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Sobre Antonio Miranda
 
 


 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 




MIGUEL JORGE


MIGUEL JORGE

 

  

Nasceu em Campo Grande, Mato Grosso do Sul, tendo vindo ainda criança para Goiânia.Formado em Farmácia e Bioquímica pela UFMG, Direito e Letras Vernáculas pela UFG e Literatura Brasileira e Goiana pela UCG. Possui obra numerosa e eclética, que vai do romance à dramaturgia, da poesia ao roteiro de cinema. Seu romance Veias e Vinhas (Ática, 1981) está sendo (em 2006) adaptado para o cinema. Títulos conhecidos: Avarmas (Ática, 1978), Asas de moleque (FTD, 1989), Profugus (Kelps, 1990) e Pão cozido debaixo de bras (Mercado Aberto, 1997 – Prêmio Machado de Assis da BN). Já dirigiu duas vezes o Conselho Estadual de Cultura, em Goiânia, onde reside.

 

 

“Miguel Jorge realiza uma articulação entre o silêncio e a palavra, desnudando(se) (n)o cerne de sentimentos, sob três aspectos: o pessoal, o social e o estético-filosófico, inquirindo os valores fundamentais do homem sob a capa de exercícios lúdicos que confrontam o visual e o verbal.”  FERNANDO PY

 

“Uma poética como a de Miguel Jorge, que desafia os grilhões da razão e do bom senso, da lógica e da arrumação, que enfrenta a vontade dos deuses, os ventos e os cosmos, vira as emoções ao avesso, lança vícios e virtudes de pernas para o ar, semeia borboletas, celebra as febres e justiça, as injustiças, não se deixa apreender pelos critérios criados com a ajuda dos instrumentos da crítica literária estabelecida, porque ela também é posta, implicitamente, em cheque. Uma poética iconoclasta e encantatória que se deflagra com MARBRASA!, um grito de guerra contra as ilusões do passado e as acomodações do futuro, pede, na verdade, a nossa colaboração e a nossa cumplicidade”.  JOSÉ NEISTEIN

 

“Miguel Jorge é um apaixonado pelas palavras, a construir imagens de insólita beleza. Intrigante beleza. Uma luxúria verbal, reinventando sentidos. Bom demais! – como dizem os goianos.”  ANTONIO MIRANDA 

 

Veja também> Poesia Visual (ilustrada por Siron Franco)

 

 

 

POESIA ERÓTICA

 

SAVARY, Olga, org. Carne viva1ª antologia brasileira de poemas eróticos.  Rio de           Janeiro: Editora Anima, 1984,  348 p.  14x21 cm.  Capa: ilustração de Sérgio Ferro. Inclui 77 poetas ativos no final do século 20.  Col. A.M.

 

 

                à flor da agonia

 

              (poema no. 10)

 

        
Olhos de lobo
lóbara estrela selvagem
perdendo-se na minha paisagem:

                    fera
faca
lume
desalumiando meus vícios
ofícios de sofrer desejos
desejos de relinchar
feito bicho.

 

------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------

 

 

Poema publicado em:

BRITO, Elizabeth Caldeira, orgSublimes linguagens.  Goiânia, GO: Kelps, 2015.   244 p.  21,5x32 cm.  Capa e sobrecapa. Projeto gráfico e capa: Victor Marques.  ISBN 978-85-400-1248-6  (p. 97)

 

JORGE, Miguel.  Celebração: quarenta anos de literatura.  Prefácio, seleção e notas Moema de Castro e Silva Olival.  Goiânia, GO: Editora UFG, 2009.  164 p.  ilus. p&b  ISBN 978-85-7274-287-0   Ex. bibl. Salomão Sousa.“V     DEOCLÉCIO SCHERER.

 

“(...) cabe assinalar que o escritor pós-moderno Miguel Jorge não se restringe à busca de novidades temáticas ou de facetas singulares dos temas tradicionais, mas insiste na “revisitação” desses temas e dessas facetas. Ele insiste na reescrita por “perlaboração” — designação a que já fizemos referência — segundo Linda Hutcheon, em Poética do pós-modernismo (Rio de Janeiro, Imago, 1991. p. 331), como modo de o homem se libertar de mecanismos repetitivos. Assim, Miguel Jorge consegue ser plenamente um criador atualizado com o seu tempo, tal como o demonstra no correr de sua obra, sobretudo no instigante livro Calada nudez.”   MOEMA DE CASTRO E SILVA OLIVAL

 

 

         Bem sabe Goiás da sua linguagem

 

                [dedicado a Leo Lynce]


         Ainda há quem te veste de aragem sagrada,
         Goiás, os teréns, feito dentes de engrenagens,
         a mapear teu rosto. Do outro lado,
         o Araguaia te olha,
         brancoacinzentadometalpássaro
         domado numas ânsias.

