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Sobre Antonio Miranda
 
 


 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 


 

ADELINO FONTOURA

 

 

Adelino da Fontoura Chaves nasceu em Axixá/MA, 30/03/1859 e faleceu em  Lisboa/Portugal, 02/05/1884.

 

Ainda muito pequeno começa a trabalhar e trava contacto com Artur Azevedo – amizade que perduraria.

 

Mudando-se para o Recife, onde alista-se no Exército, colaborando numa publicação chamada “Os Xênios”, de teor satírico. Inicia, também a carreira de actor, voltando ao Maranhão natal para uma apresentação – cujo papel rendeu-lhe a prisão. Após este fato, decide mudar-se para o Rio de Janeiro, para onde se mudara o amigo Artur Azevedo, anos antes.

 

Pretendia seguir carreira teatral e no jornalismo, falhando na primeira. Colaborou nos periódicos “Folha Nova” e “O Combate”, de Lopes Trovão e em “A Gazetinha”, onde Azevedo escrevia (1880). Participara junto a outros jovens talentos do jornal “A Gazeta da Tarde” – que seria aziago, no dizer de Múcio Leão, pois, em menos de 3 anos de sua fundação, os seus criadores haviam todos morrido.

 

Tendo sido o “Gazeta da Tarde” comprado por José do Patrocínio, e estando Adelino doente, vai à Europa como correspondente em Paris e pensando tratar-se mas, com o rigor do inverno, piora. Vai a Lisboa onde, apesar das instâncias de Patrocínio para que volte ao Brasil, tem seu estado agravado e vindo prematuramente a falecer. Tinha apenas vinte e cinco anos, e nenhuma obra publicada.

 

Sua obra, esparsa, constitui-se em cerca de 40 poesias, reunidas pela primeira vez na Revista da Academia (números 93 e 117).

 

 

Adaptado da Wikipedia.

 

Usamos também a obra: LIMA, Israel Souxa. Bibliografia dos Patronos: Adelino Fontoura e Álvares de Azevedo.  Rio de Janeiro: Academia Brasileira de Letras, 284 p. (Coleção Afrânio Peixoto. Vol. 1)

 

 

TEXTOS EM PORTUGUÊS. >TEXTO EN ITALIANO

 

BIBLIOGRAFIA DOS PATRONOS -  ADELINO FONTOURA e ÁLVARES DE AZEVEDO por Israel Souza Lima.  Rio de Janeiro: Academia Brasileira de Letras, 1997.  285 p. (Coleção Afrânio Peixoto)   14x20,5 cm.  Ex. bibl. Antonio Miranda

 

PÁGINA DESCONHECIDA

À brisa, ao sol, à serra,à flor silvestre
Ao ribeiro que corre crystalino,
Ao canto alegre, e doce, matutino,
Das avezinhas no arvoredo agreste;

À campina que do orvalho a manhã veste,
Eu, sem de Homero ter o alto destino,
Um conto fui pedir áureo, divino,
Realmente d'essa luz alva e celeste!

Com elle ornar quizera, alegremente,
O teu album mimoso — onde o talento
De teu genio se curva ao foto ingente;

Mas, não tenho de Dante o pensamento,
Não acho inspiração na luz fulgente
P'ra um canto te offertar com sentimento

        Pará, 5 de novembro de 1876
         publicado no Jornal de Notícias, Bahia, 1911.

 

[ SEM TÍTULO ]

        És como doce juriti da mata,
        Ligeira, esquiva, tímida e medrosa:
        Foges de mim tremente e suspirosa,
        Como quem de um perigo se recata.

        Mas não sei, afinal, criança ingrata,
        Porque foges: não sei porque amorosas
        Tua alma casta, angélica e bondosa,
        Com tão doce esquivança me maltrata.

        Abre as asas à luz serenamente
        E vem fugindo aos gelos do deserto
        Buscar o sol do meu amor ardente.

        Dirige para mim teu voto incerto,
        Pois tens meu coração, pomba inocente,
        Como um tépido ninho         sempre aberto.

         (Publicado originalmente em O Álbum, Rio de Janeiro, n. 40, de setembro de 1983, com o título de "O Ninho".

 

 

                   A MÃO

 

                   Quando meu lábio trêmulo te oscula

                   A pequenina mão delgada e fina,

                   Como uma pomba trêmula que arrula

                   Minha vida, mal sabes! — canta e pula

                   Na rósea palma dessa mão divina!

 

 

ATRAÇÃO E REPULSÃO

 

Eu nada mais sonhava nem queria

Que de ti não viesse, ou não falasse;

E como a ti te amei, que alguém te amasse,

Coisa incrível até me parecia.

