POESIA GOIANA
Coordenação de SALOMÃO SOUSA
MARIA HELENA CHEIN
Nasceu em Goiânia, em 29 de janeiro de 1942. Fez os cursos básicos no Colégio Santo Agostinho. Na Faculdade de Educação, da Universidade Federal de Goiás, formou-se em Pedagogia, especializou-se em Orientação Educacional. Na Universidade Católica de Goiás, licenciou-se em Letras Vernáculas. Foi uma das fundadoras do Grupo de Escritores Novos de Goiás (GEN). Detentora do Troféu Tiokô, da UBE, seção de Goiás. Pertence à UBE, seção de Goiás. Professora aposentada de Português e Literatura, do Instituto de Ciências Humanas e Letras, da Universidade Federal de Goiás, onde também trabalhou como Coordenadora de Assuntos Culturais da Rádio Universitária.
Assis Brasil, na antologia A poesia goiana do Século XX, diz que “Maria Helena Chein cria uma poesia lírica simples, de estados sentimentais, a partir do eu do poeta, que concentra a sua visão intimista da vida e do mundo”. Dos poemas aqui expostos, dois são da referida antologia e dois da página virtual de Luiz de Aquino.
Bibliografia: Do olhar e do querer, 1974, este, prêmio Bolsa de Publicações Hugo de Carvalho Ramos, da Prefeitura Municipal de Goiânia; Joana e os três pecados, 1983; As moças do sobrado verde, 1986; Todos os vôos, 1997.
TEXTOS EM PORTUGUÊS / TEXTOS EN ESPAÑOL
COMEMORAÇÃO DOS SENTIMENTOS
(ou Testemunho da Paixão)
Olho-te com meus olhos
(de seda, que sou leveza)
e te encontro
nos ,meus cantos e muros,
enquanto me dispo
para beber teu beijo.
E te recebo, voraz,
testemunhando tua geografia
de picos e sulcos,
por onde me deito, pomares,
e alcanço todos os horizontes;
nos frutos que me dás,
entre uvas e amoras,
escorre em minha boca
tua doçura de flauta.
Tomas posse dos meus respiros,
das certezas e perguntas,
do meu ventre de lua
se liqüefazendo em suores;
tomas posse do meu corpo
e em tua concavidade
eu me solto e me vou
em vôos de primavera.
No retorno te contemplo
e te bebo mais ainda,
entre silêncios e vinhedos,
onde o único som
é o do nosso fruir.
Te descubro e me acendes
e nossa igualdade é a descoberta
de tumultos e vontades.
Eu, em teus alicerces,
tu, em minha luz,
nos resguardando
das amarras ou divisões
para não nos perdermos
em atavios ou cinzas.
E se te bebo mais ainda,
me beijas e me esparges
com teu vinho,
e te resgato
para minha estação
de manhãs e setembro,
onde queremos, queremos
CIRCUNSTACIAL
Oferta-se flor
a um homem
quando ele
é a terra prometida.
Quando amanha,
semeia, recolhe
e dá ao minuto
a alegria
da intimidade.
Quando penetra o poema
e é seu motivo,
enigma e transe.
Faz ranhuras,
mas sabe curar.
Surge e desaparece,
não está no dia,
mas é presença.
Permite-se cumprir
as fantasias de um coração
que se externa
em cada roçar de pele
ou mover de boca.
Esse homem especial
eu reinvento
a cada hora.
E se renova
nos atributos
do incompreensível,
como a noite
e seus deslumbramentos.
ALELUIA
Vim tomar do meu vinho.
Dá-me de beber
enquanto é noite
e sou estrela.
Consome minha sede
para que amanhã
eu não seja só aquário,
mas rio de peixes
e desovas.
Do teu vinho
quero todos os goles,
e minha garganta
permaneça úmida
e a boca se escancare
em risos.
Dá-me de beber
enquanto há um reino
e sou rainha.
O INSTANTE
O instante é minha busca
deste instante.
Não um instante
ocasional, involuntário,
desses costumeiros,
que nem sinto,
de tão fugazes, insípidos.
O instante
de minha busca
é o que me liberta
em ritos
de despropósitos ou pudores,
onde me ilumino,
me desarmo
e me acrescento.
O instante
que procuro
é de um instante apenas,
e deve vir enrolado
ou com lua,
cheio de águas,
ou de espelhos,
com voz de brisa
ou de CD.
O que anseio
é esse instante
que rasga, marca
e sentencia
com o poder de chama,
carregando-me como estrela
para qualquer noite.
Mas o instante,
mesmo em florescência
e transe,
mesmo que prenda,
adoce, exalte,
não é para sempre.
Ele se desarvora,
se descarrilha,
fica tênue.
E pulsa branco
na lembrança.
======================================================================
TEXTOS EN ESPAÑOL
MARIA HELENA CHEIN
Nació em Goiânia, Goiás, Brasil, em 29 de enero de 1944. Pasó la infancia en Anicuns, ciudad de sus padres. Volviendo a Goiânia, hizo los estúdios secundarios y se graduo en Pedagogía y Orientación Educacional, además de Letras Vernáculas, em las Universidades Federal y Católica de Goiás. Se desempeña como orientadora educacional y profesora de Portuguès y Literatura. Participó activamente del GEN (Agrupación de Autores Nuevos), cuando dio sistematización a sus trabajos literários, en la década del sesenta. Empezó por la poesía, habiendo guardado los originales de un libro, pasando para el cuento, sin abandonar los poemas, que son personales, llenos de savia y de emoción verdadera. Ha publicado Do Olhar e do Querer (cuenos, 1974), que obtuvo el premio de la “Bolsa de Publicações Hugo de Carvalho Ramos”, del Ayuntamiento de Goiânia y de la Unión Brasileña de Escritores, Sección de Goiás. Varios poemas suyos figuran en la antologia Poemas do GEN (1966), y el cuento “Do Outro Lado da Cortina” aparece em la Antologia do Conto Goiano (1969); “Rodízio”, em Súmula da Literatura Goiana, de Augusto Goiano y Álvaro Catelan; “Do Olhar e do Querer”, en la Antología do Novo Conto Goiano (1971); “Do Sobreviver”, en la revista Ficção (n. 18, 1977); y “Estratégias”, en Elas por Elas, de Sônia Coutinho (1978).