         Goiás sé rio Bagagem, sombra das cruzes,
         das almas que gritam seus nomes nas praças.

         Goiás é rio, rosto em espelho,
         enredos de céus e mares a caminhar
         sobre leitos. Rude, ruge longe o afligir
         das serras de dourados veios, mas a terra
         que se queira santa, coisas que nunca vão
         se explicar. O que se pensa, se bebe, se fala,
         o que se tira arreado do barro: os copos que se fazem
         de alumínio, mais a pinga que se tem ardente.

         Canecas, arreios e bacheiros já usados em montarias,
         estribos esporas, tropeiros.
         Cachaçabranquinha. Tigela de fogo comida nas beiradas.

         Sejam mais as mulheres a entoar cantos
         De louvor a Maria, são pássaros de exato
         presépio ou de folia..

         Quentes de floras dos cafezais, os arrozais em cachos,
         dormindo semi-abertos, sonambulam no chãoterra
         feito tesouro criado entre quatro paredes, o pão necessário.

         Há um cheiro, um gosto de sol no ar, Goiás.
         E tudo parece novo, como uma confidência:

         “Lindaura Mende — Cabo Assumpção”
         e, sob dois corações entrelaçados,
         Sôdade de Rio dos Bois 5/5/22”
         feito anéis nos troncos, por se dizer,
         igual estrela que se reparte.

         Melhor deixar vestígios, a graça da eternidade
         e a breve sombra do pássaro escondido em suas asas.

         Melhor fora conservar teu Y, Goiás,
         a louca forma de pássaro, narciso vago
         e impreciso, beleza que há muito tempo
         não se colhia, Goiás, jeito bom de amadurecer
         as flores,
         igual outro país que se descobre, a febre
         da paixão em tuas faces.

         Tem fome de vida, tua paisagem, Goiás.
         Caminhos de chuvas, areias que nunca
         tiveram donos, geométrico pássaro
         talhado no fundo das águas a pulsar
         transparente, tocado pela brisa, a modular-se
         em erotizadas malícias.

         De longe se olha a doçura de teu nome, doce
         de manga no tacho de cobre, cheiro de pequi ardendo
         no ar. O abrir-se do amarelo vivo que se consome
         e não se morde. Nervuras de espaços na paisagem
         que se apaixona , ousadas formas de sonhos
         que prosseguem caminhando a sua história.

         Goiás, doçura de tacho de cobre,
         forma ousada de praias, os reflexos
         aos milhares, o acordar das cores,
         delírios que nunca se acabam.         

 

 

 

De
DE OURO EM OURO
Poemas de Miguel Jorge

Goiânia: Instituto Centro-Brasileiro de Cultura, 2009.
64 p.  ilus.   ISBN  978-85-9876237-7

 

Caixa de cartolina dura, contendo livro, CD e cartões postais.

 

Este é o mais recente livro do poeta, que recebemos com alegria! Uma jóia das artes gráficas, peça de coleção. Conteúdo de plena maturidade poética.

 

 


OS VENTOS

 

Ritmo louco, os ventos. Pontas finas de lâminas

frias, sanhas de asas verdes de canas.

 

O que vai e vem os ventos levam sobre areias,

sobre pedras, difícil é sair de suas aragens.

 

(De curta emboscada, os ventos, é certo que fascinam)

 

Bicho de céu e chão, poderiam voar mais alto

como os pássaros à caça, a presa e suas garras.

 

Bate forte o vento sobre as portas nuas das barcas,

e se inclina ao fogo, nascido nas manhas de domingo.

 

De extintas casas, nascem os ventos, trilhos por onde

nunca se passam. Tudo é ácido, e é doce, e é crível:

 

o levantar de voos de promíscuas palavras.

 

E bate, e bate forte esse cavalovento. Pupilas que

se cruzam pelas pontes, clareiras de raízes que se perdem,

crinas acinzentadas atravessam os astros.

 

Bate e bate esse pássarovento inventando nomes

assassinados. Verdes frutos que o orvalho guarda

sob as pálpebras, e outras águas devoram.