 

Uma estrela mais lúcida eu não via

Que nesta vida os passos me guiasse,

E tinha fé, cuidando que encontrasse,

Após tanta amargura, uma alegria.

 

Mas tão cedo extinguiste este risonho,

Este encantado e deleitoso engano,

Que o bem que achar supus, já não suponho.

 

Vejo, enfim, que és um peito desumano;

Se fui té junto a ti de sonho em sonho,

Voltei de desengano em desengano.

 

 

CELESTE

 

É tão divina a angélica aparência
e a graça que ilumina o rosto dela,
que eu concebera o tipo de inocência
nessa criança imaculada e bela.

 

Peregrina do céu, pálida estrela,
exilada na etérea transparência,
sua origem não pode ser aquela
da nossa triste e mísera existência.

 

Tem a celeste e ingênua formosura
e a luminosa auréola sacrossanta
de uma visão do céu, cândida e pura.

 

E quando os olhos para o céu levanta,
inundados de mística doçura,
nem parece mulher - parece santa.

 

 

OHS! E AIS!

 

Essa mulher que tantos ohs! provoca,

Essa mulher que tantos ais! arranca,

Essa mulher quem é? Por que abre a boca

O Silvestre quando a vê? - É branca?

 

É morena? É francesa? É carioca?

As belezas helênicas desbanca?

O seu olhar os cérebros desloca?

O seu sorriso as lágrimas estanca?

 

Vamos, Raimundo, tu que viste há dias

A mágica visão, o ser terrestre,

Por quem já deste uns ais! e uns ohs! eu sinto,

 

Tira as garras da dúvida ao Matias,

Faze valsar o Lins, rir o Silvestre

E reler os "Subsídios" o Filinto.
 

 

                        (O RETRATO?)

 

                   Vou fazer-te, leitor, o seu retrato:

                   — É pálida, gentil, encantadora,

                   tem a doce atração fascinadora

                   das cristalinas águas dum regato.

 

                   O chic do dizer nervoso inato

                   tive-o voz vibrante, sedutora,

                   brilham nessa loquaz criança loura

                   a graça, a distinção, o fino trato.

 

                  É olhá-la uma vez e sentir presa

                   a vontade ao seu todo de burguesa

                   que conversa em francês e sabe história.

 

                   Mas o reverso da medalha espanta.

                   Tangendo o violão, lânguida, canta:

                   — Quis debalde varrer-te da memória!

 

 

                   (O NINHO?)

 

                   És como a doce juriti da mata,

                   Ligeira, esquiva, tímida e medrosa:

                   Foges de mim tremente e suspirosa,

                   Como quem de um perigo se recata.

 

                   Mas não sei, afinal, criança ingrata,

                   Porque foges: não sei porque amorosa

                   Tua alma casta, angélica e bondosa,

                   Com tão doce esquivança me maltrata.

 

                   Abre as asas à luz serenamente

                   E vem fugindo aos gelos do deserto

                   Buscar o sol do meu amor ardente.

 

                   Dirige para mim teu voto incerto,

                   Pois tens meu coração, pomba inocente,

                   Como um tépido ninho sempre aberto.

 

 

                        PÁGINA DESCONHECIDA

                               À brisa, ao sol, à serra, à flor silvestre

                  Ao ribeiro que corre cristalino,

                  Ao canto alegre e doce, matutino,

                  Das aventuras no arvoredo agreste;

 

                   À campina que do orvalho a manhã veste,

                   Eu, sem de Homero for o alto destino,

                   Um conto fui pedir áureo, divino,

                   Radiante dessa luz alva e celeste!

 

                   Com ele ornar quisera, alegremente,

                   O teu álbum mimoso — onde o talento

                   Do teu gênio se curva ao foto ingente;

 

                   Mas, não tenho de Dante o pensamento,

                   Não acho inspiração na luz fulgente

                   Pra um canto te ofertar com sentimento.

 

 

FRUTO PROIBIDO

Escravo dessa angélica meiguice
por uma lei fatal, como um castigo,
não abrigara tanta dor comigo,
se este afeto que sinto não sentisse.

Que te não doa, entanto, isto que digo
nem as magoadas falas que te disse.
Não tas dissera nunca, se não visse
que por dizê-las minha dor mitigo.

Longe de ti, sereno e resoluto,
irei morrer, misérrimo, esquecido,
mas hei de amar-te sempre, anjo impoluto.

