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 CÉSAR WILLIAM
 César William David Costa, poeta (da Geração 90) e professor maranhense, nasceu  em Sâo Luis em 1967. Livro de estréia: O Errante (1988).
     o errante   Por um erro me  fiz errante, Mais errante que  o erro do errado Mil tropeços no  meu passado, Os infernantes  constando Dos meus  retalhos.   Sem dúvida, com  mágoas Meu sorriso  pichado. Ó triste dor tão  infinita: Não me inflame  agora   Não me deixe ser  um errante, O mesmo que  ontem amava Nas curvas de um  delitante.   Um errado  errante, Um facínora Um desamante.   Tantos sonhos  refeitos, Tantos tombos  levados...   Viver numa  clausura com incúria Tamanha fera,  qual a rua desabitada. Nos degraus de  uma ponte pitoresca?.. Na esquina de um  velho sobrado?..   Não importa É um errado, Um errante de  sonhos mutilados Pelo poder da  censura .......................................     Labirinto   Libertei-me da  muralha, Agora sou  escravo das profecias. Estou  nutrindo-me de migalha Em cada canto  das periferias.   Agora sou hálito  infame No cume da  cumplicidade. Entre mil  doenças... "Derrame"... A centelha da  humanidade.   Continuo perdido À procura de  outra "muralha" Agora sou parto  ferido Nutrindo-me de  nova migalha...   De nada  adiantaram as leituras Se agora sou  somente vestígio em um ermo de  mil amarguras Não sei mais o  que fazer (perdi o prestígio)   Sou agora o  único sobrevivente Deste labirinto  medonho. Preciso de um  verso urgente Para findar este  sonho...     Sufocação   Uns me afogam Inundam-me de  fantasias. Outros me cortam  o sorriso, Rompendo-me os  dias. E assim vou  balbuciando Com meus versos  pródigos. Sinto o que os  outros sentem O que não me  deixaram sentir (?) E assim vou  levando a vida Sem deixar me  permitir... Outros me  sepultam Sem antes deixar  que eu nasça... E assim vou  levando (a vida) —No cemitério ou  na praça - (O Errante/1988) 
 
                       ATO – REVISTA DE LITERATURA.  NO. 7.   Belo Horizonte: Gráfica e Editora O  Lutador,  janeiro de 2009.  Editores: Camilo Lara, Rogério Barbosa da  Silva e Wagner Moreira.  21,5 X  52 cm.   52 p.Ex. biblioteca de Antonio Miranda
 
 
 HIATO
 
 do abismo a boca é farta
 lâminas saltam em  cápsulas de gritos
 ferindo a  própria fala
 
 do abismo a  boca é aço
 suportando todas as línguas
 parindo todas  as palavras
 
 
 (Revista Anual Sociedade Cultural Grupo Carranca, 2000)
 
           VIDRO DO  TEMPO  
 os cacos da vida
 vão cor
 tando a  minha cara
 e o sangue aceso  vai beijando
 os olhos  da calçada
 da madrugada pálida de outros eus  que empalidecem
 desenhando pássaros  de verdade
 num vôo  arriscado sobre a dor
 tangidas asas cor
 tando o medo
 esmiuçando ânsias em  ânsias maia ainda.
 
 (COLETÂNEA Poética dos Festivais Maranhenses de Poesia  Falada.
 São Luís: DAC/UFMA, 2000)
 
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 Página ampliada e republicada em março de 2024.
 
     Página preparada por Zenilton de Jesus Gayoso Miranda e publicada em  outubro de 2008. 
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