TRADUCCIÓN Y NOTA INTRODUCTORIA DE
ADOVALDO FERNANDES SAMPAIO
CONFLICTO
Me siento extraña
en ese mundo tan grande
y conocido mío
de largos días pasados.
Pero yo lo veo
demasiado hostil,
y el cielo juega
de hacerme miedo
con sus nubes oscuras
(oscuras como el camino
de los que no vuelven).
Nada está como dejé,
excepto la tristeza vertical
que hiere mi voz,
impidiéndome de sonreír
buenos días
al caminante
de las mañanas azules,
de pasos extrañamente iguales
(iguales al mostrador
del despertador de sueños).
Yo continuaré extraña,
girando pensamientos,
orvallando mi inutilidad
en la búsqueda de una sonrisa
indefinible,
que me una
a las aleluyas del vivir.
(En Poemas do GEN, 1966)
CONVERSIÓN DEL ESPLIN
En mi depresión del domingo
Coloque bigotes, dientes y oídos
Cololqué un hombre, um pie de mango
Y me acosté debajo
(al pie del mango)
coloqué en mi depresión
el mes de enero cambiado
salpicado de amarillo y ceniza
oh, dejémonos de todo eso, no queiro pelearme
oh, no me llames, no me pidas, olvídame
coloqué el coche, 2140 km rodados
el ómnibus lleno de olores y zapatillas
el asfalto caliente doblando esquinas
coloqué mío de repente estoy sola
sola, solamente, más solita
mi hijo sentadito comiendo pepino
sin saber de la tasa predial anual
de la cuenta de la luz
de la cuenta del gas
de la cuenta del agua
(un día él va a crecer)
coloqué el frío en la ducha
tú mirándote el espejo
yo viéndote por entero
tus “grillos”, tus lamentos, sin ningún grito
tu cráneo, tu cara
llegué a ver el fêmur
escondido entre músculos y poder
tu poder que no me cabe
no me admite, no me agarra
pero el domingo sí
te coloqué mi depresión, em mi abatimiento
y te engullí con furia
seiscientos kilos de bondad y crueldad
la risa perdida en el bodegón de la callejuela
tu revés donde tiré nervios y hados
tu polvo donde escribí mi nombre y apellido
y nadie vio, ni tú
en mi postración del domingo
coloque tu cascabel y mi seso
abierto con la alta rotatividad
del rotativo doctor
quedo el precio de las sabiosantas ideas (tuyas y mías)
para ser cambiadas a trueque de una vida entera.
ENSAYO PARA UN CARNAVAL DIFERENTE
Carnaval
rito de plegaria
hombre cansado
manufacturado
culpado — embrutece
torturado — padece
renegado — crece
remediado — decrece
conventillado — baja
baja
¡basta!
en el carnaval
rito de plegaria
el hombre se entristece.
Extraído de la obra
VOCES FEMENINAS DE LA POESÍA BRASILEÑA
Goiânia: Editora Oriente, s.d.
BRITO, Elizabeth Caldeira, org. Sublimes linguagens. Goiânia, GO: Kelps, 2015. 244 p. 21,5x32 cm. Capa e sobrecapa. Projeto gráfico e capa: Victor Marques. ISBN 978-85-400-1248-6 BRITO, Elizabeth Caldeira, org. Sublimes linguagens. Goiânia, GO: Kelps, 2015. 244 p. 21,5x32 cm. Capa e sobrecapa. Projeto gráfico e capa: Victor Marques. ISBN 978-85-400-1248-6
Ex. bibl. Antonio Miranda
MÃE
Mãe é milagre que se doa
na força do maior amor.
Sei do seu infinito
do seu jogo inteligente
se repartindo em mil
para abrigar um único mundo:
seu filho.
ALELUIA
Vim tomar do meu vinho
Dá-me de beber
enquanto é noite
e sou estrela.
Consome minha sede
para que amanhã
eu não seja só aquário,
mas rio de peixes
e desovas.
Do teu vinho
quero todos os goles,
e minha garganta
permaneça úmida
e a boca escancare
em risos.
Dá-me de beber
enquanto há um reino
e sou rainha.
OFÍCIO DE SER
Tenho o tempo
e meu compasso
e todas as fábulas
que me servem.
Sou anárquica
à minha maneira,
singela quando quero,
obtusa em ausências.
Sou o outro lado
do que fui,
rastro e susto
de uma vida que amadurece.
Não sou anjo,,
nem vento,
mas um arquivo
que se revela.
Sou Helena.
Abrigo de todas as Marias.
EXTASIANTE
O som do mar
refina meus cabelos
e me sinto cativa
no êxtase de uma noite
que começa.
Puro recolhimento
o estar comigo,
na delícia de me achar.
*
VEJA e LEIA outros poetas de GOIÁS em nosso Portal:
http://www.antoniomiranda.com.br/poesia_brasis/goias/goias.html
Página publicada em junho de 2021
Página republicada em maio de 2008
|