ADAILTON MEDEIROS
Nasceu em Caxias, Maranhão, em 1930 e estudou jornalismo em Niterói, Rio de Janeiro., e depois mestrado na Universidade Federal do Rio de Janeiro.
Livros de poesia: O Sol Fala aos Sete Reis das Leis das Aves e Bandeira Vermelha.
AUTO-RETRATO
Diante do espelho grande do tempo
sinto asco
tenho ódio
descubro que não sou mais menino
Aos 50 anos (hoje — 16 / 7 / 88 (câncer) sábado — e sempre
com medo olhando para trás e para os lados)
questiono-me (lagarto sem rabo):
— como deve ser bom
nascer crescer envelhecer e morrer
Diante do espelho grande na porta
(o nascido no jirau: meu nobre catre) choro-me:
feto asno velhote pétreo ser incomunicável
sem qualquer detalhe que eu goste
(Um espermatozóide feio e raquítico)
Como nas cartas do tarô onde me leio
— eis-me aqui espelho grande quebrado ao meio
EXÍLIO DELE NAS URUBUGUÁIAS
exilAdo nas urubuguáias
boi serapião do buriti
corre nos cerrAdos e grotões
tal marruá de tamAnca e reza
andarilho sem odres de couro
um patori desaplumbeAdo
na travessia das grAndes estórias
construindo em sete mil dias Dios
um antropomOrfa como
o veAdo do mistéRio
de gelos e vinhos tintos
ou o carCará castrAdo
vindo dos salEs noturnos
furnicAdo de marinhas
Veja também o E-BOOK:https://issuu.com/antoniomiranda/docs/adailton_medeiros
MEDEIROS, Adailton. três poemas HOMENAGEM . AUTO-RETRATO . LIÇÃO DO MUNDO. Jaboatão, PE: Editora Guararapes, 2015. 42 p. ilus. col. 20x13 cm. Editor: José de Moraes. Edição artesanal, tiragem limitada. Ex. bibl. Antonio Miranda
LATINIDADE: I COLETÂNEA POÉTICA DA SOCIEDDE DE CULTURA LATINA DO ESTADO DO MARANHÃO. Dilercy Adler, org. São Luis: Estação Produções Ltda, 1998. 108 p. Capa: Carranca – Fonte do Ribeirão – São Luís – Maranhão – Brasil Ex. bibl. Antonio Miranda
O CASMURRO
Potro: um monte de músculos
Chegou bem discreto fugindo
das terras do Loreto
Com rotundo porrete de ipê
esmagara a cabeça da madrasta
A malvada tinha assassinado a
sua pequenina e querida irmã
de cabelos longos e lisos
O jovem Zé-Aleixo era casmurro:
"homem calado e metido consigo"
Burro: para o serviço pesado
Carregou nos ombros tanta
água lenha melancia ração
Ao amanhecer — no fundo pilão
socara muito milho e arroz
Mana — a minha irmã Adailma
— ele a chamava com saudade
da sua pobre menina morta
O velho Zé-Aleixo era casmurro:
"homem calado e metido consigo"
Página publicada em março de 2008; ampliada em setembro de 2016. |