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Sobre Antonio Miranda
 
 


 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 


ALBERICO CARNEIRO

ALBERICO CARNEIRO

 

Poeta e romancista, editor do suplemento Guesa Errante, Suplemento Cultural e Literário do JORNAL PEQUENO.

 

Alberico Carneiro chega ao seleto clube dos sexagenários com uma invejável bagagem de trabalho em prol da cultura e da educação maranhense. Este admirável poeta e professor, que nasceu em Primeira Cruz, no dia 15 de maio de 1945, e viveu a infância no Arquipélago de Farol de Sant‘Ana, no litoral oriental do Estado, é hoje, assim do alto de seus 60 anos de vida útil, uma figura representativa para o Maranhão atual.”  Manoel Santos Neto

 

As Damas Negras em Noite de Núpcias

 

1        talvez um poema seja

simples sobra de palavras

impronunciadas por pessoas

na inútil BabeI da fala

mas impressas como em tábuas

da sarça do Verbo em chamas

nessa partida de Damas

Negras em Noite de Núpcias

que num lance de dados e de dedos

o acaso não abolirá

 

2        talvez um poema seja

simples poeira de palavras

projetadas de pessoas

imprimidas como trevas

bem no coração da névoa

que acaso num lance de dedos e dados

como silhuetas que se projetam

como penumbra esfumada

que o acaso não abolirá

 

3        talvez um poema seja

simples sombras de pessoas

transformadas em palavras

silhuetas tatuagendadas

por invisíveis carimbos

que explodem na claridade

a pista de rastros e restos

de cacos caos e resíduos

do simulacro das lágrimas

mumificadas em larvas

de adeuses e últimos gestos

salvo após o rescaldo

em caligramas e símbolos

que de súbito num lance de dedos e de dados

o acaso não abolirá

 

4        talvez um poema seja

simples escombros de palavras

projetadas de pessoas

balbuciados pedaços

de silêncios e silícios

de gritos amordaçados

silenciosos ideogramas

gritos dos olhos dos mudos

barulho de dedos dos surdos

o supertato dos cegos

na visão dos surdomudos

aprisionados em páginas

imagens anônimas das almas

mensagens psicografadas

na comunhão dos sentidos

que num lance de dados e de dedos

o acaso não abolirá

 

5        talvez um poema seja

simples sobra de palavras

projeção de suas sombras

ou o espectro de suas auras

que da escassez ou da falta

ingressam na noite e tombam

no elíptico canto deságuam

no despenhadeiro da ascensão

que por um lance de dados e de dedos

acaso não abolirá

 

6        talvez um poema seja

simples sobras de palavras

impronunciadas por pessoas

projetadas como sombras

tatuagendadas na pele

tangenciadas na neve

com impressões digitais

silhuetas que despreendem

oscilam dos corpos e tombam

num lance de dados e dedos

que o acaso não abolirá

 

7        talvez um poema seja

simples sobras de pessoas

encantadas em palavras

projetadas como sombras

tatuagendadas incisões

como impressões digitais

de cicatrizes em ronda

que se despreendem da pele

oscilam dos corpos e tombam

num lance de dedos e dados

que o acaso não apagará

 

8        talvez um poema seja

somente sombras de palavras

pó que despreende dos corpos

como poeira de estrelas

que viola a gravidade

do Cosmo e telescópios

e foge de apelos celestes

viaja a mil anos-luz

e à noite poleniza as folhas

em suas densas carolas

e no coração das trevas

inscreve-se em simples larva

e deixa aí manuscrito

todo o poema da Terra

que nos charcos enfim enfloresce

como num lance de dedos e de dados

que o acaso não abolirá

 

9        talvez um poema assim

seja simples

como sombras de palavras

simples silhuetas ímpares

de simples pessoas pares

anônimo canto dos parias

que no caminho meio desta vida

entre lances de dedos e de dados

como as Damas súbitas da partida

o acaso não abolirá

 

talvez o poema assim seja

 

(As Damas Negras em Noite de Núpcias/1994)

 

 

 

 

LATINIDADE: I COLETÂNEA POÉTICA DA SOCIEDDE DE CULTURA LATINA DO  ESTADO DO MARANHÃO.   Dilercy Adler, org. São Luis: Estação  Produções Ltda, 1998.  108 p.  Capa: Carranca – Fonte do Ribeirão – São Luís – Maranhão – Brasil        Ex. bibl. Antonio Miranda

 

 

 

O CANTO

 

 

a morte chega e diz: stop!

e o canto avança no seu galope.

