NILSON PEREIRA DE CARVALHO
(Goiânia, Goiás, Brasil, 1966). Doutor em Letras e Linguística.
Extraído de
POESIA SEMPRE. Número 31 – Ano 15 / 2009. Rio de Janeiro: Fundação Biblioteca Nacional, Ministério da Cultura. 2009. 217 p. ilus. col. Editor Marco Lucchesi. Ex. bibl. Antonio Miranda
Almar
Uma cor de alegria sorri
No instante
Meu verso trafega na dor do silêncio
Somos só o que tange
Meu lábio no teu
E salivas no sal
Gosto de mar na tua boca
Me dizem coisas de águas
E nádegas
Só quando o infinito
Precede o agônico senso
Socorros na praia e na ilha
Marulham muralhas
Poema sobre voo II
Pequeno gozo de viajar ao fim: nau de deus
Lúgubre como a noite desvairada
Meu voo vai
Somos a agonia desejando saber o universo
Uma música cintila nos ouvidos se ousamos um tom
Messes que queremos se plantamos sem mente
Pan voltou ao lar — mascarado e banido de mim
Convocamos a entidade fatídica do Eão
Sorrimos só rimas
Nossa presença prolifera na viagem do está lido
Noções de pouco — a alegria trafega no gozo
Muralhas de deuses perfilam na primavera
E no outono é só Plutão e Perséfone
Cada caboclo baforeja fumos enternecidos
Se garante o verso, disperso na lisa e fina adjetiva função
Me sai — ele, assim, — o verso cacófono
Que a minha poética não foi — não foi — foi — não foi
São meretrizes em plenas acro-bacias de amor — poesia
Práticas de preencher papéis não meus - não meus - não meus - não meus
Há uma luva em cada esquina do esquife
Segue o passeio
Disfarces de mão (de faces em não) em face de não
Se não faço
Cavaleiros até rimam ao até risar
E o léxico perpendicula no poema ás sem dente
Nada não teremos se hoje não seremos sempre tudo
Momentos de credo só quando a fé falha
Sobrepujo preposições para fazer organizar a fala
Manejo sofrimentos alheios a perder de vista os meus
Ninguém entende os meus versos se sou obtuso
E a terceira mulher que amei à plenitude chegou
Gozou feito a eternidade e eterna se fez
Feiticeira fez de cera a terna garça do amor
Um fingimento capital captou o canto poético
Se todas as pitonisas prontificam Proust-às-tutas
Há uma santa [puta] com seu nome" a dar
Mais homens salvou que o deus que salva
Rainha - tola de débeis inspirações criadoras
Diana - Deusa feliz
Quem disse a ti que ser mulher te falta (basta!)
O meu poema é respeito e murmúrio
No ouvido te falo sapiências
Ouve e com teu mênstruo possui a minha fé
Se come(ss)ce o teu mistério em sorte de amor
São tantas fases de acasalar que cabes
Coube a mim profanar-te em versos ufanos
Se palavras não são mais que a carne dura
Meu lábio é feito anel que o orbe deseja
Autor-risa com langor unir-me em um em ti
Manto que te cobre é núpcio andrajo sórdido
Que o sangue corra fermentado de tua doce vol
Só hoje, deus, te digo que me devotas
E pra um jamais te adorarão multidões
Tremendo, o homem te dirá — ascendes
Para um pó-de-um mais doce e sem fim
0 enfado me prende à terra por sentir
Que já não escapamos da dor sem amor
A bebida rende a viagem sem rumo
Somos tolos e prosseguimos
Seus súditos intencionam
O amor revoluciona e é caos ademais
Não sorrimos mais — seguimos
Choramos, um ou outro, só oramos
Ao olhar o aroma, um tolo de botas
Nossos calos trafegam feito boias e sonsos
Um enfado prende a terra a me sentir por dó
Que se a cor do meu caos não for qual mel
Qual mel, fardo que é meu não de cor
A si — me foi dado a meu bel(o)-prazer
Página publicada em setembro de 2018
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