Home
Sobre Antonio Miranda
Currículo Lattes
Grupo Renovación
Cuatro Tablas
Terra Brasilis
Em Destaque
Textos en Español
Xulio Formoso
Livro de Visitas
Colaboradores
Links Temáticos
Indique esta página
Sobre Antonio Miranda
 
 


 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

SILVIO DO ROSÁRIO CURADO FLEURY

 

Médico e escritor corumbaense, nasceu em 05/10/1913, filho de César Dunstan Curado Fleury, líder político de Corumbá de Goiás na primeira metade do século 20. Passou sua juventude em Corumbá e curso o tradicional Lyceu de Goyaz, na antiga capital do Estado. Na década de 1930, foi preso no contexto das Revoluções de 32 e de maio de 38.  Em 1943, graduou-se em Medicina no Rio de Janeiro, na então Universidade do Brasil. Mudou-se para Belo Horizonte, onde se casou com Auta  Bahia Fleury, em 1966. Trabalhou em diversos hospitais públicos e privados da capital mineira, sendo agraciado pela Santa Casa local com a medalha Hugo Werneck, em reconhecimento pelas sucessivas décadas dedicadas ao serviço médico daquela instituição. Faleceu em Brasília, em 28 de setembro de 2006.

FLEURY, Sílvio do Rosário Curado.  Os filhos da terra. Brasília, DF: Duo Design, 2009.  628 p.  16x23 cm.  ilus. foto.  “ Sílvio do Rosário Curado Fleury “ Ex. bibl. Antonio Miranda

 

5.1-O CARRO-DE-BOI

 

Rola o carro pelos caminhos do sertão

rechinando sua plangente canção.

É o mesmo carro antigo e primitivo

que rolou nos plainos areentos da Caldéia

guiado pelo sumério altivo

e que foi até a terra europeia

com os exércitos que Xerxes trouxe do Irã.

É o carro que trouxe o celta em migração

e que cantou nas paisagens da Gália

e sob o sol cálido da risonha Itália;

é o carro que Virgílio nas Geórgicas cantou

e que Vercingetórix, nos dias de heroísmo,

conduziu, sonador (eterno), nas suas campanhas

e que rodou por serras e montanhas

por colinas e campos e afinal pelo caminho

florido e risonho do ameno Minho.

É o carro que rolou nas terras de Babilônia,

que chorou nas estradas do Brasil colonial,

cantou estranho no Brasil holandês,

chorou com os escravos nos duros eitos

cortando a terra negra e úbere da sanga*;

estava lá nas margens do Ipiranga,

penetrou nos chapadões do Brasil Central

e ainda hoje, como em Portugal,

canta nas horas alegres das colheitas

com o som festivo e sonoro de trombetas,

chora nas terras duras, macias e montanhosas,

rechina sensual nas várzeas uberosas**,

sob o sol, sob a chuva, no estio, no verão,

das terras do litoral às covoadas*** do sertão.

É o carro que embala com o seu canto

a história de heroísmo e de pranto

de um povo altivo e lutador,

é o carro que chora plangente

nas manhas claras, nas tardes dolentes

nas terras imensas do sertão,

triste como a dolorosa saudade,

constante como a persistente Tradição.

E no sertão,

na sua solidão,

pelas velhas estradas,

sulcando-as em camadas,

o carro-de-boi rechina

desde que surge a manhã purpurina

até que em as cores lilazes-cinzas

morre o dia na quietude vespertina.

Seu canto é poesia

tristeza e nostalgia,

hino de trabalho e de operosidade,

canto de tristeza,

melopeia da saudade...

 

*Sanga: escavação profunda no terreno, produzida pelas chuvas
ou por correntes de água subterrânea.

**Uberosa: fecunda, abundante, farta.
***Covoadas: encosta ou ondulação das serras cobertas com
alguma vegetação.

 

 

 

 O Carreiro
Foto: Largo da Cadeia, Corumbá 1939.  Elza Curado

 

8.28-AS CHUVAS

 

Rolam turvos os trovões estrondando,

longos, arrastados, grossos, trovejando

e na face turva das nuvens,

amontadas, de bordas esfiapadas

que sobre o horizonte se penduram pesadas

estremeavam os relâmpagos

em rápidos relampejos

em fulgurações amedrontadas

e ora são riscos em fogo traçados,

depois são trémulas piscadas

do enorme olho que se entreabre abrasado

e vezes são medrosos clarões

em distantes e tímidas verberações.

A natureza espera ansiosa

castigada pela sede que a ressaca;

gritam as cigarras impertinentes

quais fossem vozes de desesperação

na monótona e metálica repetição;

os sapos esponcaem

repetindo, sem cansaço, as deprecações roucas.

Pelos dias afora

cantaram os guasóis insistentes,

os itapicurús em voos pesados

remontaram os rios ressecados

grasnando estridentes,

ou ralos banharam na morna areia,

as galinhas se aninharam na poeira,

os gatos lavaram-se com as patas macias

as vozes da cachoeira até nos longes se anunciam,

a água apresentou estranha quentura

e no fundo da cisterna

cresceu a água que dia a dia baixava

e que fugia

no seio quente e sedento da terra.

 

 

 

 

9.5-A VARANDA SEM LUZ

(ÀS AVE-MARIA)

 

Escurecera completamente,

as árvores distantes foram se apagando

as sombras se aproximaram,

vieram até o terreiro

dependuradas dos ramos das roseiras,

dos montes de jasmins, do brinco-de-princesa,

do pé-de-beijo,

depois atingiram a janela.

Flutuaram sobre os cachinhos de cravos,

de alecrim, de manjericão,

as arrojavam até a varanda,

encheram os cantos

foram subindo, lentas, opacas,

desejavam os telhados,

adensavam,

adensavam e enegreciam

e através da opacidade pegajosa

vinham as vozes distantes dos sapos,

dos caburés, dos urutaus, das corujas,

dos grilos,

vinham ruídos estranhos e imprecisos.

E ela ficou no escuro,

não querendo acender luzes

para não chamar os anjos maus que passeavam

quando a noite se abre no sertão...

 

 

 

9.6- OS  VAGALUMES

 

Na baixada sempre os vagalumes:

os pequenos, lentos

da luz baça, — intermitentes —

os rápidos, de forte luz amarelada

vibrações arroxeadas na escuridão pesada

e os de olhos verdes, acesos

em voos longos e retos,

passam os pisca-pisca tremeluzido

chispas na noite de carvão.

 

 

 

9.7 - OS GUAXOS

 

Vinham os guaçhos negros

piando, piando

o escarlate das caudas flamejando

e depois os maiores,

de cauda amarela,

piados apressados

e os ninhos de capim armados

ficavam, balançando, pendurados

das folhas das palmeiras.

 

Página publicada em janeiro de 2015

 

 


 

 

 
 
 
Home Poetas de A a Z Indique este site Sobre A. Miranda Contato
counter create hit
Envie mensagem a webmaster@antoniomiranda.com.br sobre este site da Web.
Copyright © 2004 Antonio Miranda
 
Click aqui Click aqui Click aqui Click aqui Click aqui Click aqui Click aqui Click aqui Click aqui Click aqui Home Contato Página de música Click aqui para pesquisar