 

 

 

 

JORGE, Miguel.  Marbrasa.  Poesias.  Goiânia, GO: Agência Goiana de Cultura - Agepel, 2004. 180 p.  (Coleção José J. Veiga)  14x21 cm.  Projeto gráfico e capa de Josemar Caleffi.  Col. Biblk. Antonio Miranda

 

DEVORAÇÂO DOS DIAS

 

Como não devorar esses dias,

(consciência de mim), se ao nascerem

em mim, em mim se devoram?

 

Antes saber guardá-los, colher

o que nunca se sabe ou se adivinha.

 

Debruçam-se em gritos esses janeiros,

os sonhos maiores do que Andaluzia.

 

Pois aqui, nesta paisagem fria, debatem-se os

medos, mistérios incorporados a outros dias.

 

Melhor sonhar com amores imaginados como se é preciso.

Pois livres estão os touros, os mouros a se matar pelas favelas.

 

Talham-se corpos a ponta de faca, as bocas secas apagam

as flores azuis dos muros. Os pássaros ficam

à espera de que nunca anoiteça e vagam doídos

pelas ruínas.

 

Nunca se sabe dos passos dessas noites,

se não se veem as portas abertas dos dias.

Difícil fechar o mar, espesso modo de agonia.

 

 

Os VENTOS

 

Ritmo louco, os ventos. Pontas finas de lâminas

frias, sanhas de asas verdes de canas.

 

O que vai e vem os ventos levam sobre areias,

sobre pedras, difícil é sair de suas aragens.

 

(De curta emboscada, os ventos, é certo que fascinam)

 

Bicho de céu e chão, poderiam voar mais alto

como os pássaros à caça, a presa e suas garras.

 

Bate forte o vento sobre as portas nuas das barcas,

e se inclina ao fogo, nascido nas manhãs de domingo.

 

De extintas casas, nascem os ventos, trilhos por onde

nunca se passam. Tudo é ácido, e é doce, e é crível:

 

o levantar de voos de promíscuas palavras.

 

E bate, e bate forte esse cavalovento. Pupilas que

se cruzam pelas pontes, clareiras de raízes que se perdem,

crinas acinzentadas atravessam os astros.

 

Bate e bate esse pássarovento inventando nomes

assassinados. Verdes frutos que o orvalho guarda

sob as pálpebras, e outras águas devoram.

 

 

DE FLORES E DE CALÇADAS

 

01: Eis aí, o duro ofício de se descer aos infernos

e resgatar o nada do que se amou um dia.

 

Frutas abrem-se nuas aos gestos lascivos,

risos se desdobram em cortes e se calam.

 

Poucas são as cores abertas dessas flores,

venenos e véus sobre as calçadas, jogos

que se tocam nas harpas do dia.

 

O amor dos homens se esgarça nas alturas,

pelos disfarces dos voos, pelas asas da luxúria.

 

Pelo que se vê, pelo que se via, o toque

dos togados aflora a toca das coivaras,

aflora a dança das galáxias perdidas.

 

 

02: Enganam as pombas, as serpentes de

transparentes venenos. Os bichos de repasse

mostram-se como veias (como certas flores,

ou cães sem rabo), docemente dormentes.

Que Deus os guarde!

 

Mas há a parceria de cores que seja entre o cerrado

e as flores: perfume de uma rosa qualquer.

 

Fios de poeira a enrolar-se nos pés das gravatas.

 

03: As secas são cheias de nomes, as graves

urgências: não mais o mal das águas, não mais a fome,

que outra canção se irá cantando: com jeito

de roupa suja, caramuja.

 

As cacimbas, as caçambas, o que se fez:

as escadas, as escaladas nesta viagem ventaneira.

 

 

 

As surpresas por debaixo da mesa,

as águas navegam.

 

E pensar em outras flores não se pode,

que estas são plantas do cerrado,

rosas metálicas,

nunca dantes reveladas. 

 

 

BEM SABE GOIÁS DA SUA LINGUAGEM

                   

                    Para Leo Lynce, em memória

 

 

Ainda há quem te veste de aragem sagrada,

Goiás, os teréns, feito dentes de engrenagens,

a mapear teu rosto. Do outro lado,

o Araguaia te olha,

brancoacinzentadometalpássaro

domado numas ânsias.

 

Goiás é rio Bagagem, sombra das cruzes,

das almas que gritam seus nomes nas praças.

