Minh´alma  é triste e sombria
                        Como  um templo solitário;
                        É  como o Cristo quando ia
                        Para  o cimo do Calvário.
                               Tenho  triste o coração
                        Como  das brisas o açoite;
                        Como  o soar de um trovão
                        Nas  horas mortas da noite. 
                               Vivo  triste e acabrunhado
                        Igual  a um mocho funéreo;
                        Como  um cipreste plantado
                        No  centro de um cemitério!
                               Da  sorte os atros revezes
                        Têm-me  feito penar;
                        E  eu me rio muitas vezes
                        Com  vontade de chorar.
                               Eu  andei da desgraça aos cumes
                        Fui  eu mesmo o causador! 
                        Paga  rendas de ciúmes
                        Quem  mora em terras de amor.
                       
                      
                      ANTOLOGIA DE SONETOS PIAUIENSES [por]   Félix Aires.  [Teresina:  1972.]   218 p.     Impresso  no Senado Federal Centro Gráfico, Brasília.                                 Ex. bibl.  Antonio Miranda
                       
                             
                        O  URUBU
  
                        Cortando  o espaço alvissareiramente
                            Como  o avião atravessando os mares,
                            Voa  o urubu alígero, contente,
                            Julgando  ser o campeão dos ares!
  
                            Em  ziguezagues ágeis de serpente,
                            Ele  avista de longe os nossos lares.
                            E  como “pose” de altivo, presidente
                            Pensa  atrair a todos os olhares.
  
                            Chega,  afinal, a vez da atroz descida:
                            E  quando avista a presa apetecida
                            Que  deixa cá em baixo na sarjeta.
  
                            O  urubu murcha as asas de repente,
                            E  lá se vem vertiginosamente,
                            Todo  vestido em casimira preta.
                       
                      *
                       
                      Página ampliada em março de 2023