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Sobre Antonio Miranda
 
 


 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

POESIA GOIANA
Coordenação de SALOMÃO SOUSA


 

WILTON CARDOSO

 

                                                                                            

Nasceu em Morrinhos (GO) em 1971, é poeta e ensaísta. Coordena o blog coletivo de arte e literatura vida miúda (vidamiuda.blogspot.com) e é autor do blog de poesia minutos de feitiçaria (minutosdefeiticaria.wordpress.com). Tem vários e-books de poesia e ensaios publicados pela Plágius Editora ILtda, todos copyleft e disponíveis para baixar gratuitamente em seus blogs. Toda a sua obra escrita encontra-se publicada nos blogs acima. Ele diz que costuma ser atormentado por seu exu Franco Átila e sua pomba-gira Estela Mariana, que também escrevem poemas por sua mão. É funcionário público estadual em Goiás e, atualmente, mora em Goiânia.

 

Página do poeta: http://versoeprosa.ning.com/profile/WiltonCardoso

 

 

 

O TIO

 

Ao tio Zé Gomes (in memoriam)

 

Figos no tacho, fervem

nuvens na tarde escura

de Morrinhos, o tio

falastrão quase não fala,

perdido entre as cobertas

puídas da cama puída

no quarto quase vazio.

 

         Os tios

         não eram eternos?

 

As rachaduras

do casebre em ruínas,

o olhar perdido do tio

não me conhece mais,

o silêncio,

o silêncio,

uma nuvem carregada de silêncio

se abraça ao aroma

doce de figo

 

         Os tios

         não eram eternos

 

e despenca um mundo

de água (de infância).

 

 

NARCOSSOL

 

Era um sol desabado de domingo. Um sol adolescente borrifando um fim de tarde no capim. As lembranças brotavam no pasto das sensações. O menino brincava sobre os paralelepípedos, sob a luz cinza dos postes. O sol das lâmpadas se afundava nos nervos, era um sol lunar feito de vidro e metais proliferando uma sombra vadia na rua vazia. Seu olhar, um quintal baldio se estendendo até o agora, mergulhado naquele sol narcótico prolongando-se na duração. O sol é o olhar de espanto do menino, que insiste iluminar o mundo de viés, que insiste na surpresa e resiste ao compasso regular da hora, do agora medido e monótono que quer usurpar o sol de seus olhos, deixando-o cego ao impreciso das turvações, deixando limpa a cara das coisas, a vida exata e os fatos esclarecidos. O menino então terá crescido. E pronto. Um sol no entanto teima em brotar nas fendas todas de seu solo. Um solo movediço, poroso e quebradiço, útero de luz e embriaguez. Um sol que se gesta ainda melhor nos desertos, o mesmo sol entorpecente, o mesmo sol potente se proliferando, sempre outro, como capim de luz, inumerável sol erva rasteira que brilha e se dana lançando-se ao ar ao acaso, ao alto até o vácuo, até ejacular o seu instante no negror do nada: pleno ébrio precário. Que não tem fim

 

 

 

cálice

 

este querer ser

além do existir

este saber que se vai esta vontade

de motivos que não há

este amor que demora uma vida

na vida que não se demora

 

acaso

meu querido pai

que presente de grego foi este

que boceta de pandora

que dom de se ver dissolvência

de reter o passar e passar

resolvestes grafar na semente

de um adão perdido nas eras

nos deixando grafada na mínima

carne a herança do espanto

de ver o viver que se vive

onda no mar da duração

onda que escapa

escorre

e es

gota

 

 

 

 

 

NIRVANA IV (FELINO)

 

 



Alheio à multidão

de células que o são,

de desejos que o povoam,

de pessoas que pensam

saber mais que os seus

olhos ferinos, de galáxias

que o faz menos

que o ínfimo do pó,

de anos-luz que virão

e se foram na duração,

de deidades e teorias

que se passam por verdades,

alheio

à foto que o flagrou

e a este poema quebrado

e sem precisão, ele dorme

(numa tigela)

o sono preciso e singelo

da fúria contínua de um corpo

(por acaso) felino.

 

 

letra negra

 

não tenho controle sobre ti

letra negra que escorre dos desertos

de mim de que onde que fonte

emana os fluxos que dominam o que se diz

eu nenhum deus nenhum ser presença nenhuma te emana

voz muita e delirante de ninguém

e todo mundo todo fundo que descubro

revela-se sem fundo o sentido

é turvo em tuas águas transparentes

todo todo é uma miragem na tua

crua realidade de partículas

toda verdade toda

totalidade é mais uma

química de elementos dissolventes

nenhuma alquimia em ti letra negra

nenhuma pedra ou elixir no fundo dos teus

ecos há somente ecos no ar de acasos

povoado pelas ondas que tu és

e não és letra negra tão incerta

de existir intermitente e ainda assim tão plena

de amor

 

