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POESIA GOIANA
Coordenação: SALOMÃO SOUSA

Fonte da foto:
https://opoemadopoeta.wordpress.com

 

 

 

WALACY NETO

 

 

Walacy Neto. Poeta e jornalista. Nasceu no interior de Goiás, em Itaberaí, em 1992. É o idealizador do selo literário Zé Ninguém, onde publica e reúne novos poetas do centro-oeste brasileiro.

 

 

NETO, Walacy. Muito pelo contrário.  Goiânia, GO: Nega Lilu Editora, 2017.  96 p.  14,5x21 cm.  Ilustração de Pedro Kastelijns. Projeto gráfico e capa: Beatriz Perini.Apoio: Fundo de Arte e Cultura de Goiás.  ISBN 978-85-68589-04-5   Ex. bibl. Salomão Sousa

 

Seu pouco é menos nada,
e nada é muito,
até para quem pouco tem
.

 

 

        Carne 

essas linhas quebradas
não falam sobre ser um boi
do horizonte repartido
pelas vigas
nem poderemos ensinar
como espantar os mosquitos
abanando a cauda.

        os outros que falem
dos braços do boi
que não são mais braços
os olhos tristes
a mandíbula e o passo do boi
que também desaparecem
lentos.

        de quando retiram o direito
a escolha de ser só um boi
momento em que descarnam
junto com as partes peludas
seus sonhos rachados
quase tudo que pensa saber.

        essas linhas não falam de carne
não dizem sobre minotauros no centro
elas narram alguma outra coisa
que só se expressa com o silêncio.

 

 

        Estou nele 

Uma palavra sozinha
é desenho.
Se coloco um fio
entre ela e o vento,
uma palavra             voa
voa.

        Meu serviço:
assistir da janela lateral
pequenos aviões que pasmam,
enquanto ligo fios entre
palavras,
enquanto deixo tudo mais
elétrico.

        Caso chove
molho a caneta na nuvem
e tudo fica mais lágrima
menos aventura.

        Caso amanhece
coloco o poema no varal
logo escuto gorjeios de avião
que saem da folha.

        Certa vez
matei o medo
e estou vivo.

        Certa vez
inventei um bocó qualquer
e estou nele.

        Pretendo com isso tudo
quase nada
como fazer um belo bordado
depois desmanchá-lo.

        Este, quando pronto, se chamará:
Muito pelo contrário. 

 

 

Círculo

               O que lá fora é bom, útil, ver-
dadeiro, ou belo não tem aqui
nenhuma significação.
Graciliano Ramos, Angústia (1936)

          Acontece que nascer
delimitado
é também usar as arestas
para encaixar nas bordas dos
outros.
Espremer entre poucos vazios
como os prazos suaves de
silêncio.

          Peça repetida
na caixa de um
quebra-cabeça.
Ou o botão extra
no final do paletó de Pedro.
Ou o sentimento
após a covardia.

          Acontece que ficar no canto é
embaraçar tanta coisa.
Enrolar o nó da garganta,
fazer amarração na primeira
encruzilhada
no caminho que vier.

          Rodar a baiana,
enrolar a Joana por anos,
dar voltas e voltas e voltas
ser mais circular, sabe?     

          acontece que o mundo
pode ser
quadrado demais

 

       

Página publicada em junho de 2018      

 

 


 

 

 
 
 
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