 

o corpo tomba. O invólucro não soma

é o canto em ascese do seu própria soma.

 

que a morte é sempre pretérita ao canto,

quando ela gera seu assédio e espanto.

 

de Edgar Allan Poe, Villon ou Pope

a morte é antes, que o canto é izope

e salta adiante no seu galope.

 

 

 

POESIA SEMPRE. Ano 15 Número 30 2008. Polônia. Editor Marco Lucchesi. Rio de Janeiro: Fundação Biblioteca Nacional, 2008. 178 p. No. 10 381
Exemplar da biblioteca de ANTONIO MIRANDA

 

O corsário

Bebi da água
de vários rios
saqueei navios
em vários portos
voei no voo de muitas rotas
segui gaviões e gaivotas
e não me importo
por ser procurado
por ter achado
pela bagagem de contrabando
por ter cruzado oceanos
já conquistados
mas sempre a nado

Eu me perdoo
Por ser ousado
Eu sou um náufrago
eu não me engano
Eu não me zango
por ter sido dado por morto
há milhares de anos
tombadilhado no Atlântico
como um herdeiro de Adão

Indiciado por uso indevido de patente interior
e multiplicidade de identidades
por ter vários sósias em cada porto
mostro meu rosto de vários rostos
revelo plásticas e tatuagens
removo as placas das páginas
mostro os postiços e as próteses
Nada a opor:

EU NÃO SOU SÓ

Eu sou a soma
de quantas sombras
e o avesso
de quantos dramas?

Eu sou os versos
de quantos idiomas
e o processo
de quantos nomes?

Eu sou o fogo
de quantas chamas
e o pavio
de quantas bombas?

Sou o legado
de quantos anônimos
e a legião
de quantos nômades?

Eu sou o assombro
de quantos tombos
e as cartas
de quantas damas?

Eu sou o poço
de quantas águas
e o calabouço
de quantos lázaros?

Sou o gatilho
de quantas armas
e armadilhas
de quantas cigarras?

Sou as cartolas
de quantos mágicos
e o voo solo
de quantas águias

Eu sou os rios
de quantos cílios
e o delírio
de quantos grilos:

Sou a revoada
e quantas asas
e as palavras
de quantos párias?

Eu sou os rastros
de quantos passos
e as pegadas
de quantos astros?

Sou a linguagem
de quantos mártires
e os sabiás
de quantos cárceres?

Sou a alquimia
de quantos dados
e as alegorias
de quantos dedos?

Só sei quem sou
em caso de missão e labor
obstinação e amor:

EU NÃO SOU SÓ

Na trajetória desta viagem
há muitos riscos
há muitos risos
há muitos passos
há muitos pássaros
misteriosos
há muitas gralhas
e gargalhadas
entre espinhos e rosas
há muitas lágrimas
em cada láurea
há muitas hostes
muitas risadas

novas piadas
e hostilidades
muitas viagens
e espantalhos
de pirralhos
e piratas
nas laudas
sem identidade

há muitos ossos
há insanos corvos
há muitas gralhas
comendo migalhas
às gargalhadas
pelas latadas
seguindo as pegadas
no ROSEIRAL.

Há muitos bicos
de aves que bebem
em estranhos rios
Outras se atrevem
a abelhudar
os precipícios
soltas em abismos
não se protegem
e caem no ridículo
da glória breve
sem tomar conhecimento do Sol
da Linguagem.


 

Página preparada por Zenilton de Jesus Gayoso Miranda, publicada em outubro de 2008. Ampliada em outubro de l2019



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