SÊ COMO O LÓTUS
Ao amigo Paulo Jaime
Sê como o lótus, que, a raiz, afunda,
lá, na abjeta escuridão do lodo
e, ao contato da luz, abre-se todo,
só fragrância e pureza, em flor jucunda.
A flor do lótus, na matéria imunda,
no milagre da flor, põe luz a rodo.
Transmuta, pois, a escuridão do engodo,
na Verdade — que é Deus e a tudo inunda.
Às trevas, como o lótus, não maldigas.
Acende a tua humílima velinha
e aguarda a ajuda de outras mãos amigas.
Em vez de blasfemares, vai, caminha.
Ama e serve, que lótus, na alma abrigas
e o Amor de Deus não deixa a alma sozinha...
VELHAS PRAIAS
A Francisco Miguel de Moura
Ó minhas alvas praias nordestinas,
enfeitadas com velas de jangadas,
que, sobre o mar, vão leves, enfunadas
ao vento bom das ilusões meninas.
Praias perdidas na longínqua infância,
mas que retornam na sutil fragrância,
no adeus dos coqueirais, que o ser me invade...
Praias de brisas mansas soluçando...
Os olhos do Menino marejando...
E o coração chorando de saudade...
A ASA DA NOITE
A asa da noite vem, devagarinho,
adormecendo os seres, no abandono
desse torpor onírico do sono,
que deixa o ser humano mais sozinho;
e traz, no manto, a embriaguez do vinho;
da música do sonho, traz o abono.
O seu poder, de nós, se faz o dono
e abre caminhos para o descaminho.
A asa da noite, ungida de segredo,
se, às vezes, traz a sensação de medo,
é dádiva dos céus, óbolo santo:
— Ao vir da sombra, o corpo se enlanguece,
mas a alma sai de nós tal como prece,
agradecendo a Deus por todo canto.
MEU DIA
Meu dia, às vezes, passa tão de manso,
que nem lhe noto os fatos e acidentes.
Comparo esses meus dias a repentes,
que vou compondo e de que não me canso.
É como água de rio sem remanso,
que desliza no leito suavemente.
Borboletas pousando docemente
ou valsa lenta que sonhando danço.
De repente, lá surge a tempestade.
E o dia, que era calmo, então se agita
em cachoeiras de intranqüilidade.
Mas, depois disso, volta a santa calma.
E vou rolando assim, face bendita,
a refletir a paz que sinto na alma.
Extraído de
JORNAL DA ANE – Associação Nacional de Escritores. Ano XII – no. 86, junho/julho 2018 - p. 9
DA PARAÍBA, EU SOU
Não sou daqui, sou lá de João Pessoa,
da Paraíba, do Nordeste quente,
terra que para sempre põe na gente
esse jeito de amar, que a vida é boa...
Regresso para o Mar, sonhando à toa
com Tambaú, onde vivi contente...
a infância de Menino, diferente
de tudo o que não vale a menor loa.
Volto pro Mar, onde brinquei, criança,
praias que trago sempre na lembrança,
levado pelas asas da Utopia.
Morro por tudo o que vivi lutando,
o mundo justo para todos, quando
reinar na Terra o Amor junto à Poesia.
SONETOS. v.2. Jaboatão dos Guararapes, PE: Editora Guararapes EGM, s.d. 151 - 310 p. 16,5 x 11 cm. ilus. col. Editor: Edson Guedes de Moraes. Inclui 171 sonetos de uma centena de poetas brasileiros e portugueses. Ex. bibl. Antonio Miranda
MEMÓRIA
As Graciemas, Ritas, Margaridas
que amei nos devaneios da Loucura
E que a Asa do Amor ainda procura
Nos alongados vai-e-vens das vidas...
Carícias perfumadas e atrevidas
Até cansar, no Olho da noite escura
E a sensação depois de uma Lonjura
Que guarda as nossas ânsias escondidas.
Esses muitos que fomos, na verdade,
Perderam-se nos mares da Distância
Atrás da Ilha da Felicidade...
Menino Marinheiro lá na infância
Chegas a mim vestido de Saudade
Desse tempo de sonho e de fragância.
Veja também o E-Book:
BATISTA, Paulo Nunes. Reforma. Jaboatão, PE: Editora Guararapes, 2015. 24 p. 20X13 cm Editor: Edson Guedes de Moraes. Inclui a resenha crítica de Maria do Socorro Xavier sobre o autor. Edição artesanal.
A POESIA GOIANA NO SÉCULO XX (Antologia) – Organização, introdução e notas de Assis Brasil. Rio de Janeiro: FBN / Imago / IMC, Fundação Biblioteca Nacional, 1998. 324 p. (Coleção Poesia brasileira) ISBN 85-312-0627- 3 Ex. bibl. Antonio Miranda
https://pt.wikipedia.org/
MEIO-DIA EM ITUMBIARA
O Sol canta nas pedras
a canção luminosa
do meio-dia intenso
qual se acendesse nas coisas
bilhões de lampadazinhas
límpidas, cristalinas.
As palmas dos buritis,
as mangueiras copadas,
os telhados cor-de-rosa-escuro
dormem ao som do acalanto
da canção de sesta e de sol.
O rio escorrega nas pedras
rumorejando, num bocejo
qual se fosse dormir.
As sombras das criaturas
estão, agora, escondidas
com medo da luz forte.
Singela borboleta
saiu de entre as pétalas
das flores da campina
qual uma flor bailando
ao compasso suave e
amoroso da canção clara
do meio-dia azul de Itumbiara.
(Canto presente/ 1969)
CREDO
Creio no amor e creio na Verdade
e creio na Justiça e na Harmonia!
Ah! se não fosse o Amor, o que seria
de toda a nossa pobre Humanidade?!
E creio que haverá felicidade
em toda parte do Universo, um dia,
quando banida for a hipocrisia
e unir a todos a Fraternidade.
Creio que o céu, que tanto procuramos
fora de nós — dentro de nós existe:
somos felizes quando nele entramos.
Creio no inferno e sei que ele existe
na colheita dos males que plantamos:
eu sei como esse inferno é negro e triste!...
(De mãos acesas/ 1981)
TROVAS 5 - [Seleção de Edson Guedes de Morais] Jaboatão dos Guararapes, PE: Editora Guararapes EGM, 2013. 5 v. 17x12 cm. edição artesanal, capa plástica e espiralada.
Ex. bibl. Antonio Miranda
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Página ampliada e republicada em maio de 2022.