 

a rodada

 

pega leve
todo mundo alegre
o que você acha da
enquete no dia quente
praia piscina farofa shopping
futebol no domingo pelada na play
ground do mundo a cidade é uma farra
um livro de autoajuda com letras de concreto
signos da correspondência por email & bate-papo
a cidade inteira é uma vitrine com os seus mendigos
e favelas por detrás das jaulas prontos pros turistas
a cidade sempre em construção nunca se contrai
uma contração eterna de gripes e estresses
a cidade e suas benesses suas festas
beneficentes seus serviços efi
cientes seu governo sempre
insuficiente suas redes
de compadrio de des
vario de prostitutas e bandidos de igrejas e bares
vendendo alegria nas garrafas nas pernas das mul
atas a cidade e suas meninas de minissaia saindo n
a rua enlouquecendo caminhoneiros e executivos a c
idade sem freios e sua profusão de fios e sinais
subterrâneos/sem fio riscando-a linkando-a a mais
cidades as suas ruas que só levam a mais ruas ou
rodovias/aerovias que levam a mais cidades as es
colas que os meninos cheiram cheios de ira a
cidade e suas fábricas de animais e enlatados e s
eus trabalhadores atordoados na profusão de tarefas
sempre apressados sem tempo pra pensar mas reservando
um tempo e uma grana pra rezar que deus vai perdoar
se deus quiser e ele há de querer sangue de jesus
tem poder e está amarrado em nome de jesus cristo
amém ou em nome de exu oxum oxalá a vida vai melhorar
agora vai ou racha reservei esta grana pro carro
nem que seja usado é conforto minha casa é meu porto
seguro ninguém me segura agora eu sou difícil e decidida
um poema no perfil do orkut cheio de estrelinhas e
borboletas cor de rosa eu odeio falcidade eu sou fiel
eu sou putana eu traio eu faço swing eu só aceito
amizade de perfis com fotos bem dotados mais de 20
venha para a comunidade da assembleia de deus do
sexo anal de judas do bem e do mal qual o seu
nicho ou lixo que estou me lixando eu eu eu todos
os dias lavando vasilhas limpando cocô vendo a nov
ela amando o marido & dando pro amante & fazendo pl
anos de ir passear por aí distraídos do mundo não
pega pesado que a barra pesada é só depois da meia
entrada da teia de estradas que não dão em nada
como esta porrada que o boyzinho nazista deu
na boca do crioulo e nunca vai pagar por isto
quem é que vai pagar por isto quem é que vai pagar
esta rodada

 

 

EXTRAÍDO DE

 

 

POESIA SEMPRE. Número  31 – Ano 15 / 2009.  Rio de Janeiro: Fundação Biblioteca Nacional, Ministério da Cultura. 2009.  217 p.    ilus. col. Editor Marco Lucchesi.  Ex. bibl. Antonio Miranda

 

 

        ESCreVivência 1010

 

        bolsa despenca
         desemprego aumenta
         trabalho de merda
         a vida não tem jeito
         a sós a dois a mil
         o mundo afunda
         do pó à galáxia

         pausa

         pra comer esfirra
         de carne com queijo
         debaixo das árvores
         sob a garoa
         indiferente
         véspera
         de tempestade

         cai a chuva
         nos mundo que cai

         o mundo agora
         é uma esfirra que cai
         numa boca feliz

 

 

 

         ESCreVivência 1011

 

        pulsa
         tudo pulsa no som no corpo de carne viva nas veias vias de uma cidade
         aldeia de bilhões de corpos conectados por cabos e ares e asfalto e afeto e
         contratos entre mercados e amigos e amantes tudo é troca infinita entre
         parcelas de matéria pensante numa esfera deambulante em meio a bilhões
         de estrelas de uma galáxia em meio a bilhões de outras galáxias povoado de
         bilhões de neurônios & zilhões de células um alguém quase ninguém se
         senta em frente a uma tela e precipita-se a pensar na
         impensável velocidade da
         luz

         treva
         invade a palavra que salta a outra numa corrida louca em busca à espera de
         um éden além de toda treva em que a vida paralisa em éter(n)idade mas a
         vida assim nada mais é que vida embalsamada a corrid em fuga então é a
         única vida que resta e arrasta e sustém sem su(b)stância alguma no vento
         de rapina a rápida vida ávida ave da indevida rota aleatória véspera de
         nenhum porto a não ser este pulsar mortal  

 

 

      

        ESCreVivência 1111

 

        manhã deserta
         parque aos pedaços
         a ferrugem
         como os brinquedos
         odor de pipocas
         rumor de crianças
         um ar de infância
         marulha sem fim
         sob a copa das árvores
         sob o sol de domingo
         que arde na pele
         de cimento da cidade
         sobre as calçadas quebradas comendo pipoca o mundo imóvel gira
         ao redor num burburinho de vozes agudas de folhas farfalhando ao
         vento cheias de vida ou secas pisada por vívidos pés à procura de
         um carrossel escarcéu qualquer céu de instantes de alegria que
         goza sem saber e sem cessar até que pare de girar na luz filtrada
         pelo rumor das folhas ao vento no claro escuro que balança a
         superfície das coisas ou mente olhos ouvidos daquele ali imobilizado
         de torpor de tudo é que balança (n)o mundo imovil em que se
         movem os pequenos na pequena manhã de domingo da cidade
         pequena num pequeno mundo perdido no rumor silencioso de vácuo?
         vamos?
         que?
         trenzinho tá vindo
— fica vivo ou fica para trás!

 

 

Página publicada em julho de 2011

- página ampliada em outubro de 2018


 

 

 

 
 
 
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