 

Goiás é rio, rosto em espelho,

enredos de céus e mares a caminhar

sobre leitos. Rude, ruge longe o afligir

das serras de dourados veios, mas a terra

que se queria santa, coisas que nunca vão

se explicar. O que se pensa, se bebe, se fala,

o que se tira arreado do barro: os copos que se fazem

de alumínio, mais a pinga que se tem ardente.

Canecas, arreios e bacheiros já usados em montarias,

estribos esporas, tropeiros.

Cachaçabranquinha. Tigela de fogo comida nas beiradas.

 

Sejam mais as mulheres a entoar cantos

de louvor a Maria, são pássaros de exato

presépio ou de folia.

 

Quentes as flores dos cafezais, os arrozais em cachos,

dormindo semi-abertos, sonambulam no chãoterra

feito tesouro criado entre quatro paredes, o pão necessário.

 

Há um cheiro, um gosto de sol no ar, Goiás.

E tudo parece novo, como uma confidência:

"Lindaura Mendes - Cabo Assumpção"

e, sob dois corações entrelaçados,

Sôdade do Rio dos Boi 5 / 5 / 22. Françisco."  

 

Nomes cravados na porteira,

cortados a canivete, "5/5/22"

feito anéis nos troncos, a fac

cravada na madeira, por se dizer,

igual estrela que se reparte.

 

Melhor deixar vestígios, a graça da eternidade

e a breve sombra do pássaro escondido em suas asas.

 

Melhor fora conservar teu Y, Goiás,

a louca forma de pássaro, narciso vago

e impreciso, beleza que há muito tempo

não se colhia. Melhor fora conservar-te

príncipe, Goiás, jeito bom de amadurecer

as flores,

igual outro país que se descobre, a febre

da paixão deitada em tuas faces.

 

Tem fome de vida, tua paisagem, Goiás.

 

Caminhos de chuvas, areias que nunca

tiveram donos, geométrico pássaro

talhado no fundo das águas a pulsar

transparente, tocado pela brisa, a modular-se

em erotizadas malícias.

 

De longe se olha a doçura de teu nome, doce

de manga no tacho de cobre, cheiro de pequi ardendo

no ar. O abrir-se do amarelo vivo que se consome

e não se morde. Nervuras de espaços na paisagem

que se apaixona, ousadas formas de sonhos

que prosseguem caminhando a sua história.

 

Goiás, doçura de tacho de cobre,

forma ousada de praias, os reflexos

aos milhares, o acordar de cores,

delírios que nunca se acabam. 

 

 

JORGE, MiguelPrófugos.  Goiânia: O Popular, 1990.   118 p. ilus.  14x21 cm.   Capa e ilustrações: DEK.  Prefácio de Carlos Nejar.  Inclui 8 cromos (col.) de Marcos Lobo.  Foto do autor na sobrecapa: Antonio Segatii.  Caricatura na falsa folha de rosto: Jorge Braga.  “Prêmio “Hugo de Carvalho Ramos”, 1989.   Col. Bibl. Antonio Miranda. 

 

LÁBIOS

 

No amor mais que no amor:

          estudado sorriso.

No ardor mais que no ardor:

          ateia fogo no jogo.

 

Polpa de pétalas

canto de pássaro vermelho:

iluminada gaiola.

 

No amor mais que no amor:

          fome que mata fome.

No furor mais que no furor:

          animal que come animal.

 

Alguma coisa leve/ que embala

alguma coisa breve/ como bala

pombas bombas feras

no silêncio rosado das esferas.

 

No amor mais que no amor:

          despertam os sentidos.

No ardor mais que no ardor:

          rosa entreaberta

          que perfuma e fala

          beija e se cala.

 

 

PÉS

 

Como os pés são loucos/chão e tato

Como os pés são fibras/calos ásperos

Como os pés são finos/lixa e língua

no ritmo de asas e dança.

 

Os pés guardam a ciência do corpo

 

          doce planta.

Sigilo de arma bem guardada

          pontes de cinco espadas.

 

E seguem caminhos juntos

no equilíbrio dos desejos.

 

 

 

 

JORGE, Miguel.  Os frutos do Rio.  Prefácio de Olga Savary. Ilustrações de Siron Franco.Diagramação: Laerte Araujo.   Goiânia: Editora Oriente, 1974.  134 p.  13,6x20 cm.  Col. Bibl. Antonio Miranda. 

