CLÓVIS RAMOS
Clóvis Pereira Ramos nasceu em Tabatinga, Amazonas, em 20 de novembro de 1922. Poeta, ensaísta, historiador, formado em Direito em 1955, membro da Academia Maranhense de Letras. Autor de muitos livros, desde o primeiro de poesia — Evangelho do Poeta (1913).
São Luís
I
São Luís há sobradões, ermidas
e lembram do passado o tempo nobre,
a beleza sem par, que não se encobre
o silêncio das coisas esquecidas.
Pelas ruas estreitas e avenidas,
quanta história de amor! Basta se dobre
uma esquina e, de novo, rico ou pobre,
vibram no coração doces feridas!
Ah! tudo em São Luís vira poesia
na saudade que vem, terna saudade,
que nos maltrata e nos aliviar
E sonhando um amor, espero, ainda,
rever a terra da felicidade,
que tanto quero, com ternura infinda.
II
Estou em São Luís e, novamente,
cantarola em meu peito um amor antigo.
Digo num verso comovido e ardente,
tudo o que sinto como meu castigo.
Por uma rua enso1arada sigo
e meu pensar, talvez, ninguém pressente.
Ah! meu sonho de amor, que ainda persigo!
Ai! saudade que fere ferozmente!
Pelas praças, que flores perfumosas!
O sol as beija como beija as rosas
dos lábios da mulher que se quer bem.
São Luís é a cidade da ternura...
Em cada canto um sonho meu perdura,
perdura, em cada canto, o olhar de alguém.
(In São Luís do Maranhão é Poesia/1922)
Humilde estrebaria
Um fenômeno estranho acontecia
nas terras de Judá. Eis que os pastores
ouviram vozes de anjos em louvores
ao pequenino filho de Maria.
A noite era de místicos fulgores,
noite serena, noite de poesia.
Sobre as palhas de humilde estrebaria,
dormitava Jesus por entre flores.
Uma estrela de brilho nunca visto,
aparecera nessa noite e os Magos
vieram de longe em caravanas de ouro...
"Glória a Deus nas alturas!" Glória ao Cristo!
Maria-- Mãe - porém, em pranto e afagos,
temia a sorte do seu filho louro.
O cego Bartimeu
Há poesia em tudo o que é divino.
Nas bodas de Caná como na Ceia.
Embora eu seja um poeta pequenino,
cantar o Deus de Amor minh’alma anseia.
Quando Jesus seguia, sol a pino,
de Jericó na estrada - sol e areia - ,
o cego Bartimeu - homem franzino - ,
de ser repreendido não receia.
- "ó Filho de Davi, tem piedade!"
Jesus parou. - "Que queres que te faça?"
- "Que eu veja; meu Senhor!" E a claridade
do dia iluminou aqueles olhos,
aquele coração cheio de graça,
aquela alma liberta dos escolhos!
(Estrela Mansa/1983)
Página preparada por Zenilton de Jesus Gayoso Miranda e publicada em setembro de 2008
|