins alados,
E eu cismo aqui, entregue ao devaneio
Dos sonhadores e dos  namorados...

        Dormes, envolta em leves claridades,
E eu velo, e o coração me sangra, cheio
Da mais cruel de todas as saudades.

       

 

 

Página ampliada e republicada em outubro de 2019


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