 

PRAIA MORTA

 

esta praia morta

também é fruto do rio

cemitério de gaivotas

com seus ais

e nunca mais

 

esta praia morta

viajou horizontes

e se matou pelo rio

 

esta praia plana

esta praia plena

                       de triscos

                                     ciscos

                                             cacos

                                                     cascos

                                                               bicos
                                                       riscos

                                              triscos

                                   rabiscos

                        beliscos

 

reflete agoniando

a orla vermelha do rio

 

esta praia abriga vozes

abriga falas

e se cala

como quem perdeu a última palavra

 


 

 

BRITO, Elizabeth Caldeira, orgSublimes linguagens.  Goiânia, GO: Kelps, 2015.   244 p.  21,5x32 cm.  Capa e sobrecapa. Projeto gráfico e capa: Victor Marques.  ISBN 978-85-400-1248-6

 

 

POESIA SEMPRE. Número  31 – Ano 15 / 2009.  Rio de Janeiro: Fundação Biblioteca Nacional, Ministério da Cultura. 2009.  217 p.    ilus. col. Editor Marco Lucchesi.  Ex. bibl. Antonio Miranda

 

As sete regras do jogo

Futebol
 

01: Palavras adormecidas no peito gritam o legado do campo.

A grama, o ritmo, a rampa, os pés.
Olhos ligeiros cortam o corte da bola que rola:
o passe, o drible, a ginga, o chamamento de quem está ao lado.
A trave, o goleiro e o medo do mundo dentro dele.

O chute que se arrisca de longe: gol!
As vogais antes adormecidas voam de alguma boca: gooooooooool! 

 

O que se perde se ganha nas escancaradas janelas.
A fala de um é a negação do outro. Mais o risco da
plúmbea chuva na leveza luminar do campo.
A exata simetria das cores indiferentes ao destino dos homens

ignora o acordar da febre humana.
A bola é peixe na rede e tem escamas. Línguas se movem ávidas
de ganho. E o pálido retrato dos cantos que já nem se ouve
ficará retido no império das esquinas.


 02: A bola corre e salta e solta as apostas selvagens:
gestos de quem começa uma guerra.
Letras mortas, palavras em x, s, f, d, p, apesar do nada.
Bocas amargas de fé movem-se no fel dos olhos.
(Rios de cores correm sobre corposespaços).
O coração é um traço que já nem pulsa
e salta da boca para o braço.
Abraços de quem não se espera.
As causas e efeitos do gol erigidos
em fogo adormecem cedo nas praias frias.

Penso num cão sem pescoço e apresso o passo.
As largas redes dos que choram a tarde junto às muradas.
Nem tudo está perdido neste sol. Ninguém estranha por
assim morrer um jogador, por tudo que seja seu
coração. Amém!

 

 

 03: Alguém canta nas arquibancadas, palco de urras e assovios.
Tribuna de condenações. Entre infernos e céus o Limbo
que os aguarde! Ao seu tempo fecham-se bocas, calam-se
mãos, dir-se-ia de pratas. A imensa espera das falhas, dos fatos,
das fotos, das vaias. A geometria de uma realidade terna
a julgar anjos existencialmente nus.

 

 

04: Voam os meus versos: a bola voa pela metade.
Chutes morteiros no cérebro em ritmo lento
fora da área. Cacto espinhento na rede, a bola.
O comprido trajeto das palavras quando com
elas se faz o que antes não se fazia.

 

Ativar o sangue, os pés, a memória.

Ativar a pátria, os poltrões, as patas e suas crinas.

A febre abaulada da morte se instala em balas.

(Agentes de falsa linguagem estão por todas as partes.

A sanha americana da grana floresce

e sangra sobre a grama).

 

 

 

05: Era preciso tanto clamor?

O cerrar das cortinas em breve tempo,

apenas o frágil frémito daqueles que

não engolem a derrota.

Foram-se as ameaças, o suspenso viver

de quem sopra ouro com o umbigo e

se edifica. Furor de bicho, cabeçasobjetos

coladas às janelas.

 

O silêncio é um risco na memória.

Papéis sobre os espaços rolam.

A crua dança das horas nunca se acaba.

 

Por que rola com a bola os seios tão
calmos da amada? Não há testemunhas
destes pensamentos, e a cada instante
avançam mais e mais sobre a grama
e voam alto mais que a noite sobre
o amarelo devastado das coisas.

 

 

 

 

 

Página republicada em outubro de 2018; página ampliada em junho de 2020

 

 

 

 
 


 

 

 
 
 
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