És para mim o fruto proibido:
não pousarei meus lábios nesse fruto,
mas morrerei sem nunca ter vivido.

 

OLIVEIRA, Alberto dePáginas de ouro da poesia brasileira. Rio de Janeiro: H Garnier, Livreiro-Editor, 1911.   420 p.  12x18 cm  Livro impresso em Paris por por  P. Dupont.  Ex. bibl. Antonio Miranda

Inclui os poetas: Frei José de Santa Rita Durão, Claudio Manuel da Costa, José Basílio da Gama, Thomas Antonio Gonzaga, Ignacio José de Alvarenga Peixoto, Manoel Ignacio da Silva Alvarenga, José Bonifacio de Andrada e Silva, Bento de Figuieredo Tenreiro Aranha, Domingos Borges de Barros, Candido José de Araujo Vianna, Antonio Peregfrino Maciel Monteiro, Manoel de Araujo Porto Alere, Domingos José Gonçalves de Magalhães, José Maria do Amaral, Antonio Gonçalves Dias, Bernardo Joaquim da Silva Guimarãaes, Francisco Octaviano de Almeida Rosa, Laurindo José da Silva Rabello, José Bonifacio de Andrada e Silva, Aureliano José Lessa, Manoel Antonio Alvares de Azevedo, Luiz José Junqueira Freire, José de Moraes Silva, José Alexandre Teixeira de Mello, Luiz Delfino dos Santos, Casemiro José Marques de Abreu, Bruno Henrique de Almeida Seabra, Pedro Luiz Pereira de Souza, Tobias Barreto de Menezes, Joaquim Maria Machado de Assis, Luz Nicolao Fagundes Varella, João Julio dos Santos, João Nepomuceno Kubitschek, Luiz Caetano Pereira Guimarães Junior, Antonio de Castro Alves, Luiz de Sousa Monteiro de Barros, Manoel Ramos da Costa, José Ezequiel Freire, Lucio Drumond Furtado de Mendonça, Francisco Antonio de Carvalho Junior, Arthur Narantino Gonçalves Azevedim Theophilo Dias de Mesquita, Adelino Fontoura, Antonio Valentim da Costa Magalhães, Sebastião Cicero de Guimarães Passos, Pedro
Rabello e João Antonio de Azevedo Cruz.   

 

DESPEDIDA

Venho ensopar de lagrimas o lenço
No tristíssimo adeus da despedida;
Em breve a pátria vou deixar perdida
 Além, na curva do horisonte immenso.

Em breve, sobre o mar profundo e extenso,
Adejará minh'alma dolorida,
Como a gaivota errante e foragida
Sem ter um ninho onde pousar, suspenso.

Então, senhora, hei de pensar tristonho,
Revendo a vossa angélica bondade,
Neste ninho de amor, calmo e risonho.

E triste, sobre a triste immensidade,
Como quem despertou de um ledo sonho,
Hei de chorar o pranto da saudade.

 

      FRUCTO PROHIBIDO

Escravo dessa angélica meiguice
Por uma lei fatal, como um castigo,
Não abrigara tanta dôr commigo,
Se este affecto que sinto não sentisse.

Que te não dôa emtanto isto que digo,
Nem as magua das falas que te disse;
Não t'as dissera nunca, se não visse
Que, com dizel-as, minha dôr mitigo.

Longe de ti, sereno e resoluto,
Irei morrer, misérrimo, esquecido,
Mas hei de amar-te sempre, anjo impolluto.

E's para mim o fructo prohibido;
Não pousarei meus lábios nesse fructo,
Mas morrerei, sem nunca ter vivido !

 

 

TEXTO EN ITALIANO

 

Extraído de 

MIRAGLIA, TolentinoPiccola Antologia poetica brasiliana.  Versioni.  São Paulo: Livraria Nobel, 1955.  164 p.  Ex. bibl. Antonio Miranda

 

 

CELESTE

 

Cosi, divina e angélica apparenza
E l’incanto che il viso le modella,
Io posso concepire l’innocenza,
In questa bimba immacolata e bella.

 

Pellegrina dei ciei, paliida stella,
Esule dall’eterea trasparenza,
L'origine sua non può esser quella
Di nostra triste e misera esistenza.

 

Ha la celeste e ingénua formosura,
La gloria luminosa sacrosanta,
Visione dei ciei, cândida e pura.

 

E, quando eleva gli occhi, il cuore incanta,

Guesta perfeitíssima creatura,

Che non mi sembra donna — sembra santa.

 

 

 

Página ampliada e republicada em novembro de 2008; ampliada em novembro de 2017


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